28/10/2016 - 0:00
Em 2015, o Aché Laboratórios, um dos maiores do Brasil, com atualmente quatro unidades industriais, 4,5 mil funcionários e 300 marcas de medicamentos, estabeleceu um audacioso plano para chegar em 2030 como um dos mais inovadores e sustentáveis do País. E, ao contrário do que se esperava, a crise econômica não freou a estratégia coordenada pelo executivo Paulo Nigro, o CEO da empresa. Em 2016, com R$ 200 milhões disponíveis para aquisições e investimentos em pesquisa, o Aché, que acaba de completar 50 anos de existência, comprou dois laboratórios, o Tiaraju, do Rio Grande do Sul; e o Nortis, do Paraná. Além disso, deve fechar o ano com uma receita líquida próxima de R$ 3 bilhões (em 2015, a receita líquida atingiu R$ 2,3 bilhões). Paulo Nigro falou à coluna:
Como o senhor tem lidado com a crise? Não atrapalhou os planos do Aché?
Há dois anos, tomamos a decisão de apertar o cinto como todas as pessoas fazem em casa. Mas acertamos com os acionistas que não demitiríamos. Ao contrário, contrataríamos em áreas estratégicas, como a comercial, a de inovação e a regulatória. No momento de crise não se deve tirar o foco do mercado, é preciso estar próximo dos clientes e apostar na inovação. Por isso, contratamos mais 200 pessoas. Com isso, quando a crise passar, vamos acelerar mais rápido.
O Aché apertou o cinto de que forma?
Não tiramos o foco do nosso planejamento estratégico de longo prazo. Se você acredita no plano, não é uma situação difícil no curto prazo que vai te fazer desistir dele. Fizemos aquisições e esforços para manter o plano. Como fizemos isso? Uma das nossas iniciativas estratégicas é a busca pelo aumento de produtividade, pela redução de desperdício e pela redução do gasto com energia. Olhamos para dentro das nossas linhas de produção e encontramos bolsões de oportunidades para atacar. Mesmo com o aumento do custo das matérias-primas, com o dólar em alta, estamos segurando os preços no mesmo patamar do ano passado. Conseguimos absorver o aumento da inflação, em torno de 10%, com a redução de custos.
O senhor poderia dar um exemplo concreto?
Aumentamos a produtividade das fábricas em cerca de 10%. A principal iniciativa foi a implementação do World Class Manufacturing, uma metodologia japonesa de melhoria contínua. Ela consiste em pequenos ganhos diários de eficiência através de mudanças de layout, de treinamento e de modificações em equipamentos. No final de um período longo, ela proporciona um grande resultado. Fizemos uma redução de 50% no nível de desperdício nos últimos dois anos. Tínhamos, por exemplo, uma máquina com um sensor que a fazia parar várias vezes. Por meio de um grupo de estudos da fábrica, encontramos outro sensor mais adequado. Resultado: tivemos um incremento de 30% na produtividade. Sou um cara incomodado com o desperdício. Estamos atacando isso de uma maneira muito estruturada.
Qual é a sua expectativa para 2016?
Enquanto o mercado farmacêutico está crescendo a uma média de 12%, nós deveremos fechar o ano com crescimento superior. Espero alcançar uma receita líquida de R$ 3 bilhões.
A expansão internacional está nos planos para os próximos anos?
Sim. Tínhamos presença em 12 países, mas com uma atuação relativamente passiva. Fazíamos licenciamento de produtos através de parceiros locais. No ano passado, mudamos isso e nos tornamos proativos. Desenvolvemos uma equipe dedicada à internacionalização para definir os mercados em que entraremos e como atuaremos. Hoje, o mercado externo representa pouco para a gente, 2% do resultado da companhia. E é muito pouco se comparado com o nosso ativo industrial. Temos uma capacidade de produção de 250 milhões de unidades e mais de 300 marcas no nosso portfólio. O plano é fazer com que o mercado externo seja responsável por 20% do nosso faturamento, até 2030.
E para governo, como são as vendas?
Vendemos pouco para o governo, menos de 3% da nossa receita. Mas isso não quer dizer que o mercado institucional não é importante. Ele é um mercado tão grande quanto o de varejo. Portanto, não está descartado. Por isso, no início desse ano, criamos uma área institucional que visa ao mercado privado de hospitais e licitações com governos.
Diante do que se viu com a Operação Lava Jato, o senhor não fica preocupado em negociar com os governos?
Não, e te digo por quê. Eu sei como trabalho e sei que, da forma como eu trabalho, estaremos tranquilos.
(Nota publicada na Edição 991 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Luís Artur Nogueira)