03/08/2005 - 7:00
Um novo conceito está se formando entre aqueles que não querem deixar o passado para trás. Empresas e especialistas em restauração lançaram uma cruzada para aumentar o número de itens históricos, obras de arte e monumentos recuperados no Brasil. As tentativas vão desde a sensibilização de colecionadores tradicionais até a atração de cidadãos comuns interessados nessa área. Os restauradores querem provar que pagar até R$ 15 mil pela recuperação de um quadro, por exemplo, é um custo que pode ser evitado caso o colecionador tenha um programa regular de manutenção do seu acervo. Em outros termos: é melhor agir antes do estrago para não gastar muito depois. O curioso é que há muita gente colecionando e poucos preservando. É comum encontrar peças que perderam características originais em função da falta de política de conservação. “Preservar é melhor que restaurar”, admite Raul Carvalho, dono de um ateliê de restauro.
Carvalho preserva coleções particulares de clientes como Emanoel Araújo, ex-secretário da Cultura de São Paulo e fundador do Museu Afro-Brasil. Para conservar uma coleção, Carvalho faz um acompanhamento diário do ambiente e, quando necessário, executa pequenos reparos para retirar manchas, cupins e outros agentes nocivos à pintura. São poucos os colecionadores brasileiros afeitos a esta cultura de conversação dos seus acervos. “Só nos procuram quando percebem algo estranho e muitas vezes é tarde demais”, diz Bernadette Ferreira, sócia de um ateliê especializado em obras de óleo sobre tela.
Como existem exceções, há colecionadores que têm a lógica dos restauradores para cuidar das preciosidades. O consultor das ONU, Roberto Suga, encaixa-se nesse perfil. Apaixonado por carros antigos ele protege seus veículos com extrema dedicação. Ele contempla quatro belos exemplares, entre Cadillacs e Mercedes da década de 70, estacionados numa garagem especial construída em sua casa. Com paredes duplas, que evitam umidade, o espaço é ainda equipado com dois desumificadores para evitar o mofo nos carros. Para mantê-los funcionando, o “pai coruja” dispõe de mão de obra especializada para reparos que não mexam na originalidade do carro. “Tenho um mecânico exclusivo para cuidar da manutenção e quando preciso mexer na carroceria recorro a um restaurador”, diz o colecionador. O preço por essa paixão: oficinas especializadas cobram até R$ 200 por hora de serviço.
Ações desse tipo também não faltam na área pública. Estados e municípios permitem que empresas e até pessoas físicas adotem monumentos históricos, mas a burocracia e a falta de vontade política dificultam a propagação dos conceitos básicos de preservação. A Companhia de Restauro, em São Paulo, compartilha de um projeto que pretende transformar menores de rua em inspetores de monumentos públicos em São Paulo. ?Falta só convencer algum patrocinador?, diz Francisco Zorzete, diretor da empresa. Segundo Zorzete, na capital paulista apenas 10% do patrimônio cultural público está sendo conservado. O restante está deteriorado. Há casos, porém em que o patrocinador opta por abrir mão da isenção fiscal para investir na conservação. É o caso da Klabin, empresa do setor de papel responsável pela Praça Ramos e pelo Monumento a Carlos Gomes concebido em 1922 por Luigi Brizzolara em homenagem ao Centenário da Independência do Brasil e localizado no centro da capital paulista. A empresa investiu R$ 250 mil para restaurar e desembolsa, em média, R$ 10 mil mensais para prevenir o local da ação de pixadores e do tempo.