24/07/2015 - 19:00
Investir parece ser simples. Basta reservar uma quantia de capital, escolher um ativo financeiro ou real (como uma ação ou um imóvel para locação), avaliar se o preço e a expectativa de rentabilidade estão corretas, assinar o cheque e esperar os lucros. Essa simplicidade, porém, só existe nos livros-texto de finanças. Na prática, investir é muito mais complicado e arriscado, não só porque os mercados são imprevisíveis. Sempre há alguém muito perto, à espreita, pronto para fazer você tomar decisões erradas. Estamos falando dele mesmo: o seu cérebro.
“Se a pessoa conseguisse ser totalmente racional, ela tomaria decisões excelentes de investimento todo o tempo”, diz o consultor e conferencista americano Barry Ritholz, autor do livro The Big Picture. “O problema é que somos muito bons em encontrar formas racionais de mascarar nossa irracionalidade.” Ritholz trabalha no campo teórico mais prolífico dos investimentos, as finanças comportamentais. Até os anos 1960, era dado como certo que investir era um processo racional. A partir dessa década, porém, pesquisadores como o israelense Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia de 2002, começaram a avaliar a influência das emoções na tomada de decisões de investimento. Suas conclusões provaram cientificamente que, de racional,
o investidor não tem nada.
Os estudos de Kahneman demonstraram que o investidor é movido por dois vetores opostos. Um é a cobiça, que o faz correr riscos. Outro é o medo, que o faz fugir deles. Ambos são necessários. Sem cobiça, o investidor guardaria cada centavo debaixo do colchão. Sem medo, ele arriscaria cada vez mais até dissipar seu patrimônio. Para se equilibrar entre esses vetores, o investidor procura se armar com ferramentas analíticas. Ao escolher uma empresa para investir, por exemplo, ele avalia se a companhia é lucrativa, se suas ações estão baratas ou caras em relação às de concorrentes, e se o setor em que atua será beneficiado ou prejudicado pelos solavancos da economia. Aí começam as dificuldades.
Nesse processo de tomada de decisão, o raciocínio do investidor é prejudicado por armadilhas mentais, muito bem descritas por Kahneman. Uma delas é a opção pela narrativa. “Preferimos uma boa história à análise dos dados e não somos parciais em nossas avaliações”, diz Ritholz. “Se gostarmos de uma empresa ou se comprarmos o discurso do CEO, vamos investir na ação mesmo que os preços estejam muito elevados.” Outra armadilha é o viés da confirmação. Ao estudar se compra uma ação, o investidor deveria avaliar de maneira isenta os fatos positivos e negativos sobre a empresa.
Porém, é comum que ele, inconscientemente, chegue à conclusão antes da análise. “O grande problema é quando o investidor se apaixona pelo investimento”, diz o analista independente Clodoir Vieira. “Ele vai dar importância apenas aos fatos positivos, e minimizar a importância do que é negativo.” Outra faceta desse problema é a chamada ilusão do planejamento, que leva o investidor a superestimar as facilidades e a subestimar as dificuldades. “Profissionais de venture capital, que investem em empresas iniciantes, cometem esse erro frequentemente”, diz Vieira.
Um experimento conduzido por Kahneman em uma palestra ministrada em São Paulo, em 2002, mostra bem como o raciocínio prega peças. Kahnemam perguntou aos cerca de 200 participantes que nota, entre zero e dez, eles atribuiriam a si próprios como motoristas. O resultado foi uma média 7,5. “Sabemos bem que, estatisticamente, em uma amostra com mais de 30 pessoas, a média seria cinco, o que prova que todos, aqui, estão em maior ou menor grau superestimando sua habilidade como motorista”, disse ele. Outra armadilha mental é o comportamento de manada.
Somos gregários desde o tempo das cavernas, pois, sozinhos, seríamos presas mais fáceis de caçadores carnívoros. Em grupo, ficamos mais seguros. O problema é que se torna mais difícil posicionar-se contra o grupo quando ele estiver errado. Assim, quando todos os investidores estiverem, como agora, vendendo ações devido à crise, fica complicado defender a ideia de que é justamente em horas como essa que é possível fazer bons negócios na Bolsa. Podemos evitar esses tentáculos? A má notícia é que esses processos mentais estão profundamente enraizados em nossa maneira de pensar.
Se não acreditasse – incorretamente – que os obstáculos seriam superados facilmente, o homem ainda estaria morando nas cavernas e vivendo da coleta de frutas e raízes. A boa notícia é que há técnicas simples para driblar essas armadilhas. A principal delas permite identificar se a sua decisão está sendo racional ou irracional. “Faça de conta que sua internet caiu e que você não vai conseguir comprar a ação agora”, diz Vieira. “Se você perceber que sua reação é de extrema irritação, desespero ou medo, é muito provável que você esteja tomando uma decisão movido pela emoção.” Receita quase certa para afugentar maus investimentos.