20/07/2011 - 21:00
Quando se fala em mercados emergentes, qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça? O mais provável é pensar nos Brics. Essa sigla representa as iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, e surgiu em um estudo realizado pelo economista Jim O’Neill, do banco americano Goldman Sachs, em 2001. O’Neill previu que essas economias iriam ultrapassar os principais países desenvolvidos em poucos anos, devido a seu porte territorial, às grandes populações e às taxas elevadas de crescimento. Desde então, os Brics tornaram-se um sinônimo de retornos elevados para investidores espalhados pelo planeta e alvo permanente das atenções do mercado. No entanto, os integrantes desse bloco não são os únicos pontos no mapa que o investidor deve olhar com interesse.
Outros países estão em ascensão, e o desempenho de seus mercados vem superando largamente o dos Brics originais. Um levantamento feito pela gestora americana State Street Global Advisors comparou o MSCI Bric – índice da bolsa de Nova York que mede o desempenho dos componentes da sigla – com o desempenho de um conjunto de países formados por Chile, Colômbia, República Checa, Egito, Hungria, Israel, Peru, Polônia, Filipinas, Tailândia e Turquia. Os resultados foram surpreendentes. Comparando a evolução dos dois grupos, desde 1997, a gestora percebeu que o segundo deles apresentou uma rentabilidade 39% superior à do primeiro.
Conflitos na Colômbia (acima) e Indonésia (abaixo): a instabilidade política e econômica
dos novos emergentes aumenta o risco dos investimentos
“São países com excelentes perspectivas de crescimento”, diz Chris Laine, gestor de carterias da State Street. “Sem muito alarde eles reformaram suas economias para torná-las mais favoráveis ao mercado e oferecem valor, crescimento e retornos sólidos.” Há vários outros fatores de atratividade: essas economias possuem um mercado consumidor em alta, e muitas delas estão trabalhando na melhoria da dívida pública. Além disso, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 4% e 5% para os próximos anos – bem acima da média de economias mais maduras – é mais um fator positivo.
Outro benefício é que a possibilidade de fusões e aquisições e a realização de ofertas iniciais de ações nos próximos anos tende a atrair mais capital para eles, valorizando suas ações. Claro, esse retorno maior não vem de graça. Cada uma dessas economias possui suas particularidades. De modo geral, apesar dos avanços, os investidores estão sujeitos a algum tipo de instabilidade política ou econômica. A Coreia, por exemplo, tem de enfrentar os maus humores periódicos da vizinha do Norte. Indonésia e Malásia ainda estão às voltas com turbulências políticas, e a transparência das empresas deixa a desejar.
Todos esses fatores podem aumentar muito o risco para o investidor. Por isso mesmo, as ações de empresas listadas nesses países apresentam mais volatilidade. Como investir? O investidor brasileiro encontra pouquíssimos produtos no mercado doméstico que são dedicados a investimentos internacionais, e a oferta é ainda mais restrita quando se trata dos novos Brics. Uma alternativa é procurar fundos de investimento multimercado que aplicam parte de seus recursos em países estrangeiros (até 20%, de acordo com a legislação da Comissão de Valores Mobiliários). “O movimento é incipiente, com opções para investir na China”, diz Luis Felipe Andrade, diretor da BlackRock, no Brasil.
A gestora americana atualmente administra US$ 3,6 trilhões em todo o mundo, mas não divulga sua exposição aos mercados emergentes, dizendo apenas que a cifra é “relevante”. “Nossos investimentos nessa área são, principalmente, na América do Sul, em particular no Brasil”, afirmou Andrade. Outra possibilidade é adquirir cotas de fundos negociados em bolsa (exchange traded funds, os chamados ETFs). Em Nova York, por exemplo, é possível investir em fundos de ações da Tailândia e da Indonésia.
Para isso, vale o ritual de qualquer investimento internacional. O investidor precisa abrir uma conta em uma instituição financeira autorizada a operar no país de sua escolha e enviar o dinheiro para fora, sem esquecer de fazer todos os registros no Banco Central e na Receita Federal. Optar por esses intermediários, em vez de mandar o dinheiro diretamente para o país, reduz o risco, diz o consultor financeiro Fernando Costa. “É uma maneira de ganhar com as boas perspectivas desses países, mas reduzindo a insegurança cambial e regulatória”, afirma Costa.
De acordo com Andrade, da BlackRock, a empresa planeja trazer produtos de outros países por meio de um ETF ou fundos multimercado. Tudo vai depender do apetite do investidor brasileiro, que ainda é pequeno. “Os juros reais ainda são elevados no Brasil. Por isso, ainda vai levar alguns anos para termos uma tendência mais forte de investimentos nesses novos mercados”, diz Andrade. Assim, é bom se apressar: quando muitos investidores perceberem as vantagens dos novos Brics, os preços vão subir rapidamente e reduzir a oportunidade de ganho.