15/06/2004 - 7:00
Fabricar manequins de vitrine é uma atividade de risco no Brasil. Que o diga Guilherme Andrade, dono da Expor, a maior empresa do ramo na América do Sul. Um dia ele precisou entregar pessoalmente a encomenda de um cliente. Colocou uma boneca nua dentro do carro e partiu. No semáforo, parou um ônibus lotado a seu lado, e os passageiros se amontoaram junto ao vidro para ver melhor a beldade de plástico que circulava toda sem vergonha com o garotão. À distância, bem que parecia
de verdade. O ônibus inclinou-se e quase virou sobre o carro. ?Minhas pernas tremiam de medo, mas fiquei feliz?, relembra Guilherme. ?Foi a prova de que nosso produto é bem feito.? A história da Expor é assim, cheia de ?causos? contados às gargalhadas por seus proprietários ? Guilherme e seu irmão, Marcos. Mas por trás das brincadeiras e de um negócio aparentemente simples há uma empresa sólida que abastece as maiores grifes do mundo.
A Expor fatura R$ 10 milhões por ano e acaba de embarcar para Moscou 30 manequins que enfeitarão a primeira loja da popstar americana Jennifer Lopez. O desenvolvimento das peças levou nove meses. J. Lo exigia que as bonecas fossem feitas à imagem e semelhança da modelo que estampa as campanhas de marketing de sua grife. Em Los Angeles, a moça foi fotografada em 360º, e as imagens, enviadas por e-mail à Expor. O escultor da empresa produziu um protótipo em argila, que foi transferido para o computador e submetido à aprovação da cantora. Só então as manequins entraram em produção na fábrica de 4.500 m2 e 65 operários em Avaré (SP). Esse contrato deve alavancar as exportações (elas já representam 30% das vendas) e ajudar o faturamento a crescer 40% até o final de 2005.
A maior cliente internacional da companhia é a Tommy Hilfinger, que, em cinco anos, comprou mais de 2 mil manequins da Expor. Cada peça custa entre R$ 140 a R$ 830, enquanto o preço médio praticado lá fora é de US$ 800. Essa vantagem competitiva possibilitou que a empresa brasileira se tornasse fornecedora de outras grandes marcas, como Donna Karan e Ralph Lauren. No Brasil, a lista inclui Fórum, Zoomp, Richard?s, Crawford, Siberian, C&A, Renner, Riachuelo. ?Os manequins se tornaram tão descartáveis quanto a moda?, diz Guilherme. ?Antigamente, as lojas os trocavam a cada sete anos. Hoje, a cada dois. Nós soubemos aproveitar isso.? A Expor foi a primeira a criar uma alternativa à fibra de vidro, tradicional e frágil matéria-prima dos manequins. Com bonecos feitos de resina plástica, a empresa eliminou a necessidade de manutenção, que pesava barbaridade no bolso dos lojistas.
A Expor se destaca por estudar o conceito das marcas e desenvolve produtos customizados. Assim, já fez manequins surfistas, em posição de ioga, com tatuagem, piercing, cabelo ?black power?… ?Hoje, é até aceitável que o manequim se destaque mais do que a roupa?, diz Guilherme. ?Ele é um anzol poderoso que fisga o consumidor para dentro da loja, onde são tomadas 60% das decisões de compra.?
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VOCÊ SABIA QUE… |
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…os manequins exportados para os EUA têm o bico do seio lixado para não parecerem sexy demais? |
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…um sheik comprou 30 manequins da Expor para decorar o seu palácio em Dubai? |
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…antigamente, os manequins não usavam sapatos porque eram apoiados sob um pino fixo colocado na sola dos pés? |
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…que a Expor solucionou esse problema criando um suporte desmontável que pode ser retirado na hora de vestir o boneco? |