Chefe da aliança militar instou as três nações do Brics a pressionarem o presidente russo, Vladimir Putin, pelo fim da guerra na Ucrânia – ou arriscarem tarifas comerciais ainda mais pesadas dos EUA.O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, pediu ao Brasil, à China e à Índia que pressionem a Rússia pelo fim da guerra na Ucrânia, ameaçando as três nações que integram o grupo do Brics com a imposição de sanções por parte dos Estados Unidos.

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou recentemente que imporia “tarifas muito severas” contra a Rússia se nenhum acordo fosse alcançado para encerrar a guerra na Ucrânia em 50 dias. Ele também ameaçou impor tarifa secundária de 100% a países que comprem exportações russas – algo que poderia atingir diretamente países do Brics.

Em reunião com senadores nos EUA, Rutte disse ter certeza de que esses países, especialmente a China, seriam “muito úteis” para pressionar a Rússia.

“Meu incentivo a esses três países, em particular, é que, se você mora em Pequim, ou em Delhi, ou é o presidente do Brasil, talvez queira dar uma olhada nisso, porque isso poderá lhe atingir com muita força”, disse Rutte a jornalistas nesta terça-feira (15/07).

“Então, por favor, liguem para [o presidente russo] Vladimir Putin e digam a ele que ele precisa levar as negociações de paz a sério, porque, caso contrário, isso vai impactar o Brasil, a Índia e a China de forma massiva”, acrescentou Rutte.

Por que Brasil, Índia e China?

As três nações respondem pela grande maioria do comércio de energia de Moscou. Além disso, são os países centrais do Brics, o grupo das nações em desenvolvimento, juntamente com a África do Sul.

O presidente dos EUA, Donald Trump, também já havia prometido tarifas mais altas para os países do Brics que se alinhassem aos planos do bloco de desafiar a hegemonia dos EUA.

Mesmo antes do anúncio de Trump sobre as tarifas secundárias no início desta semana, os parlamentares americanos vinham trabalhando em um projeto de lei bipartidário visando a imposição de sanções ainda mais duras. A legislação busca uma tarifa de 500% sobre produtos importados de países que continuam comprando petróleo, gás, urânio e outras exportações russas.

Brics evitou condenar Moscou pela guerra

Na declaração final da cúpula do Brics, realizada no inicio do mês no Rio de Janeiro, os países-membros do grupo voltaram a pedir uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas e repudiaram ataques que atingiram pontes ferroviárias da Rússia em junho deste ano, sem, no entanto, mencionar a Ucrânia, que estaria por trás da agressão. Foi a primeira vez que o bloco citou uma ação militar contra Moscou em uma declaração.

O documento foi o primeiro assinado pela nova formação do bloco, que no último ano acatou a adesão de cinco novos países. O grupo atualmente é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.

A expansão do Brics aumentou o peso diplomático do grupo, que busca representar os países em desenvolvimento do Sul Global e reforçar pedidos por reformas em instituições globais.

Em discurso durante a cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva traçou um paralelo com os países em desenvolvimento que resistiram a se alinhar a qualquer um dos polos da ordem mundial durante a Guerra Fria.

“O Brics é o herdeiro do Movimento dos Não Alinhados”, afirmou Lula. “Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque”, afirmou.

Os países do Brics representam mais da metade da população mundial e 40% de sua produção econômica, observou Lula em comentários a líderes empresariais, alertando contra o protecionismo.

Europa planeja envio “massivo” de armas a Kiev

Rutte e Trump anunciaram nesta segunda-feira um acordo para a venda de armas dos EUA aos países da Otan. O representante da aliança militar afirmou que os membros repassarão parte desses armamentos à Ucrânia, marcando a retomada da ajuda dos Estados Unidos a Kiev.

Entre as entregas prometidas, estão sistemas antimísseis Patriot, o dispositivo de defesa mais avançado que o Ocidente já enviou à Ucrânia. Cada unidade custa cerca de 3 milhões de euros (R$ 19,5 milhões) – a serem pagos pela União Europeia (UE), segundo o presidente americano.

Nesta terça-feira, Rutte disse que a Europa encontraria o dinheiro para garantir que a Ucrânia estivesse na melhor posição possível nas negociações de paz. Ele afirmou que, sob o acordo com Trump, os EUA agora forneceriam “maciçamente” armas à Ucrânia, “não apenas defesa aérea, também mísseis e munição paga pelos europeus”.

Questionado se mísseis de longo alcance para a Ucrânia estavam em discussão, Rutte disse que a ajuda “é tanto defensiva quanto ofensiva”. “Portanto, há todos os tipos de armas, mas não discutimos em detalhes ontem com o presidente. Isso está sendo trabalhado agora pelo Pentágono e pelo Comandante Supremo dos Aliados na Europa, juntamente com os ucranianos.”

rc/ra (DW, Reuters)