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Irmãos Klien: Richard (à dir.) comandará o conselho da Multiterminais, enquanto Thomas (ao lado) será o novo presidente da empresa, após o negócio com o fundo Gávea, de Armínio.

 

Premissa número um: Armínio Fraga, que já comandou os fundos do bilionário George Soros, entende de dinheiro. Premissa número dois: quando se trata de investir o seu próprio capital, o ex-presidente do Banco Central é cuidadoso. Dito isso, conclui-se que há algo de muito valioso na Multiterminais. Foi essa a empresa escolhida por ele para receber seu primeiro grande investimento na economia real. Embora o valor não tenha sido revelado, o fundo Gávea, de Armínio, sacou cerca de R$ 125 milhões para ter 25% das ações. O mais surpreendente, porém, foi a velocidade da decisão. Bastaram duas reuniões, em um mês. ?Eles nos trouxeram exatamente o que procurávamos?, disse Armínio à DINHEIRO. ?Um grande ativo, na área de infra-estrutura, onde seremos minoritários, mas na companhia de gente experiente e com muita credibilidade?. Os responsáveis pela façanha foram os irmãos Klien: o expansivo Richard, de 57 anos, e o contido Thomas, sete anos mais jovem. Os dois empresários cariocas são sócios da Santos Brasil, o maior complexo portuário do País, e também da Multi-Rio e da Multi-Car, os terminais de contêineres e de veículos da capital fluminense. ?Conseguimos um grande acordo, com um sócio de qualidade inquestionável?, festejou Richard.

 

Mas o que explica uma decisão tão rápida de Armínio? A razão principal é a janela que se abriu na infra-estrutura depois que a Santos Brasil lançou ações, em novembro do ano passado. ?Nosso IPO mudou os paradigmas?, diz Richard. A Santos Brasil, com receitas de R$ 450 milhões, começou a ser negociada com um valor de mercado de R$ 2,7 bilhões e hoje já vale quase R$ 4 bilhões. A aposta é que a Multiterminais, que faturou R$ 206 milhões no ano passado, repita a trajetória. ?Lançar ações é uma das nossas alternativas?, admite Armínio. E basta uma simples regra de três para enxergar o potencial do negócio. Se a Multiterminais seguir o padrão da Santos Brasil, ela valerá R$ 1,3 bilhão. Com isso, os 25% do fundo Gávea poderiam chegar a R$ 325 milhões ? ou seja, a perspectiva de valorização é de 160%, num prazo relativamente curto.

 
  

 

 

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Armínio Fraga: “Eles ofereceram exatamente o que nós procurávamos” diversificação do maior grupo têxtil começou com a CSN e pode atingir o auge com a compra da Corus.”

 

Um dos aspectos mais curiosos do negócio foi a forma de negociação. Antes da venda para a Gávea, a Multiterminais era dividida em duas partes iguais ? metade da família Klien e metade de Geraldo Sá, que ajudou a fundar a empresa em 1986 e era o seu presidente. Os sócios tinham um acordo com uma cláusula chamada drag along. Isso significava que, se um deles tivesse uma proposta de aquisição, o outro era obrigado a vender suas ações, a menos que comprasse a parte do sócio em 30 dias. Foi esse o prazo que os Klien tiveram para levantar recursos. ?Havíamos acabado de sair do IPO e entramos na negociação?, diz Richard. Quatro investidores fizeram ofertas. Além da Gávea, entraram na disputa o Pactual e dois fundos internacionais. No fim, os Klien compraram 25% ? e chegaram a 75% da companhia ?, enquanto Armínio levou 25%. Um fator que pesou na decisão da Gávea foi o fato de um dos sócios da Multiterminais estar na ponta compradora, ou seja, apostando no futuro do negócio. Agora, Thomas será o presidente e Richard irá para o conselho. ?Nossa aposta é que haverá uma consolidação dos ativos portuários e queremos estar à frente desse processo?, diz Thomas.

 

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Passado e presente: Navio da Transroll, que pertenceu à família, e o veleiro Jaya, que é o grande hobby de Richard.

