09/08/2013 - 21:00
Muito antes das denúncias feitas pela Siemens sobre a existência de um cartel no fornecimento de trens para o metrô de São Paulo, vários inquéritos, no Ministério Público do Estado de São Paulo, levantavam suspeitas sobre a atuação das companhias fornecedoras de material rodante. Um, em especial, aberto no ano passado, traz luz sobre as empresas arroladas no cartel, inclusive a companhia delatora alemã. Segundo denúncia do então deputado estadual Simão Chiovetti (PT), atualmente secretário municipal de Serviços do prefeito Fernando Haddad, uma licitação feita em 2009 para modernizar trens do metrô paulistano, alguns dos quais com quase 30 anos de vida útil, resultou num custo de reforma equivalente a mais de 80% do preço de vagões novos.
O resultado do certame, que movimentou R$ 1,8 bilhão, indicaria combinações prévias entre as empresas vencedoras. Com a caixa de Pandora aberta pela multinacional Siemens, as suspeitas de que houve irregularidades nessa licitação por reformas de trens ficam reforçadas. Por ter sido um leilão realizado em 2009, as críticas recaem, obviamente, sobre o governo do PSDB. Mas, outros partidos também precisarão prestar contas diante de suspeitas que rondam o setor. Na semana passada, o vereador tucano Floriano Pesaro jogou lenha na fogueira, ao discursar na Câmara Municipal de São Paulo, na quarta-feira 7.
Ele lembrou que a multinacional alemã também tem contratos com metrôs de outros Estados, alguns administrados pelo PT, caso da Bahia e do Rio Grande do Sul, além de Pernambuco, comandado pelo PSB. O promotor Marcelo Milani, que acompanha os inquéritos sobre o cartel, deu uma perspectiva do que vem por aí: “Não há santos nessa história”. Há suspeitas, ainda, sobre os preços diferentes cobrados por vagões de trem similares, dependendo do Estado. Diante desses fatos, não fica a menor dúvida de que Siemens, Alstom e companhia ficarão no noticiário por muitos meses atormentando os políticos.
E se em algum momento saírem da pauta, voltarão com força dobrada durante a campanha eleitoral no segundo semestre do ano que vem. Boa nova para marqueteiros políticos, que terão material de sobra para a propaganda eleitoral, mas péssimo para o País. Num momento em que o setor ferroviário estourava champanhe por retomar negócios num setor sucateado, a descoberta de irregularidades em licitações vem bagunçar ainda mais o coreto das obras de infraestrutura. O Brasil já estava muito atrasado na extensão de suas linhas de metrô, quando comparado aos países latinos vizinhos. O metrô de Santiago do Chile, por exemplo, que tem menos de um quarto da população de São Paulo, dá de dez a zero no metrô paulistano.
Porém, mais do que colocar luz sobre a atuação ineficiente do governo, e a conduta corrupta de empresas e agentes públicos, o tema se estende, ainda, à segurança dos usuários de trens e metrôs. Na segunda-feira 5, o vagão de um trem da Linha 3, de São Paulo, descarrilou. Os metroviários lembraram que se tratava de um vagão reformado por uma das empresas investigadas pelo Ministério Público. O episódio deve reforçar os protestos populares, marcados por movimentos sociais para esta semana, contra o cartel do metrô. Se bem-sucedidas, podem acelerar a busca por soluções para esse imbróglio. Mas a reputação das lideranças políticas já ficou comprometida. O que certamente vai atropelar algumas pretensões nas eleições do ano que vem.