15/09/2016 - 18:34
Político experiente, no quarto mandato como governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo monitorou atentamente o passo a passo do impeachment da petista Dilma Rousseff. Considerado um dos interlocutores mais próximos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Perillo manteve contatos diários com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) durante o andamento do processo no Congresso Nacional. Satisfeito com o resultado – embora condene a preservação dos direitos políticos da ex-presidente –, o governador goiano aposta no sucesso do governo Michel Temer e afirma que o PSDB deve empunhar a bandeira das reformas, mesmo que isso possa lhe custar votos no futuro. “Defendo que medidas duras, desgastantes e traumáticas sejam tomadas para que o País possa viver um novo ciclo virtuoso”, afirmou Perillo à DINHEIRO na segunda-feira 5, no Palácio das Esmeraldas, sede do governo, em Goiânia.
DINHEIRO – Como o sr. avalia a conclusão do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff?
PERILLO – Do ponto de vista constitucional e legal, o processo transcorreu dentro da normalidade. Foi um remédio traumático, mas previsto dentro da Constituição. Se nós vivêssemos em um país parlamentarista, essa crise teria sido resolvida há dois anos e ninguém estaria falando em golpe. Até porque não houve golpe e as sessões do Senado foram presididas pelo presidente da Suprema Corte. Ninguém duvida que o País viveu a mais séria crise política, econômica e ética de todos os tempos. Um governo sem popularidade e credibilidade, uma queda de braço fortíssima entre o Executivo e o Legislativo que paralisou o País, além da operação Lava Jato.
DINHEIRO – Foi correta a manutenção dos direitos políticos da ex-presidente Dilma após o impeachment?
PERILLO – Esse assunto vai ser judicializado e o Supremo dará a palavra final. Não pode restar qualquer dúvida sobre o cumprimento da Constituição e muito menos que possa ter havido um acordo que amanhã possa salvar algum político de eventuais sanções.
DINHEIRO – Mas a Constituição foi desrespeitada com a separação das penas?
PERILLO – O que a gente percebe, especialmente quem entende um pouco mais do assunto, é que a Constituição não foi respeitada nesse processo.
DINHEIRO – Quais são as perspectivas para a economia no governo Temer?
PERILLO – Há a expectativa de que o presidente Temer faça uma transição que nos leve a um porto seguro do ponto de vista do crescimento econômico e da geração de empregos. Ninguém suporta mais essa situação dramática de 12 milhões de desempregados. O PIB está encolhendo pelo segundo ano seguido. O que todo mundo quer é que o governo Temer e o ministro Henrique Meirelles consigam aprovar as medidas que possam reoxigenar a economia, como o teto de gastos. Defendo que medidas duras, desgastantes e traumáticas sejam tomadas para que o País possa viver um novo ciclo virtuoso. Essas reformas estão há 14 anos paradas, durante todo o governo do PT. Nós navegamos no boom das commodities e perdemos uma grande oportunidade de fazer as reformas. Agora é: ou faz ou não faz as reformas. Ou o Brasil vira a Grécia ou volta a ser um país emergente, pujante e com boas perspectivas de futuro.
DINHEIRO – Quais são as reformas?
PERILLO – Previdência, trabalhista, tributária e política. Na previdência, é preciso adotar uma idade mínima. A expectativa de vida cresceu bastante. Se não forem feitas mudanças, o Brasil entra em falência. Ou o Brasil quebra ou os aposentados param de receber. A PEC do teto de gastos também tem o meu total apoio. Caso contrário, todos os Estados vão falir. Defendo uma reforma política que acabe com a coligação proporcional e cláusula de barreira. O sistema político é a raiz da corrupção.
DINHEIRO – Qual seria a quantidade ideal de partidos no Brasil?
PERILLO – O ideal é ter cinco ou seis partidos, o que já é muito. Ao proibir coligações proporcionais, vão sobreviver os que conseguirem eleger parlamentares.
DINHEIRO – Qual deve ser o papel do PSDB nas reformas? Não há o risco de o partido ficar com o ônus de ter defendido ajustes impopulares?
