11/04/2014 - 21:00
Antes de criarem a rede de fast- food italiana Spoleto, em 1999, os empresários cariocas Mario Chady e Eduardo Ourivio viviam, como se diz na linguagem popular, com a corda no pescoço. Equívocos na administração do antigo restaurante Guilhermina, refinado endereço do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, mantinham a empresa no cheque especial durante a maior parte do ano. Como a receita não estava dando certo, os dois amigos decidiram mudar todos os ingredientes do negócio. Fundaram o Grupo Trigo e criaram três restaurantes de cardápios distintos: o Spoleto (massas e risotos), a Koni Store (culinária japonesa) e a Domino’s Pizza.
Da esq. para dir: Henrique Pamplona (Domino’s Pizza); Antônio Moreira Leite (Spoleto);
Michel Jager (Koni Store) - Mão na massa: os atuais diretores de marca do Grupo Trigo assumirão
os negócios em 2015 num modelo de gestão horizontal
Deu certo. Mesmo assim, 15 anos depois, a receita vai mudar novamente. Com quase 500 franquias abertas, Chady, hoje com 48 anos, e Ourivio, 47, decidiram que vão se afastar do comando da empresa, que faturou R$ 732 milhões em 2013, para ocupar os principais cargos no conselho de administração do grupo. Em janeiro de 2015, os atuais diretores de marca, Henrique Pamplona, 42 anos, Michel Jager, 32, e Antônio Moreira Leite, 37, terão a missão de continuar alimentando o balanço do Grupo Trigo como presidentes, em um modelo de gestão mais horizontal. “Eles são gente nossa e possuem o DNA do Grupo Trigo”, afirma Chady.
“E quem entra na empresa sabe que pode se tornar um CEO.” Toda a confiança do presidente e co-fundador em sua equipe é resultado do “Nhoque da Fortuna”, programa de recrutamento de novos sócios e líderes do grupo. “Queremos desenvolver os talentos dentro de casa”, afirma Moreira Leite, atual responsável pela marca Spoleto. “Nossa intenção é que os líderes da empresa entendam todo o processo produtivo.” A credibilidade do trio que assumirá a companhia surgiu do bom desempenho de suas marcas nos últimos anos. Os executivos foram fundamentais para o crescimento médio de 20% ao ano, desde 2008.
Prato cheio: a marca Spoleto, de culinária italiana, responde por 60% da receita da companhia
O maior negócio é, disparadamente, o Spoleto, que representa quase 60% do faturamento da empresa e mantém 337 restaurantes em todo o País. Já Pamplona comanda a Domino’s, dona de uma receita de R$ 100 milhões e 87 pizzarias. A Koni Store, de comida japonesa e com 70 lojas, dirigida por Jager, tem vendas equivalentes às da pizzaria. Neste ano, os executivos terão a missão de manter a taxa de crescimento acima de 20%, com a abertura de 150 unidades. Para isso, cerca de R$ 35 milhões serão destinados a ações de marketing das três marcas e também ao aumento da capacidade de produção da fábrica de suprimentos, como massas e molhos, e ao aprimoramento de seu centro de distribuição, ambos localizados no Rio de Janeiro.
O investimento nas lojas virá dos próprios franqueados, que pagam, em média, R$ 400 mil para abrir um novo estabelecimento. Se o plano de sucessão dos sócios Chady e Ourivio der certo, o Grupo Trigo deverá ultrapassar, segundo eles, a barreira do R$ 1 bilhão de faturamento em 2015. O cenário, no entanto, é de um mercado com menos apetite. O setor de franchising em alimentação cresceu 16,6% no ano passado, com R$ 23 bilhões em vendas. Mas esse número deve desacelerar, segundo a Associação Brasileira de Franquias.
“O número deste ano foi uma surpresa positiva e nos forçou a rever estimativas”, diz Gustavo Schifino, vice-presidente da entidade. “O setor vai continuar crescendo, mas não no mesmo ritmo.” Embora o Grupo Trigo esteja preparando um novo modelo de gestão, com três executivos no comando, as decisões continuarão sendo tomadas com o aval do conselho de administração. “O que faremos será desvencilhar a imagem dos donos, garantindo a continuidade do negócio”, afirma Pamplona, da Domino’s. “Os fundadores Chady e Ourivio confiam nessa geração para tocar ainda melhor o que eles criaram”, diz Jager,
da Koni.