Corria o ano de 2010, quando, de seu quarto no Rio de Janeiro, o ator e comediante Felipe Neto começou a ganhar popularidade na internet. Na ocasião, ele fez um vídeo descompromissado criticando os artistas do mundo pop teen. Com uma edição tosca e uma produção caseira, ele caiu no gosto dos internautas com comentários histriônicos sobre o cantor canadense Justin Bieber (“tem vozinha de menino castrado e cabelo afeminado”) e sobre os fãs do filme de vampiros românticos Crepúsculo (“feito para garotas de 13 anos virgens que gostam de Colírios da Capricho”).

Fez tanto, tanto sucesso que foi parar na tevê fechada e aberta, ganhando programas no canal Multishow e um quadro no Esporte espetacular, na TV Globo. Nos anos 1980 e 1990, poderia se dizer que Neto chegou ao auge de sua carreira. No século 21, não. Em 2011, ele fundou a Parafernalha, uma produtora de vídeos de comédia para a internet que conta, atualmente, com 5,9 milhões de assinantes no YouTube. Seu faturamento estimado, só com a publicidade que roda nos vídeos, é de até US$ 1,3 milhão ao ano. Aos 26 anos de idade, Felipe Neto está à frente de uma nova revolução nos vídeos da internet.

Ele lidera a maior rede brasileira de canais do YouTube: a ParaMaker, uma parceria com a americana Maker Studio. As pessoas estão chamando essa nova onda de “multichannels networks”, ou MCN, da abreviatura do termo em inglês. Em vez de criar toda a programação, as redes recrutam centenas, às vezes milhares de produtores para criar conteúdo exclusivo para a internet. A ParaMaker, por exemplo, conta com 3,5 mil canais. Para cada um deles, oferece diferentes tipos de serviços, que vão desde a busca por anunciantes até ajuda para produzir vídeos de forma mais profissionalizada.

“A geração que cresceu no mercado digital quer consumir vídeos sob demanda”, diz Neto. Fenômeno que ganha corpo no Brasil, as MCNs já são uma realidade nos Estados Unidos, atraindo gigantes da mídia americana. Em março deste ano, a Walt Disney Company pa­­gou US$ 500 milhões pela Maker Studio, que conta com 9,5 bilhões de visualizações por mês de seus vídeos. O negócio pode chegar a US$ 950 milhões, caso determinadas me­­tas sejam atingidas. Não se trata de um negócio isola­do. Em maio, a Dream­works pagou US$ 117 milhões pela Awesomeness TV, que prioriza conteúdo para adolescentes.

Nomes como Warner Bros, Hearst e 21st Century Fox também estão investindo em MCNs. “O que parecia ser o futuro da mídia, há quatro anos, se tornou rapidamente a nova realidade”, escreveu George Strompolos, CEO e fundador da Fullscreen, uma das maiores MCNs dos EUA, logo após ela ser vendida para a AT&T e para o Chernin Group, por um valor estimado em US$ 300 milhões. “É um novo mundo, tanto que Hollywood e a Madison Avenue (referência à avenida de Nova York onde estão as agências de publicidade) começaram a abraçar essa mudança.” A Fullscreen, que hoje administra 50 mil canais, está de olho no Brasil.

A missão para organizar a operação local coube a Gregory Strompolos, irmão de George. Ele é quem desde setembro do ano passado tem vindo ao Brasil periodicamente para tomar contato com os sete mil canais locais que já fazem parte da MCN. A joia da coroa por aqui é o Galo Frito, especializado em paródias, que está entre os dez com mais assinantes do Brasil. Apesar de a Fullscreen ter crescido na sombra do YouTube, Strompolos revelou à DINHEIRO que a empresa planeja desenvolver uma plataforma própria de vídeos. “Queremos fazer algo parecido com o modelo do Netflix”, afirma Strompolos. No passado, a Fullscreen chegou a atender, por seis meses, o canal de humor Porta dos Fundos.

Hoje o grupo do humorista Fábio Porchat é uma estrela solitária, sem estar ligado a nenhuma MCN. A trupe, que já conta com nove milhões de assinantes, fatura estimados US$ 2,8 milhões anuais só com a publicidade. Mas essa é apenas uma parcela das receitas, que incluem um programa de tevê no canal por assinatura Fox, lançado na terça-feira 14, peça de teatro, livros, filmes e vídeos exclusivos feitos para empresas. A argentina Juliana Alga­ñaraz, ex-diretora de operações da Fox e da Discovery, foi contratada para ser a presidente de uma holding que organizará os negócios do Porta dos Fundos.

