DIAS ATRÁS O IBGE DIVULGOU um dado surpreendente: pela primeira vez na história do País, a região Centro- Oeste está no topo da lista da renda nacional. Para trás, o povo do Cerrado deixou as até então líderes regiões do Sul e Sudeste, entre elas São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Além de possuir a classe média mais próspera, os ricos dos rincões do Brasil são mais abonados até mesmo entre os mais providos. A novidade, segundo o que apontou a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, está fundamentada em dois fatores: a pujança do agronegócio e a festa de reajustes do funcionalismo público nos altos escalões do Executivo de Brasília. Um funcionário graduado ganha na capital federal cerca de R$ 15 mil mensais. Entre 2003 e 2006, os reajustes oscilaram entre 15% e 80%, acima da inflação. O fato, considerado “justo” pelo ministro Paulo Bernardo, resultou num fato pitoresco: mesmo sem praia, Brasília é a segunda cidade brasileira com o maior número de embarcações por habitante. Sorte do Lago Paranoá, que abriga um verdadeiro festival de barcos de luxo.

Mas não é só do dinheiro público que vive a capital federal. Exemplo é a socialite Ana Maria Gontijo, 61 anos. Mineira de Lavras, ela chegou ao Distrito Federal em 1963 e logo diz: “Não recebi nenhuma herança. O que temos é fruto de muito trabalho em Brasília”. Casada há 38 anos com o megaempresário da construção civil José Celso Gontijo, ela o acompanha desde os primeiros tijolos que levantaram o patrimônio da família. “Quem acreditou nesta terra e trabalhou arduamente conseguiu vencer”, avalia. Ela conta que passou diversas madrugadas ajudando o marido a virar o concreto, na manhã servia café com leite e pão com manteiga para os trabalhadores. Atualmente, a JC Gontijo fatura R$ 180 milhões ao ano e Ana Maria se dedica agora à filantropia e às artes. Na sua coleção pessoal, ela tem telas de Di Cavalcanti e do mineiro Alberto Guignard.

As histórias de sucesso vão muito além da capital federal. Maior produtora de grãos do País, a região Centro-Oeste também se transformou num verdadeiro celeiro de empreendedores. Que o diga o empresário Otaviano Pivetta, dono da Vanguarda Participações. Gaúcho de Cárceres, divisa com Santa Catarina, o ex-caminhoneiro partiu em 1982 rumo a Mato Grosso até que parou no município Lucas do Rio Verde, médionorte do Estado. Plantou arroz, criou porcos, fez fretes e aos poucos montou um império. Seus negócios faturam US$ 330 milhões por ano. Pivetta pretende chegar aos 350 mil hectares nos próximos anos, uma área duas vezes e meia maior que a cidade de São Paulo. “Mas, na verdade, sou apenas um agricultor que cresceu”, diz.

Quem também fez fortuna plantando e colhendo foi o agricultor Eraí Scheffer Maggi, de Rondonópolis (MT). Com 220 mil hectares de soja, ele está entre os maiores do País, ao lado de Pivetta e do primo ilustre, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. Seu império pessoal fatura mais de US$ 280 milhões por ano e, segundo ele, as oportunidades estão, mesmo, no Centro-Oeste. “O trabalho é duro e só os mais eficientes sobrevivem, mas é um bom negócio”, diz. Scheffer é dono do Grupo Bom Futuro e sua empresa deve ingressar na Bolsa de Valores até 2010. “Estamos preparados, esperamos apenas o melhor momento”, avalia.

A pesquisa mostra, contudo, que não são apenas os empresários e funcionários públicos que crescem na região. Os Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás lideram os ganhos de renda no Brasil. Nesses locais, os rendimentos médios cresceram 7,96% no ano passado, chegando aos R$ 1.139 por mês. O valor é 3,73% superior aos R$ 1.098 registrados no Sudeste e 88% maior que a média nordestina. “Há cargos muito bem remunerados nessas regiões”, explica o gerente da pesquisa mensal de emprego do IBGE, Cimar Azevedo. Um exemplo é Leonardo Slhessarenko, diretor de TI da Vanguarda Participações. Ele trabalhou na operadora de telefonia Claro e foi um dos responsáveis pela implantação de seu sistema financeiro. “Mudar da telefonia para o agronegócio é realmente um desafio imenso”, diz. Quanto ele ganha? “O bastante para valer a pena mudar dos grandes centros para uma pequena cidade de Mato Grosso”, brinca. Sinal de que as oportunidades, realmente, mudaram de lugar.