28/04/2004 - 7:00
Luiza Dal Ben tem uma rotina espartana. Acorda diariamente às 6h30 para uma jornada de trabalho que não termina antes das 23h30. Ela é presidente de uma das mais conceituadas clínicas de atendimento domiciliar de enfermagem do Brasil, a Dal Ben. Além disso, duas vezes por semana dá palestras para executivos e ainda freqüenta os bancos escolares da Universidade de São Paulo, onde conclui tese de doutorado em sua área de atividade. Lá vai Luiza. Tiziano, seu marido, cuida da logística da empresa. Tem horário menos rígido. ?Não me incomodo nem um pouco em ficar nos bastidores?, diz ele. A mulher concorda. ?Ele é o meu 1001 utilida-
des?, brinca. Na ponta do lápis, resultado
de um faturamento anual da empresa que chega a R$ 3 milhões, ela põe em casa, todos os meses, pelo menos R$ 7 mil. Tiziano, à sombra de Luiza, recebe R$ 3 mil. Bem-vindo ao novo mundo, em que as mulheres executivas têm a seu lado supermaridos. É uma revolução sexual às avessas.
RAUL D?ELIA
Administra postos de gasolina a partir de seu escritório doméstico
” A cozinha fica por minha conta. A Viviane não tem hora para voltar do trabalho”
VIVIANE SUHET D?ELIA
Diretora de marketing da
Paramount Têxteis
Há um batido adágio, segundo o qual por trás de todo homem bem-sucedido há uma grande mulher ? ele ganhou nova feição, com mulheres realmente grandes, executivas de peso com maridos muito bem-sucedidos dentro de casa. As estatísticas brasileiras começam a apontar para esse pequeno fenômeno. Um estudo do grupo Catho, especializado em executivos, revela crescimento das mulheres em posição de comando dentro das empresas. Em 1995, apenas 8% delas apareciam como presidentes de companhias. Hoje são 15%. Em funções de menor visibilidade, como a de supervisoras, a explosão é ainda maior. Eram 15% e hoje são 30%. Os salários, é verdade, ainda são inferiores aos dos homens ? elas ganham cerca de 12% a menos. Mas há, sem dúvida, uma vistosa mudança de comportamento. ? Não tenho como reclamar do meu marido?, diz Ana Tereza Scherer Pescarin, designer de moda de marcas como Daslu, Maria Bonita e Le Lis Blanc. ?Ele cuida das crianças, busca e traz da escola, faz tudo?. Eduardo Pescarin é supervisor de uma metalúrgica.
TIZIANO DAL BEN
Comanda a logística da empresa
de Home Care cuja proprietária
é sua mulher
” Faço tudo para ajudá-la no cotidiano da empresa. Vou ao banco, troco as lâmpadas, desentupo os encanamentos e ainda conserto computadores “
LUIZA DAL BEN
Presidente da Dal Ben Home Care
As mulheres crescem na carreira ? mas aumenta também o número de divórcios no País. Em 1995 houve 88.116 separações judiciais no Brasil ? o censo mais recente do IBGE, com a tabulação de dados de 1998, indica 90.778 mil separações. O que isso significa? ?É preciso ocorrer uma mudança no ego masculino?, resume Karin Parodi, consultora da Career Center, de São Paulo. ?Se isso não acontecer, a tendência serão mais divórcios em virtude desse confronto profissional.?
Afetividade. A igualdade entre os sexos dentro das empresas é um equilíbrio que virá apenas dentro de três ou quatro décadas. De qualquer modo, os avanços já mudaram corações e mentes. ?Já não há incômodo quando se vê um pai cuidando do bebê em restaurante e dos problemas de casa quando a mulher viaja?, diz Mariaca. É o caso de Raul D?Elia, que a partir de seu escritório domés-
tico administra postos de gasolina. Sua mulher, Viviane Suhet D?Elia é diretora de marketing da Paramount, uma indústria têxtil de São Paulo. Ela viaja quatro vezes ao ano e não tem hora para voltar do trabalho. ?Ele cuida de tudo no lar?, resume Viviane. Para os profissionais de recursos humanos, essa situação de troca de funções é
um momento decisivo. ?Em instantes como esse
é que se percebe a afetividade e sabedoria dos parceiros num casal?, resume José Augusto
Minareli, presidente da consultoria de recursos
humanos Lens & Minareli.