Observe os três senhores sentados em uma ampla sala de um edifício comercial em São Paulo. Não vamos lembrar apenas que eles formam a família Szajman, dona da segunda maior empresa de vales de alimentação do País, a VR. Nem que os dois jovens sentados atrás substituem, pouco a pouco, o pai no dia-a-dia dos negócios. Coloque sua atenção no cartão nas mãos do patriarca Abram. A tarjeta de plástico, banal hoje em dia, representa a mais profunda revolução em que o Grupo Szajman mergulhou em seus 25 anos de existência. A partir do final deste ano, a VR pretende substituir os tradicionais vale-refeições, impressos em papel desde sempre, por cartões magnéticos recarregáveis. Até meados de 2004, eles estarão no bolso de 1,5 milhão de usuários em todo o território brasileiro ? um processo que vai além da mera troca de meios de pagamento. Com a digitalização, a VR terá à sua disposição um arsenal de informações inéditas dos usuários e das empresas-clientes que permitirá oferecer muito mais serviços do que hoje. Nos próximos três anos, os Szajman colocarão no mercado mais de 70 novos produtos, todos voltados para a área de pessoal das companhias. Juntos, eles deverão representar 30% do faturamento de R$ 2,8 bilhões e reduzir a dependência em relação à alimentação. ?Deixaremos de ser só fornecedora de vales para nos tornar o maior fornecedor de serviços de recursos humanos do Brasil?, diz Cláudio Szajman, presidente da VR.

O principal meio de ?vendas? será o portal canalRh, relançado
este mês pela VR. Como sugere o nome, ali serão oferecidos
serviços para profissionais de recursos humanos, sempre em parcerias com grandes empresas da área. Em pesquisas salariais, a sociedade é com a Towers Perrin, uma das maiores consultorias do mundo. Já para recrutamento e seleção de pessoal, o parceiro será o site Bumeran, o maior do gênero no País. ?Nosso modelo de crescimento tem sido com base em associações? diz Abram Szajman. Quando lançou planos de seguros e previdência privada, por exemplo, a família fechou um acordo com a Icatu Hartford. Na Trama, gravadora de música comandada por André, outro filho de Abram, o sócio é o compositor João Marcelo Bôscoli, filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli.

Os estímulos para a diversificação vêm de várias frentes. Primeiro, no mercado de alimentação, a VR enfrenta gigantes, como a Accor, dona da Ticket Restaurante, e a Sodexho, e para isso precisa de musculatura. Segundo, a crescente falsificação dos vales de papel exigia pesados investimentos em segurança. O uso de selos holográficos é um exemplo. O resultado é aumento de custos, que podem ser reduzidos com o cartão.

 

Se é assim por que a substituição ainda engatinha? Resposta: a dificuldade de encontrar uma solução de tecnologia viável. A primeira idéia era utilizar cartões com tarjas magnéticas, como se fossem cartões de débito. Aí surgiu o primeiro, e insuperável, obstáculo. Na hora do almoço, os vales movimentam, entre 11h30 e 14h30, cerca de R$ 3 bilhões por dia, o equivalente a um Natal. Não há rede telefônica capaz de suportar bilhões e bilhões de pequenas transações on-line em um período tão curto. A saída foi o cartão com chip, que permite recarregamento.

A VR uniu-se às suas duas grandes concorrentes, a Ticket e a Sodexho, para fazer um teste em Goiânia. Lá já existem 7 mil cartões chipados em circulação. A operação, porém, é tocada pela Smartnet, o braço de tecnologia do grupo Szajman. ?Nosso objetivo é que o esquema de Goiânia seja estendido para todo o mercado brasileiro, pois haverá uma redução de custos considerável para todos os envolvidos?, diz Cláudio Szajman. O advento do cartão também forçou mudanças profundas na administração. Cerca de metade dos 60 executivos de primeiro nível da VR foram substituídos por profissionais mais afeitos à nova tecnologia e com olhos voltados para ?gerar mais valor a partir da base de clientes existente?, como diz Cláudio. Ou, em outras palavras, fazer com que as empresas gastem mais com os serviços oferecidos pela VR.