Os administradores de fundos que estão se dando melhor na Bolsa de Valores este ano têm um jeito de quem não está nem aí para o mercado financeiro. Instalados num discreto escritório no Leblon, no Rio de Janeiro, os donos da Dynamo se vestem em mangas de camisa, passam o dia longe das telas de computador e do nervosismo das
mesas de operação. Não se ouve no escritório a gritaria de um banco de investimento. ?Passamos dias sem saber o resultado da Bolsa?, diz um dos sócios, Pedro Damasceno. Mesmo sem fazer o figurino típico do mundo das finanças, a Dynamo tem os fundos de ações mais rentáveis do País: o Cougar e o Puma subiram 16% este ano, enquanto a Bolsa caiu 30%. A proeza ainda é maior porque menos de dez fundos estão no azul. Outros 230 dão prejuízo e alguns perderam até metade do patrimônio.

E não se trata de um truque de vida curta. Sem fazer propaganda, a Dynamo administra o maior fundo de ações do País, o Puma, com patrimônio de R$ 560 milhões. Quem investiu US$ 100 no Cougar, em 1993, quando foi criado, tem hoje US$ 900 ? um rendimento de 30% ao ano, em dólar. No mesmo período, uma aplicação em juros (CDI) rendeu US$ 300 e o Ibovespa, US$ 100. Como eles conseguem lucros tão altos com mercado em baixa? O pessoal da Dynamo diz que não existe mistério. ?Seguimos um dogma simples?, diz o sócio Felipe Campos. ?Nossa filosofia é foco, disciplina e trabalho.?

 

Por foco, entenda-se que a Dynamo só faz um serviço: comprar e vender ações, sem recorrer a apostas no mercado futuro. A disciplina para investir é a segunda ferramenta. Na Dynamo, não se compra um papel para vender no dia seguinte. Leva-se pelo menos um ano para se decidir aplicar uma quantia relevante em determinada empresa. Uma vez feito o investimento, a ordem é esperar pelos resultados, mesmo que demorem anos. A terceira chave é trabalho. Um investimento só é feito depois de muito estudo. Os sócios visitam empresas, conversam com fornecedores, clientes, concorrentes, lêem balanços e relatórios. ?Temos muitas horas de vôo em análises de empresas, o que nos permite saber quais são os negócios vencedores e perdedores no Brasil?, diz o sócio Cristiano Souza.

Todo esse conhecimento é usado para garimpar os negócios e achar boas oportunidades na frente do resto do mercado. Em 2002, o pulo do gato foram as empresas que lucram com as exportações, como a têxtil Coteminas, a mineradora Caemi, a produtora de papel e celulose VCP e a fabricante de fertilizantes Fosfértil. Hoje, quase todos os fundos de ações estão recheados com papéis como esses. Mas a Dynamo saiu na frente. Começou a comprar as ações de exportadores em setembro do ano passado, quando os preços na Bolsa estavam muito baixos. ?Imaginávamos que o déficit externo levaria a uma alta do dólar, o que beneficiaria os exportadores e foi isso o que aconteceu?, diz Campos.

A Dynamo funciona como um colegiado de dez sócios, com um ex-executivo do Garantia, Bruno Rocha, e Luiz Orenstein, que foi do Opportunity, à frente dos negócios. Hoje, a administradora movimenta R$ 850 milhões, dinheiro vindo principalmente dos fundos de pensão. A Dynamo também atende investidores comuns, como os 300 cotistas do fundo Cougar. Mas, como têm um perfil muito diferente do resto do mercado financeiro, os sócios gostam de escolher bem os novos clientes. ?Fazemos um trabalho de antivenda dos fundos?, brinca Cristiano. ?Só aplica conosco quem seguir nosso dogma e não se preocupar com o movimento diário da Bolsa.?