09/02/2005 - 8:00
Antes eles tinham um banco. Agora, têm fazenda, hotéis, restaurante, concessionária de carros e uma locadora de automóveis que está entre as cinco maiores do País. O sobrenome da família é conhecido: Wallace Simonsen. O do banco também: Noroeste. O patriarca que comandava os negócios nos tempos de mercado financeiro, Jorge Wallace Simonsen Jr., hoje prefere dedicar o seu tempo ao rebanho de 1.200 cabeças de gado selecionado da fazenda de 92 alqueires localizada em Campinas, a 90 km de São Paulo. O carro-chefe dos novos investimentos, a locadora de veículos LocarAlpha, está nas mãos de um de seus herdeiros, Marcello, de 37 anos. Com menos de 10 anos de existência, a empresa já encostou nas líderes que disputam esse mercado há mais de quatro décadas. ?Se levarmos em conta somente a frota própria já estamos em terceiro lugar?, afirma. Não é para menos. Quando entrou em operação, em 1995, a LocarAlpha tinha 40 veículos. Hoje são 5,2 mil, e a meta é terminar 2005 com um total de 6,5 mil. A evolução do faturamento veio na mesma proporção: passou de R$ 36 milhões em 2003 para R$ 60 milhões no ano passado. ?Esperamos crescer mais 30% este ano.? Só para ter uma idéia do seu peso, todos os demais investimentos da família (incluindo os hotéis da rede Brasil, o restaurante francês Freddy, a concessionária de semi-novos e a fazenda de gado nelore) faturaram, juntos, R$ 8 milhões em 2004.
É bom esclarecer que a aparente aposentadoria no campo não tirou o pai, Jorge, do centro das decisões. ?Funcionamos como o conselho de uma empresa. Nos reunimos, todos dão opinião e meu pai dá a palavra final?, explica Marcello. A locadora, aliás, foi um investimento decidido em conjunto numa dessas ?assembléias familiares?. Na época, Marcello e o irmão, Ricardo, trabalhavam no Noroeste e decidiram mudar de ramo. ?Eu tinha de me dedicar mais que os outros funcionários para poder ser promovido?, reclama, lembrando dos tempos em que era gerente e almejava uma vaga na diretoria da instituição. ?Achei melhor sair antes da venda e mudar de ramo. Eram muitos herdeiros, ao todo 28, e preferi evitar confusão?, disse, em tom de brincadeira, mas lembrando o imbróglio que até hoje atormenta a vida dos ex-controladores do banco.
O Noroeste foi vendido por cerca de US$ 500 milhões para o espanhol Santander em agosto de 1997. Na época, era uma instituição lucrativa, com 90 agências, 350 mil clientes e ativos de mais de R$ 4 bilhões. Um bom negócio para ambos os lados e a idéia de futuro garantido para os ex-controladores. Mas, poucos meses depois, já em 1998, os novos administradores descobriram um desfalque de US$ 242 milhões. Após muita dor de cabeça e uma intensa investigação (da qual participaram até a Interpol, o FBI e a britânica Scotland Yard) provou-se que o desvio foi arquitetado pelo então diretor da área internacional do banco, Nelson Sakagushi. Ele, aliás, está até hoje preso na Suíça após ter assumido a operação. A moral da história é que o prejuízo ficou com as famílias Wallace Simonsen e Cochrane, que até hoje tentam recuperar os seus milhões na Justiça. Após anos de esforços e de gastos que superam R$ 1 milhão com advogados e custos judiciais, cerca de US$ 100 milhões já foram recuperados. ?Na minha conta bancária ainda não entrou nada?, afirma Marcello. ?Prefiro trabalhar e acreditar nas expectativas dos nosso novos negócios.? Se a tendência de expansão se mantiver, os Wallace Simonsen, em breve, não serão mais lembrados como um clã sem-banco.