Convocados pela prefeitura para um mutirão oftalmológico, pacientes  do Sistema Único de Saúde (SUS) fizeram fila em uma unidade pública de  saúde, no último domingo, 21, em Capela do Alto, no interior de São  Paulo. Quem fazia a consulta não era o médico oftalmologista do serviço  público, mas o oftalmetrista de uma ótica particular. No mesmo local do  atendimento – a Unidade Mista de Saúde (UMS) do município -, a empresa  instalou um estande para a venda de óculos. O paciente pegava a receita  dada pelo profissional e era orientado a passar pelo ponto de venda. O  oftalmetrista é habilitado para medir os graus e receitar óculos, mas  não é médico.

O atendimento foi interrompido com a chegada  da imprensa. A cidade, de 18,5 mil habitantes, tem 600 pacientes à  espera de consulta, mas não dispõe de oftalmologista na rede municipal.

A  cessão de espaço público para uso comercial privado é proibida e pode  configurar crime de responsabilidade. O prefeito Marcelo Soares da Silva  (PV) disse nesta terça-feira, 23, que o mutirão foi programado,  atendendo ao pedido de uma organização social, e que não foi informado  sobre a venda de óculos.

Segundo o prefeito, foram examinados 99 pacientes e nenhum deles teria feito a compra dos aparelhos.

A  promotora de vendas da ótica, Luma Beatriz Caiado, disse que a  instalação dos mostruários havia sido autorizada pelo secretário  municipal de Saúde, Alex Ezídio. Ela mostrou mensagens de texto trocadas  pelo celular com o secretário em que ele é informado de que haveria  óculos à venda, mas ninguém seria obrigado a comprar. O secretário negou  que tivesse conhecimento de que a venda seria realizada na própria  unidade de saúde.

No início da tarde, o prefeito assinou portaria abrindo sindicância para apurar o caso. A investigação tem prazo de 60 dias.