Um ambiente favorável vem sendo aos poucos construído na economia brasileira. Os sinais surgem por todos os lados. Um dos mais significativos foi o aumento no índice de confiança da população – o maior desde 2014 – prenunciando (quem sabe!) uma retomada do consumo que, por tabela, pode despertar um novo ciclo de crescimento, com mais produção, abertura de empregos e investimentos. Nesse mesmo caminho está o indicador que aponta um recuo no volume de dívidas das famílias. O Banco Central divulgou que o endividamento em relação à renda, nos 12 meses até junho último, caiu 2,2 pontos percentuais, para algo em torno de 43,7%.

Pode parecer pouco, mas número assim não era visto desde 2012. De lá para cá só piorou. Hordas de brasileiros foram ficando com as contas no vermelho e controlaram o impulso por compras. A reviravolta, com a queda de endividamento, é promissora porque sinaliza, senão uma folga orçamentária, ao menos um equilíbrio das contas. Precondição para que esse público volte a apostar em grandes projetos. A compra da casa própria, por exemplo. O setor de construção civil está reaquecendo na carona da procura por crédito imobiliário.

As vendas no varejo, de uma forma geral, registraram em agosto passado a primeira alta desde abril de 2015. De móveis a eletrodomésticos, aumentou a procura por tudo. E uma das explicações pode estar baseada na queda do desemprego. Ainda tímida, dada a gigantesca taxa que se criou na área, porém demonstrando que o indicador parou de piorar. Na região metropolitana de São Paulo, locomotiva da produção nacional, o recuo foi de 0,2%. Em todo o Brasil, a inflação desacelerou e já há quem preveja que ela fique abaixo do teto da meta em 2017, algo que o governo Dilma não conseguiu durante o mandato.

Os economistas são unânimes em apontar que a diminuição da inflação abre margem para uma revisão dos juros. A aposta no corte da taxa Selic é significativa. Serão seguidos cortes – dizem eles -, até que em meados do próximo ano o País possa estar convivendo com uma taxa abaixo de dois dígitos. O impeachment da presidente Dilma é a causa mais concreta para a volta do otimismo. Mesmo empresários de multinacionais, como Shell, Fiat e Hyundai se animaram a retomar projetos e foram ao Palácio do Planalto, na semana passada, reiterar a Michel Temer que os investimentos no mercado interno serão mantidos ou expandidos.

A combinação de todos esses fatores arma um colchão de conforto mas não será suficiente se o Congresso, em especial, não fizer a sua parte aprovando o quanto antes a PEC do teto dos gastos, encaminhada pelo governo Temer. É a partir daí que o Brasil poderá entrar definitivamente no rumo. Nos últimos dias, estimativas davam conta de 360 votos favoráveis à PEC na Câmara dos Deputados. Que os senhores parlamentares usem do bom senso e confirmem o voto nesse sentido.

(Nota publicada na Edição de 987 da Revista Dinheiro)