29/09/2004 - 7:00
O IMPERADOR DO SEXO Complexo de R$ 50 milhões terá casa noturna, hotel, restaurantes e arena de shows e lutas
Jeans surrado, camiseta preta justinha, sapatos de camurça sem meia, piercing na orelha esquerda, cara de mau. O empresário Oscar Maroni Filho caminha rápido pelo meio-fio e vai apontando, sem pudor: ?Este Jaguar é meu, esta Mercedes é minha, aquela Harley Davidson também, os dois apartamentos do último andar daquele prédio são meus, este terreno é meu, esta casa também, aquela outra, mais aquela…?. Maroni já tem 70% de um quarteirão inteiro no bairro de Moema, perto do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Quando conseguir os 30% restantes, mandará sozinho em uma área de 10.000 m2 numa das regiões mais valorizadas da cidade. Ali, o imperador do prazer está erguendo sua Las Vegas particular de R$ 50 milhões, com direito a casa noturna, hotel cinco estrelas, restaurantes, arena para lutas, shows e apostas. ?Não sou o único, mas sou o mais bem-sucedido empresário do erotismo no Brasil?, diz, ao parar na praça onde pretende instalar um chafariz de águas dançantes, no estilo dos cassinos americanos. ?Morri de inveja do Abílio Diniz quando ele fez aquela fonte no Lago do Ibirapuera. Vou fazer uma igual aqui, mas em miniatura?, conta, indicando o espaço com árvores que ele mandou podar em forma de coração.
Os negócios de Maroni, que lhe rendem R$ 30 milhões ao ano, giram em torno do Bahamas, o clube privê mais badalado do País. Misto de boate, motel, restaurante e sauna por onde circulam garotas seminuas (em busca de trabalho, por assim dizer), a casa recebe 400 pessoas por dia. Pessoas de bolso pesado, que fique claro: executivos, políticos, artistas, empresários. Afinal, os custos operacionais da diversão são altos. Homens pagam R$ 97 para entrar. Mulheres, R$ 15. Meia cerveja custa R$ 15. Uma dose de uísque, R$ 200. E sessenta minutos do tempo das moças, que cursam faculdade de manhã e chegam em carrões importados, variam de R$ 300 a R$ 600. Algumas delas dão mais liquidez ao negócio tirando a roupa diante de computadores ligados à internet e instalados perto de um laguinho com carpas vermelhas. No segundo andar, ficam 23 suítes que só não têm espelho no colchão e no vaso sanitário. Valem R$ 69 a hora. O que se pratica ali é sexo pago, ponto. Mas o proprietário gosta de se referir ao seu empreendimento como ?o maior centro de terapia empresarial da América Latina?.
SALA VIP Discrição total para políticos, artistas e pilotos de Fórmula 1
Não é para menos. O grosso da freguesia é de executivos em viagem de negócios. ?Contratos são fechados aqui toda semana?, diz Maroni, num escritório decorado com carrinhos de brinquedo, bichos de pelúcia, CDs do Andrea Bocelli e o livro de Jack Welsh. Uma vez, o dono de uma grande empreiteira chegou com dois cidadãos do Oriente Médio. O grupo vinha dos EUA, depois de assistir ao vivo a uma luta de Mike Tyson. O empreiteiro, que estacionou seu jatinho em Congonhas, pleiteava a construção de uma estrada no país de seus convidados. O Bahamas ajudou nas tratativas: ele investiu US$ 6 mil e ofereceu aos futuros clientes a companhia das garotas mais caras da noite (duas para cada um). Levou o contrato. Já para políticos e figuras públicas há uma logística discreta. Eles têm entrada privativa à disposição e seguem direto a uma sala vip anexa ao escritório de Maroni, no segundo andar. De lá, escondidos atrás de um vidro espelhado, escolhem as garotas e mandam o garçom ir buscá-las. A estratégia também é usada por pilotos de Fórmula-1.
