Quantas características são comuns aos economistas Antonio Delfim Netto, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Francisco Lafaiete de Pádua Lopes, mais conhecido como Chico Lopes? Muitas. Além de serem veteranos na mesma profissão, os três já ocuparam cargos importantes na área econômica federal, em épocas distintas. Delfim foi ministro da Fazenda nos governos Médici e Costa e Silva; Mendonça de Barros comandou o BNDES e o Ministério das Comunicações no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso; e Chico Lopes foi diretor e chegou à presidência do Banco Central no segundo mandato de FHC. Nenhum deles está aposentado ? continuam em plena atividade profissional através de palestras e consultorias. 

 

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Otimismo ou realidade?: Chico Lopes (à esq.), Delfim Netto e Luiz Carlos Mendonça

de Barros têm, em comum, um discurso positivo sobre o futuro da economia brasileira

 

Nos últimos meses, seus discursos para plateias públicas e privadas têm cada vez mais pontos convergentes quando tratam do atual momento econômico do Brasil. Ao contrário do que boa parte do mercado financeiro prega, esses três economistas não acham que o País esteja a caminho da recessão e da bancarrota. Na verdade, esse trio de cavaleiros contra o apocalipse enxerga o copo meio cheio enquanto outros analistas só o veem meio vazio. O noticiário econômico da semana passada resume bem esse quadro. Contra cada indicador divulgado, havia sempre uma saraivada de críticas. O desemprego caiu de 6,0% em junho para 5,6% em julho. Mas os críticos ressaltaram que o índice era inferior aos 5,4% registrados no ano passado. 

 

Entre vagas abertas e fechadas, a economia formal gerou um saldo positivo de 41,5 mil, em julho. Porém, o mercado reclamou que foi o pior resultado em dez anos. A prévia da inflação oficial de agosto ficou em 0,16%, bem abaixo do 0,39% do mesmo período do ano passado. Os pessimistas, no entanto, argumentaram que o índice de preços mais que dobrou em relação ao 0,07% de julho. No próximo dia 30, quando o IBGE divulgar o Produto Interno Bruto (PIB) referente ao segundo trimestre, haverá essa mesma ladainha. Em termos anualizados, a economia estará crescendo perto dos 4%, mas o mau humor de plantão dirá que o terceiro trimestre, que mal passou da sua metade, será muito pior ? talvez até recessivo. 

 

Ao contrário do que o mercado financeiro prega,

esses três economistas não acham que o país esteja a caminho

da recessão. Eles enxergam o copo meio cheio

 

 

É exatamente contra essas vozes que Delfim, Chico Lopes e Mendonça de Barros têm lutado. Aos 85 anos, Delfim é o mais experiente do trio. Ocupou diversos cargos em Brasília durante a ditadura militar e, para a surpresa de muitos, se aproximou do ex-presidente Lula durante os seus dois mandatos, apesar da sua trajetória política em partidos de direita. No governo Dilma Rousseff é tido como um dos principais consultores econômicos da presidenta. Além de algumas reuniões na capital federal, há quem diga que o ex-ministro conversa rotineiramente com Dilma por telefone. ?O governo mudou nos últimos 45 dias, e mudou na direção certa?, afirmou Delfim à Rádio Bandeirantes, de São Paulo, na terça-feira 20. 

 

?Agora está ouvindo o setor privado e isso é muito importante para que a confiança seja restabelecida.? Essa guinada na postura do governo, ?mais pró-mercado?, como o próprio Delfim define, tem sido enfatizada nas suas colunas semanais em jornais brasileiros. ?É preciso estar muito desatento à realidade brasileira para não perceber a profunda mudança de comportamento do governo na política econômica, na tentativa de melhorar as suas relações com o Congresso e num melhor diálogo com os investidores nos projetos de infraestrutura?, escreveu na quarta-feira 21. Delfim tem destacado a posição da equipe econômica de não mais adotar ?truques fiscais? e a atuação mais firme do Banco Central no combate à inflação. 

 

Um dia antes, o ex-ministro salientou que o diálogo entre o setor privado e o governo federal foi ampliado graças ?à intervenção direta do ministro Guido Mantega?. ?Há um exagerado pessimismo, que não é justificado pelas incertezas que cercam a economia mundial em geral e a brasileira em particular.? A bandeira contra o pessimismo também tem sido empunhada pelo tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros. Em três jornais diferentes, o ex-presidente do BNDES no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso tem alternado críticas à política econômica do governo Dilma com ?doses de realidade? sobre o Brasil. ?É muito cedo para se criar esse pânico e essa sensação de que acabou tudo?, afirmou na segunda-feira 19. 

 

Ao defenderem seus pontos de vista, Delfim, Mendonça de Barros

e Chico Lopes não vendem ilusões. Eles jamais fecham os olhos

para a realidade econômica

 

 

Mendonça de Barros ressalta que o setor privado precisa de sinais positivos do governo, mas ?os leilões estão atrasados?. No começo do mês, o tucano celebrou a melhora dos índices de desenvolvimento humano do País nas últimas décadas. ?Não é possível que uma economia que fez com que a renda média real da sociedade dobrasse em 17 anos esteja à beira do abismo, mesmo que os resultados nos últimos três anos sejam decepcionantes?, escreveu. Já o crescimento anual, expresso pelo PIB, tem sido alvo de artigos e entrevistas do economista Chico Lopes. Pelas suas contas, o Brasil está crescendo a um ritmo anual de quase 4%, mas as consultorias estão reduzindo as previsões para 2%, no fechamento do ano. 

 

À DINHEIRO, Lopes afirmou que ?esse pessimismo em relação à economia brasileira é sustentado por achismos?. Para os que temem os efeitos da atual desvalorização cambial (leia matéria na pág 32), o ex-presidente do BC diz que o País possui reservas para amortecer os impactos vindos de fora. ?Queda no faturamento das empresas não é prejuízo?, afirma. ?Houve, evidentemente, um arrefecimento da atividade, algo normal em qualquer economia.? É preciso deixar claro que, ao defenderem seus pontos de vista, Delfim, Mendonça de Barros e Chico Lopes não estão vendendo ilusões, nem renegando suas convicções. 

 

Sempre que necessário, colocam o dedo na ferida, sem jamais fechar os olhos para a realidade econômica. Um país que tem um PIB de R$ 4,4 trilhões, com um enorme mercado consumidor, não pode ser um ?patinho feio?. Curiosamente, na semana passada, o ?novo queridinho? do mercado, o México, apresentou retração no seu PIB, de 0,74%, no segundo trimestre. Agora, os profetas do apocalipse estão tentando vender a ideia de que o Brasil seguirá o mesmo caminho. Neste momento, quem busca oportunidades de negócios tem duas opções: acompanhar o mau humor do mercado financeiro e engavetar os projetos ou seguir os passos dos três cavaleiros. A escolha é sua.

 

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