ENTRETENIMENTO Comprado em 2006 pelo Google, por US$ 1,7 bilhão, o YouTube em seu início era um repositório de vídeos piratas. Tanto que, na época, muitos levantaram dúvidas sobre o negócio. Seus fundadores, os americanos Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, nunca souberam ao certo como ganhar dinheiro com o site em seus primeiros anos. Hoje, o site de vídeos chama a atenção pela receita que gera. Em 2012, foi US$ 1,2 bilhão. Neste ano, a estimativa é que alcance US$ 3,4 bilhões, de acordo com a consultoria EMarketer. Por mês, um bilhão de pessoas ao redor do globo acessam o YouTube e consomem coletivamente seis bilhões de horas de vídeos.

A cada minuto, mais de 100 horas de novos programas sobem na plataforma do Google. “Queremos fazer do YouTube mais que um mero repositório de vídeos, e sim um destino de entretenimento”, afirma Alvaro Paes de Barros, diretor de conteúdo do site no País, que conta com 60 milhões de visitantes únicos mensais, a segunda maior audiência do mundo. “Isso só é possível com os criadores recebendo bem pelo seu trabalho para investir.” É no que está apostando a Amazing Pixel, rede brasileira que tem entre os seus fundadores os responsáveis pelo site Jovem Nerd, Alexandre Ottoni e Deive Pazos.

Quem toca a operação é Gustavo “Guga” Mafra, oriundo da FTPI Digital, que faz a área comercial de sites populares como Casal Sem Vergonha, Papo de Homem, além do próprio Jovem Nerd. “Não estamos interessados em sair agregando canais, o foco é dar valor aos que temos”, diz Mafra. Além do canal do Jovem Nerd, a Amazing Pixel conta com o Nerdologia, que ensina ciência através de exemplos pop, e Nostalgia, que resgata histórias de videogames, heróis, séries, entre outros. Gradativamente a Amazing Pixel vai ampliando seu foco também para a comédia, com o 5algumacoisa e o Jacaré Banguela. Com isso, Mafra já diz ter faturado R$ 1,5 milhão nos nove primeiros meses deste ano.
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A nova casa do videoclipe

Por Diego Marcel

O videoclipe consagrou a emissora americana MTV. Mas, nos últimos tempos, o canal que seduziu os jovens nos anos 1980 e 1990 perdeu o charme. No ano passado, sua audiência minguou 32% nos Estados Unidos. Os clipes agora colecionam bilhões de visualizações no YouTube. A empresa que melhor aproveitou esse movimento da música em direção à rede foi a americana Vevo, uma joint venture da Universal Music, Google, Sony Music Entertainment e Abu Dhabi Media. Em 2013, a empresa teve 3,5 bilhões de visualizações. Operando no Brasil há dois anos, 86% dos usuários brasileiros passam por seus domínios mensalmente.

O que a plataforma online quer, agora, é transformar esses números em dinheiro. Muito focada em clipes, a Vevo tinha faturamento baseado em publicidade. Os anúncios aparecem em inserções antes da execução do vídeo no YouTube. Em 2013, foram US$ 150 milhões faturados – uma média de US$ 0,04 por exibição – valor que ainda é dividido com os artistas. O CEO da empresa, Rio Caraeff, no entanto, disse que nos próximos três anos o faturamento da sua companhia deve atingir a marca de US$ 1 bilhão. Como? Copiando a fórmula que fez a MTV ficar famosa.

“Lançamos uma grade de programações sólida, com especiais e conteúdo relevante para o usuário”, afirma Fátima Pissarra, diretora-geral de operações da Vevo no Brasil. “Iremos nos estruturar definitivamente como um canal de tevê musical na rede.” Com as produções, a plataforma começará a desenvolver novas formas de faturamento. “Produziremos programas patrocinados e vamos incluir produtos nos clipes e produções que faremos”, diz Pissarra. A Vevo do Brasil anunciou uma parceria com a som Livre, o que inclui dezenas de artistas nacionais ao seu portfólio, entre eles Claudia Leitte, Gusttavo Lima, Jorge & Mateus, Michel Teló e a sensação infantil Galinha Pintadinha, um dos canais com mais assinantes do YouTube.