30/07/2003 - 7:00
Armani, Giorgio Armani. Aos 69 anos de idade, dono de uma fortuna pessoal estimada em US$ 1,7 bilhão, esse italiano de Piacenza tornou-se sinônimo de elegância. Ícone da alta costura, ele reinventou a moda masculina ao criar paletós sem forro e menos estruturados. No lugar das roupas engomadas entraram peças mais despojadas. O sucesso do estilista foi tão grande que os maiores conglomerados da moda tentaram comprar a marca a peso de ouro. Foram mal-sucedidos. Os empresários Bernard Arnault, do grupo LVMH, e François Pinault, da Gucci, brigaram para seduzi-lo. Em vão. ?As grandes corporações estão passando por vários problemas?, disse Armani à DINHEIRO. Em vôo solo, seu império expandiu-se para as áreas de móveis, jóias e até chocolates. Ao todo, são mais de 322 lojas, 13 fábricas, 4,7 mil empregados diretos e um faturamento de 1,6 bilhão de euros. No Brasil, já são quatro lojas em apenas cinco anos de operação. ?Em breve abriremos uma Armani Casa no País?, revela o criador. De seu escritório na Via Borgonuovo, em Milão, o estilista concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO.
DINHEIRO ? Como foi o início da sua carreira?
ARMANI ? Quando deixei o serviço militar, em meados dos anos 50, meu primeiro emprego foi numa loja de departamento de Milão chamada La Rinascente. Comecei arrumando as vitrines e depois me tornei comprador de moda masculina. Foi aí que descobri a minha verdadeira profissão.
Como era a moda naquele tempo?
O mercado era muito limitado e todos os ternos tinham cortes iguais. As peças eram rígidas, desconfortáveis e monótonas.
Como o sr. saltou da loja de departamento para o
império de hoje?
Ofereceram-me o cargo de estilista na grife Nino Cerruti. Estava no trabalho há pouco tempo quando meu amigo Sergio Galeotti convenceu-me a montar o próprio negócio.
Não houve medo de sair do certo para o incerto?
Empolguei-me com a idéia porque era jovem, ingênuo e não tinha nada a perder. Vendemos um velho Volkswagen, abrimos um pequeno escritório e contratamos a nossa primeira funcionária ? uma estudante. Nós até a incentivamos a continuar os estudos, pois não sabíamos se a empresa sobreviveria.
Qual foi o resultado?
Para a nossa surpresa, a primeira coleção foi um sucesso. Sérgio era o homem dos negócios e eu, apenas criava. Quando ele morreu [no fim dos anos 80] tive de aprender a me virar sozinho. Tinha que criar e comandar a parte comercial e financeira da empresa. Essa foi a fase mais difícil da minha vida.
Foi difícil atravesssá-la?
Descobri que poderia lidar com a situação apenas seguindo
os meus instintos.
Como assim?
Sempre mantive os pés no chão, ponderando minhas decisões, direções, e sabia aonde queria que a empresa chegasse. Não sou do tipo que entra em um novo mercado para ser o estilista número um. Também não gasto tudo o que tenho só para ter certeza que um concorrente não chegará lá.
Vestir astros de Hollywood e até a seleção inglesa de futebol foi uma estratégia de marketing bem-sucedida?
Não há dúvidas de que vestir celebridades traz fascinação e atenção da mídia. Eles representam um sonho e tudo o que eles fazem geram seguidores. Mas nunca busquei uma celebridade com o intuito de usá-la como marketing.
O sr. não os procura?
Tenho a sorte de manter boas relações com personalidades talentosas de diferentes setores, mas elas sempre vieram a mim, seja para fazer pedidos ou apenas para buscar sugestões.
O que elas querem?
Gostam das minhas roupas porque elas realçam sua personalidade. Além disso, sentem-se seguras e bonitas quando vestem minhas criações. Minha filosofia de moda é a evolução, não a revolução. Auto-confiança é tudo.
Como o sr. definiria o seu estilo?
Elegância casual e discreta.
E o estilo dos europeus, americanos e brasileiros. Há diferenças?
Não gosto de dividir em países e nações. O mundo tornou-se um lugar pequeno. Os três mercados possuem similaridades e diferenças, mas todos têm uma característica em comum: gostam de qualidade combinado à opção pelo estilo pessoal em vez de tendências sazonais.
Hoje é possível ver a marca Armani em móveis, jóias e chocolates. Eles fazem sucesso como as roupas?
Sem dúvida. Quando um cliente escolhe seus móveis, acessórios ou até o chocolate, incorpora as similaridades aplicáveis à minha moda.
Esses novos negócios são tão importantes quanto a alta costura?
São importantíssimos. A Armani Casa, os acessórios e os chocolates têm feito sucesso porque dediquei grande parte do meu tempo na pesquisa e seleção dos produtos, assim como faço com as roupas. Na moda, como em tudo que se faz com estilo, menos é mais.
O sr. teve a oportunidade de vender a sua marca por milhões de dólares, mas não vendeu. Se arrepende?
Há alguns anos, muitos consultores me aconselhavam a vender a empresa. Sempre confiei nos meus instintos e achava que não deveria ouvi-los. Vendo os problemas pelos quais as grandes corporações estão passando, percebo que tomei a decisão certa.
Qual é a verba que o sr. tem para investir no grupo?
Não posso reclamar. Diríamos que tenho o suficiente para viver confortavelmente.
Há novos projetos?
Existem muitos projetos em vista. Atualmente, estou muito ocupado desenhando a nova coleção da Armani Casa e dos acessórios das linhas Giorgio Armani e Empório Armani. Elas cresceram muito e consomem muito tempo.
Como o sr. se sente ao ver suas coleções expostas no museus Guggenheim, em Nova York, Bilbao, Berlim e Londres?
A maior satisfação é ver que as minhas peças continuam atuais, mesmo que tenham sido desenhadas nos anos
70 e 80.
Como o sr. vê o mercado brasileiro?
Minhas pesquisas confirmaram que o mercado brasileiro é muito valorizado na América. Há uma grande demanda de produtos de luxo e de moda. Os brasileiros não têm medo de viver suas emoções. Suas escolhas refletem uma personalidade quente e vibrante.
Existem planos de expansão no Brasil?
Em breve a Armani Casa estará presente no mercado brasileiro.