15/10/2003 - 7:00
Quando Renato Kherlakian fundou a Zoomp com meia dúzia de máquinas de costura, em 1974, jamais pensou que um dia viesse a ter nas mãos uma grife global. A ficha só caiu dez anos depois, quando duas belas argentinas entraram numa de suas lojas em São Paulo perguntando se ali podiam comprar o jeans do ?rayocito amarillo?. ?Pela primeira vez eu senti que havia criado algo forte?, lembra-se o empresário. Mas foram necessárias mais duas décadas, com direito a trovoadas que estremeceram as contas da empresa, para Kherlakian fincar os seus próprios pés no exterior. No momento ele implementa um ambicioso projeto de internacionalização que consiste em abrir lojas exclusivas da marca lá fora. Serão dez em três anos, o que elevará as exportações da Zoomp dos atuais US$ 2 milhões anuais para US$ 7 milhões em 2006. Detalhe: todas, por enquanto, na Ásia.
A primeira foi inaugurada em Jacarta, a capital da Indonésia, a maior nação muçulmana do planeta. Aos que o chamam de maluco por se aventurar num país onde a vaidade feminina se esconde sob o xador, o neto de armênios Kherlakian explica: ?Quando as indonésias se reúnem para tomar chá e tiram o véu acontece um festival de grifes de luxo. Elas adoram as grandes marcas?. Sem falar no potencial da economia local, que cresce 5% ao ano desde a queda do ditador Suharto, em 1998, e cuja renda per capita beira os US$ 25 mil. Com 230 m2 no Shopping Plaza Senayan, a boutique de Jacarta já vende US$ 150 mil ao mês, dos quais 68% vêm da coleção feminina. Um jeans lá custa US$ 130. ?Em fevereiro vamos abrir a segunda loja, em Kuala Lumpur (Malásia), provavelmente no Petronas Tower?, diz Dipa di Pietro, diretor de marketing da Zoomp, referindo-se aos edifícios mais altos do mundo. ?Depois vamos para Cingapura e Bangcoc (Tailândia). Em breve, todo o mercado asiático será como o Japão. Eles têm um grande apetite por moda e são treinados para consumir.?
A Zoomp não está nessa sozinha. Associou-se ao grupo FJ Benjamin, uma potência varejista de US$ 400 milhões ao ano, sediada em Cingapura e que comercializa Guess, Gap, Valentino e Gucci. Foi a velha história de unir o útil ao agradável. Recuperando-se de um difícil processo de reestruturação ? liquidou dívidas de R$ 15 milhões, fechou metade das 84 lojas e pôs fim a uma seqüência de três anos no vermelho ?, a Zoomp não teria ?bala? para dar um tiro desse sozinha. Ao mesmo tempo, a FJ Benjamin queria ter em seu portfólio o famoso jeans brasileiro, em alta no mercado internacional por ressaltar como nenhum outro as formas do corpo feminino. Assim a Zoomp conseguiu o seu negócio da China: o sócio asiático investe sozinho na montagem das lojas (US$ 2,5 milhões nos dez pontos) e ainda compra todos os produtos do Brasil.
?A Ásia é o nosso abre-alas?, diz Kherlakian, que obviamente
gostou do esquema e quer replicá-lo nos grandes centros mundiais de moda. A Zoomp já é distribuída em 170 multimarcas de Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Grécia, Itália e Líbano. Na semana passada, foi inaugurado o primeiro showroom em Nova York. Mas o plano é estar nesses países com lojas exclusivas também. ?Vamos tomando a sopa pela beirada?, afirma Kherlakian, com a autoridade de quem quase naufragou por causa de estratégias equivocadas (lojas em shoppings populares enfraqueceram a marca) e do avanço de magazines como C&A sobre o setor de moda. Este ano, sua companhia deve faturar R$ 116 milhões e registrar o primeiro lucro desde 1999: de 1% a 2%. ?Estamos recomeçando. E já vejo a Zoomp como uma multinacional, uma Petrobras do jeans?, anima-se o inventor do ?rayocito amarillo?.