 

 

Os dois irmãos vêm de uma família com tradição empresarial. São netos de Leopold Fink, que fundou uma firma de mudanças em 1924. O pai deles, Paul Klien, ajudou a transformar a empresa numa companhia de logística integrada. A Multiterminais foi a primeira a operar ?portos secos? no País. Eram terminais retroportuários, que resolviam a ineficiência dos portos públicos. O grande salto veio nos anos 90, quando surgiu a privatização. E Richard Klien foi protagonista de mais uma negociação relâmpago. Leu nos jornais que Daniel Dantas, do Opportunity, estava interessado no setor, bateu à sua porta e disse que queria ser seu sócio. Dantas fez uma só pergunta: ?Você põe seu precioso dinheiro nisso?? Klien disse que sim e, em 1997, com fundos de pensão e Citibank, eles pagaram US$ 250 milhões pela Santos Brasil. Depois, os Klien arremataram sozinhos os terminais do Rio de Janeiro. ?Criamos uma relação com o Opportunity que funciona há dez anos com base num aperto de mãos?, diz Richard. Isso fez com que Richard vivesse uma situação especial um ano atrás, quando os fundos estavam em guerra com o Opportunity e decidiram sair da sociedade. Habilidoso, o primogênito dos Klien foi o mediador de um acordo que parecia impossível. Primeiro, convidou os fundos a participar do IPO, mas a resposta foi negativa. Em seguida, negociou um preço que, à época, parecia justo. ?Ele foi leal e não traiu seus sócios?, diz Arthur Carvalho, do Opportunity. ?O Richard sempre foi muito construtivo e costurou uma operação que deixou todas as partes satisfeitas?, reforça Alberto Guth, da Angra Partners, que foi o negociador dos fundos. O negócio acabou sendo muito bom para a família Klien. Quando os fundos saíram da Santos Brasil, a empresa foi avaliada em R$ 600 milhões. Seis meses depois, na Bovespa, havia mais que triplicado seu valor.

 

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“Hubs” portuários: Richard prevê que Santos será um porto concentrador de cargas, com conexões para outros terminais.

 

 
  

Depois de descobrir as maravilhas do mercado de capitais, Richard sonha alto. Ele, que criou a Transroll, uma empresa brasileira de navegação, pensa em voltar ao setor. Sua tese é que, com o crescimento do comércio exterior, o Brasil terá ?portos concentradores?, como são os hubs aeroportuários. E Santos será o principal, recebendo navios gigantescos. De lá, as cargas seriam redistribuídas, em embarcações menores, por cabotagem, às outras regiões do País. Esse é um mercado que já cresce 60% ao ano desde 2000. ?Hoje, nós enxergamos o negócio portuário como algo muito maior do que a movimentação no terminal?, diz Richard. ?Meu sonho é chegar para um cliente e dizer o seguinte: entrego seu produto em qualquer ponto do Brasil.? Educado na Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, Richard pretende ser chamado no futuro de ?Sr. Contêiner?. Ele diz que foi graças a essa invenção, surgida há 50 anos, que o mundo conheceu a globalização. ?Foi o contêiner que deslocou a produção e fez da China o que ela é?, diz ele.

 

Na vida pessoal, esse bilionário dos portos é também audacioso. Quando garoto, disse ao pai que queria ser rico e aprendeu com ele que só chegaria lá se invertesse a equação. ?Primeiro, pense em fazer algo que seja útil e a riqueza virá como conseqüência?, disse Paul. Dezessete anos atrás, apaixonou-se de forma arrebatadora por Renata e decidiu convidá-la para uma ida ao balé de Maurice Béjart. Ela negou o convite e, ainda assim, ele deixou uma entrada e uma orquídea no apartamento onde ela morava. Richard foi só ao teatro e, num dos entreatos, a encontrou. Casaram-se, têm duas filhas e, quando sobra tempo, sobem a bordo do veleiro Jaya, de 54 pés. A última viagem foi às Ilhas Cyclades, na Grécia. ?Eu jamais aceito um não como resposta?, diz Richard.

R$ 1,3 bilhão
é o valor projetado da empresa dos Klien após um futuro IPO na bolsa

 
R$ 2,7 bilhões
foi o valor do IPO da Santos Brasil, que já vale quase R$ 4 bilhões