29/11/2013 - 21:00
O ano de 2013 ficará marcado na trajetória do mercado de luxo brasileiro como aquele em que o setor ganhou novos sotaques. Antes concentrado fortemente no eixo Rio-São Paulo, o segmento neste ano se consolidou em outras praias. Um processo de regionalização que colocou, no radar das maisons e empresas internacionais, capitais de norte a sul do País. A conta é simples. Some o maior poder de compra conquistado nos últimos anos pela classe média e um maior número de brasileiros embarcando para o Exterior e, voilà, temos um consumidor com mais referências e um cartão de crédito para pagar a perder de vista.
Para ilustrar, para agradar à patroa agora só com uma bela bolsa Louis Vuitton – de preferência, parcelada em dez vezes no cartão, sem juros. O que fez a indústria do luxo global, então? Passou a mirar o seu canhão de novidades para as regiões do Brasil onde a turma está com dinheiro no bolso, mas que antes precisava se deslocar até São Paulo para ter acesso às grifes. Do outro lado, o empresariado percebeu que o encontro entre a fome por um sapato Prada e a vontade de comer com os olhos um colar da Tiffany&Co estava prestes a acontecer – e criou cenários favoráveis para essa cultura se desenvolver. Leia-se shopping centers. Em Recife, por exemplo, o RioMar, que fez um ano de vida em outubro, surpreendeu ao abrir suas portas com uma Burberry dentro.
Ôxi, que ousadia! Fortaleza ganhou um RioMar também, do mesmo grupo pernambucano JCPM. Brasília já contava com um Iguatemi, dos Jereissati de São Paulo. Em Belo Horizonte, a valorização do bairro de Lourdes, com suas lojas de rua, chama a atenção dos executivos. E, no sul, a grande novidade do ano é o Pátio Batel, com um line-up de lojas sofisticado que já conquistou clientes até de fora do Estado. Em Balneário Camboriú (SC), por exemplo, uma operadora de turismo deve lançar ainda este ano um pacote para compras no Batel. Um transfer de helicóptero entre as duas cidades para atender à demanda das endinheiradas locais. O drama vai ser informar às damas o limite de peso da bagagem da volta.
E tem ainda as praças no interior dos estados. No Rio, Macaé e Niterói. Em São Paulo, Ribeirão Preto e Campinas. Segura que a peãozada do agronegócio chegou com tudo! No setor hoteleiro, o fenômeno é parecido. O primeiro resort Four Seasons no País, adivinhe, não será em nenhum balneário badalado, mas na praia do Paiva, a 15 km de Recife. Colaboraram para a escolha os preços hiperinflacionados do mercado imobiliário do Sudeste e a grande carência de áreas bem localizadas disponíveis nas costas do Rio e de São Paulo. Em recente painel apresentado pelo empresário e consultor Carlos Ferreirinha, do Instituto MCF, na capital paulista, ficou claro que a regionalização é uma alternativa de crescimento interessante para as marcas que investirem nessas cidades.
São essas novas frentes que sustentarão a expansão desse mercado interno que, em 2013, cresceu 12%. O que será o fiel dessa balança, então? A capacidade de adaptação das grifes em compreender os Brasis dentro do Brasil. A começar pelas diferenças de clima e de cultura entre as regiões. A mesma roupa vendida como sexy para uma compradora no Norte-Nordeste pode não funcionar no corpo das sulistas. E vender sapatos de couro para quem vai de chinelo até em restaurante estrelado vai ser complicado também. De toda forma, os novos sotaques no setor são bem-vindos. Revela um mercado mais maduro, gerando novo consumo, mais emprego, mais dinheiro na economia. Tem coisa melhor, sô?