Hebe Camargo ainda se lembra do garotão de 19 anos que entrava apressado nos estúdios de tevê carregando os ?testemunhais?. Nada mais eram do que os pacotes de merchandising com a lista de produtos que a apresentadora iria mostrar ao vivo. O dia-a-dia do garoto era visitar empresas e voltar correndo para o set de filmagem. Nome do moço: Otávio Mesquita. Hoje, aos 42 anos, Mesquita continua fazendo o mesmo trabalho de merchandising. Com uma diferença: é dono do próprio nariz. Agora ele conquista a simpatia e o dinheiro das grandes empresas para bancar seus programas e seu salário. ?Eu tenho o espaço na tevê, negocio os patrocínios para o programa e divido os ganhos com a emissora que me contrata?, resume o
publicitário-empresário-apresentador. Estima-se que o âncora do A Noite é uma criança, da TV Bandeirantes, embolse R$ 400 mil/mês. Como Otávio Mesquita, outros ?astros? do microfone estão fazendo fortuna como empreendedores eletrônicos. São eles: Ramy Moscovic, Amaury Júnior e Luiz Antônio Galebe. Desse time, ninguém tira menos do que R$ 2 milhões ao ano.

Mesquita é dono de uma produtora que faz e vende programas para a Rede TV, além de gerenciar sua carreira de apresentador na Bandeirantes. ?Para a emissora é um excelente negócio. Ela só custeia a produção e o apresentador se paga?, diz o empreendedor. É o próprio quem senta à mesa para negociar com anunciantes. Na lista de patrocinadores figuram nomes como Renault, Kaiser, Empório Armani. Mesquita fica com
cerca de 40% das receitas. Discípulo de Mesquita, Ramy Moscovic é adepto do ?fazemos qualquer negócio?. Depois de um ano fora do ar, há dois meses ele voltou a apresentar o Estilo Ramy na Rede TV. ?Não me importo se o dinheiro entra na forma de patrocínio ou de matéria paga?, afirma esse israelense naturalizado brasileiro, 41 anos,
ex-executivo de uma rede americana de hotéis e cassinos.
Dentro dessa estratégia, pululam no programa dele ilustres desconhecidos dando entrevistas sobre suas empresas nas festas da aristocracia paulistana. Ramy diz que cobre os eventos porque eles dão boa audiência. Mas também são ótimos lugares para faturar. Sempre um convidado pede (e paga) para aparecer. ?Eu faço a entrevista, deixo ele falar o tempo que quiser?, conta Ramy. ?No final, aviso: meu senhor, nada disso vai ao ar; amanhã alguém do meu departamento comercial entrará em contato para acertar os detalhes?. Entendam-se por ?detalhes? R$ 5 mil por um minuto e meio de bate-papo exibido e mais R$ 300 de cachê do apresentador.

Esses valores estão na tabela de preços formulada pela Rede TV e que é usada tanto pela emissora quanto pela produtora de Ramy, a LL Produções. É ela que banca o programa e entrega à Rede TV uma fita pronta para ir ao ar. Toda a receita é dividida meio a meio. Hoje, quatro patrocinadores fixos seguram o Estilo Ramy. Cada um tem direito a 44 comerciais de 30 segundos que rendem, no mínimo, R$ 540 mil mensais. Tirando o custo da produção e a parte da Rede TV, Ramy fica com R$ 2 milhões ao ano.

Já o inventor da coluna social televisiva, Amaury Jr., trabalha diferente. Ele também tem a sua produtora, a Call Me, que entrega à Record fitas finalizadas do seu Programa Amaury Jr. Mas todos os custos da empresa são absorvidos pela emissora. O apresentador recebe salários de R$ 150 mil por mês e fica com metade da receita publicitária gerada pela Call Me ? o que dá mais R$ 50 mil. Esse dinheiro vem de festas que ele é contratado para mostrar (R$ 26 mil por oito minutos de exibição) e de anúncios.

Luiz Antônio Galebe começou alugando horários na tevê e vendendo espaços publicitários com seu Shop Tour. A diferença é que Galebe comanda um shopping eletrônico e não um programa de entretenimento. O Shop Tour nasceu em 1987, na TV Record.
Tinha 10 minutos diários e meia dúzia de lojistas-anunciantes.
?Nesta época, eu vendia almoço para pagar a janta?, lembra
Galebe. Passados 15 anos, o homem virou um pequeno gigante da televisão. Tem a concessão de uma emissora de UHF, a TV Shop Tour, e 12 retransmissoras espalhadas pelo País. Já são 800 anunciantes. Cada cliente compra pacotes de merchandising semanais que custam entre R$ 650 e R$ 5 mil. Para mostrar todo mundo, Galebe usa 24 horas da sua própria estação e, em São Paulo, aluga 80% da grade do Canal Brasileiro da Informação, de João Carlos Di Genio, do Objetivo. Segundo o mercado, esse aluguel não sai por menos de R$ 1 milhão por mês.