O Brasil abriga em seu território 12% de toda a água doce do mundo. Por conta disso, os maiores investimentos para geração de energia tiveram como foco a construção de hidrelétricas. Nos últimos anos, contudo, vêm ganhando espaço na matriz energética as chamadas fontes alternativas. 

 

Em especial a biomassa (que usa a queima de restos florestais para produzir eletricidade) e a eólica (baseada na força dos ventos). Apenas nas chamadas fazendas eólicas serão investidos R$ 8 bilhões anuais se forem concretizadas as expectativas do setor privado, de ocorrerem vendas de dois mil MW por ano em leilões promovidos pelo governo. Foi de olho nessa bolada que a francesa Alstom, cuja receita anual é de R$ 2 bilhões no Brasil, decidiu apostar nessa área por aqui. E, mesmo antes de montar uma estrutura para atuar no segmento, a subsidiária já tem o que comemorar.

 

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Delleur, presidente da Alstom do Brasil: o executivo 
fechou um contrato de 100 milhões de euros com a Desenvix

 

É ela que vai fornecer os equipamentos e instalar os três parques eólicos que a Densevix, do Grupo Engevix, pretende construir no interior da Bahia. Um contrato estimado em 100 milhões de euros. “Somos parceiros de longa data e isso facilitou as negociações”, diz Phillipe Delleur, presidente da Alstom do Brasil.

 

“Já estamos, inclusive, negociando mais três contratos.” Ter um bom relacionamento no mercado é importante, sem dúvida. Contudo, não garante a sobrevivência de uma operação em um setor bastante competitivo e no qual a Alstom chegou relativamente atrasada. Os alemães da Wobben foram os primeiros a apostar nessa área, construindo uma fábrica de aerogeradores em Sorocaba (SP) no início da década. A portenha Impsa é outra que também possui unidade fabril no Brasil, mais especificamente no Polo Industrial de Suape (PE).

 

Para encurtar a distância em relação às rivais, Delleur conta que a Alstom pretende produzir localmente. Para isso, estão sendo investidos R$ 50 milhões em uma planta, em Camaçari, capaz de fabricar 120 torres eólicas, com potencial de geração de 300 MW por ano. Energia suficiente para abastecer uma cidade de 1,6 milhão de habitantes em igual período. A produção local é um fator altamente estratégico. Isso porque reduz custos e carimba o passaporte da Alstom para atuar em projetos que exijam algum nível de nacionalização de equipamentos. 

 

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Mercado bilionário: a partir de 2013, o mercado 
de energia eólica deverá movimentar R$ 42 bilhões por ano

 

Sem contar que as turbinas importadas pagam alíquota de 14% para entrar no País. Para comandar essa divisão, Delleur trouxe de Barcelona o executivo espanhol Joan Sanmarti, que até junho era diretor de desenvolvimento de negócios na Espanha. Ele tem à disposição uma equipe composta de 50 pessoas, entre engenheiros, vendedores e profissionais da área de marketing. 

 

Segundo especialistas, Sanmarti terá muito trabalho pela frente. É que o setor deverá se manter aquecido por um longo período. “No primeiro leilão, que vendeu 1,8 mil MW em dezembro de 2009, o potencial de fornecimento do total de inscritos chegou a 13 mil MW”, diz Ricardo Simões, presidente da Abeeólica, entidade que reúne as companhias do setor. 

 

Para Simões, é uma prova de que há muitos investidores interessados no segmento. “Ainda estamos muito longe de explorar toda a potencialidade do Brasil nessa área”, lembra Ricardo Savoia, consultor da Andrade & Canellas. Pelas contas de Savoia, existe um “estoque” de 143 mil MW em ventos a ser explorado no País. 

 

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 Os números atuais já impressionam. O fornecimento energético contratado nos três leilões realizados desde dezembro de 2009, pelo governo federal, deve garantir um faturamento de R$ 42 bilhões às operadores desses parques a partir de 2013. São empresas como a brasileira CPFL, a espanhola Iberdrola e a brasileira Galvão Engenharia. Isso deixa claro que, com o perdão do trocadilho, quando o assunto é energia eólica os ventos sopram a favor do Brasil.