Maroni fatura R$ 1 milhão por mês com o Bahamas. E diz que vai fazer esse volume crescer em mais R$ 1 milhão quando inaugurar a segunda empresa de seu complexo do prazer ? o Oscar?s Hotel. O cinco estrelas de R$ 20 milhões e diárias de US$ 350 terá 223 apartamentos, três restaurantes, academia de ginástica e um centro de leilões de bois. A idéia é inaugurá-lo em dezembro, mas as obras estão atrasadas. ?Será um hotel executivo/familiar. Não tem nada a ver com o Bahamas?, frisa Maroni. A não ser por uma passagem subterrânea que liga os dois imóveis e já foi carinhosamente batizada de ?Faixa de Gaza?.
Atrás do Oscar?s, Maroni planeja levantar uma arena destinada a shows e lutas de vale-tudo, onde a platéia vai poder apostar nos lutadores. O business plan está pronto, falta só combinar com a Justiça. ?Apostar é proibido, é contravenção penal?, diz o advogado Celso Vilardi. ?A pena pode variar de três meses a um ano de prisão.? Seja como for, Maroni está empolgado. Já foi a Tóquio pesquisar projetos semelhantes e vai pedir R$ 12 milhões ao BNDES para tocar as obras.
ENQUANTO ISSO, NO BAHAMAS… Carrinhos e bichos de pelúcia no escritório e sala com lago de carpas
O plano de ocupação do quarteirão com empreendimentos que se retroalimentam numa espécie de ciranda erótico-financeira se completará com uma churrascaria de carnes especiais. Sua especialidade será o pernil de ?javaporco?, um animal que ele mesmo diz ter desenvolvido em sua fazenda a partir do cruzamento de javalis e porcos. Na mesma propriedade (700 hectares em Araçatuba-SP), Maroni cria 20 mil cabeças de gado e orgulha-se de produzir ?60 mil bifes a cada 24 horas?. ?Podem me chamar de imoral, cafajeste, pornográfico. Mas eu sou um cara esperto pra caramba, não sou??, pergunta.
Pode ser. Mas também é um patrão difícil, exigente ? embora gabe-se de já ter financiado silicone para uma funcionária e uma cirurgia para curar o estrabismo de um garçom. De seus 110 funcionários, quatro são os principais executivos, que ele chama de capitães de área. Eles cuidam de departamentos distintos: financeiro, marketing, hotel e fazenda. ?Eu dou a idéia, o dinheiro e as chicotadas. Eles executam?, diz Maroni. ?Negociar com ele é um jogo duríssimo. Se você relaxa, ele atropela?, conta Francisco Pellegrini, diretor da Fractal, editora com a qual Maroni está negociando uma nova revista para falar de ?sexo, política e protesto?. Com o mesmo mote ele quer ter um programa de TV, que deve se chamar ?Me tirem do ar?. E há ainda um projeto de franquear o Bahamas. O investimento necessário será de R$ 2 milhões, e o lucro, de R$ 300 mil, prevê. Tudo sob o guarda-chuva da holding Oscar World.
Maroni tem 51 anos, é pai de quatro filhos e foi casado por 24 anos. Se assume metrossexual e afirma gastar R$ 40 mil por mês com ele mesmo. Não fuma, bebe pouco, faz musculação e à tardezinha gosta de comer um queijo quente e uma pêra. ?Tem três instituições sagradas para mim: o PT, o Corinthians e a Igreja Católica. Todas precisam ser revisadas, mas continuo fiel a elas?, afirma. Maroni começou a vida vendendo cachorro-quente num trailler à porta da Faculdade Objetivo, em São Paulo, na década de 70. Formou-se em psicologia e clinicou por seis anos. Uma dia lhe apareceu um paciente com ejaculação precoce. Doutor Maroni receitou noitadas com prostitutas e curou o rapaz. ?Por interesse científico, eu conversava muito com as moças que atenderam o homem. Fui me informando e quando vi já tinha comprado a minha primeira casa de massagem. Tive dez delas, e fui desenvolvendo um grande know-how no setor. O resto é história.? E uma
boa dose de malícia…
Colaborou Maurício Capela