PERILLO – Acho que o PSDB deve agir de maneira republicana e ser honesto nas suas posições e nas suas convicções. Em hipótese alguma o partido pode aceitar o papel de ser coadjuvante dos demagogos que são contra as reformas apenas porque querem jogar para a plateia ou obter benefícios eleitorais. O PSDB tem de se diferenciar exatamente nesse ponto: honestidade intelectual. Temos de pensar no País independentemente do que vai acontecer depois, se teremos mais ou menos votos. Infelizmente boa parte dos políticos brasileiros pensa apenas nos seus interesses eleitorais de curto prazo. Não pensam no médio e no longo prazo, não pensam nas próximas gerações. Isso é populismo, demagogia. O PSDB prestará um grande serviço à nação se não cair nessa prosopopeia da demagogia. É o fim da picada. Nós chegamos a um ponto no Brasil em que as coisas devem ser ditas claramente. Se nós não fizermos isso, o Brasil quebra. Temos de ganhar a batalha da comunicação explicando à sociedade o que está por trás da reforma da previdência. Explicar que a grande parte dos gastos com previdência é para pagar apenas os servidores públicos aposentados.
DINHEIRO – Depois de ter virado um tabu nas últimas eleições, o tema privatização volta à tona no governo Temer. É o caminho correto?
PERILLO – Eu tenho convicção disso, mas é preciso mirar nas pautas certas. É preciso mostrar para a população os benefícios em termos de eficiência, rentabilidade e competitividade. Talvez tenhamos falhado no governo Fernando Henrique na comunicação. Perdemos a batalha da comunicação. Todo mundo sabe que foi importante privatizar a telefonia. Eu costumo ver nas empresas públicas cabides para indicações políticas e, muitas vezes, de pessoas que não têm o compromisso com a eficiência, a transparência, a correção e os bons resultados. Se não tivéssemos privatizado a Vale, a CSN, a Embraer e outras importantes empresas, hoje elas poderiam estar quebradas ou contaminadas como a Petrobras.
DINHEIRO – O ministro Meirelles tem dito que a última opção será o aumento de impostos. Se ocorrer, qual será a posição do PSDB?
PERILLO – O PSDB tem de ter maturidade para avaliar e tomar decisões, mesmo que desgastantes. Se lá no fim do túnel não houver outra saída, o PSDB terá de avaliar o que é indispensável.
DINHEIRO – Qual a situação fiscal de Goiás?
PERILLO – É uma situação melhor do que a média brasileira. Tomamos várias medidas desde que percebemos o avizinhamento da crise. No final de 2014, fizemos uma primeira reforma e reduzimos de 16 para 10 o número de secretarias, além de várias medidas para reduzir despesas correntes.
DINHEIRO – A renegociação das dívidas dos Estados com a União foi benéfica?
PERILLO – Sim, foi muito importante. O presidente Temer e o ministro Meirelles foram corretíssimos . Muita gente critica, mas todos os Estados já pagaram muito por causa dos juros elevados. Esse refinanciamento dá fôlego aos governadores.
DINHEIRO – Qual atividade econômica gera mais receitas para Goiás?
PERILLO – A cadeia produtiva do agronegócio representa pouco mais de 70% da nossa economia local.
DINHEIRO – É o agronegócio que explica um impacto menor da crise na região?
PERILLO – O fato de sermos fortes no agronegócio nos blindou, embora tenhamos perdido 25 mil empregos no ano passado. Neste ano, Goiás é o líder em empregos no País. Além disso, estamos diversificando a economia. Temos grande pólo de indústrias farmacêuticas, de confecção, de alimentos e do setor automotivo, com três montadoras. Nos últimos dez anos, crescemos 50% a mais do que a média brasileira.
DINHEIRO – Por que vários governadores, inclusive o sr., têm solicitado apoio da Força Nacional de Segurança. É um problema sem solução?
PERILLO – A segurança, ao contrário da educação e da saúde, é um setor que ainda não foi contemplado na Constituição com a garantia de vinculação de receitas. É um setor que não tem aporte do governo federal nem a obrigatoriedade de os municípios colocarem recursos. Há uma anomalia. Quando se fala na criação de um Ministério de Segurança Pública, a gente pensa que junto haverá também um fundo com a vinculação obrigatória de receitas da União, dos Estados e dos municípios. Nós investimos no ano passado 12,5% do orçamento em segurança pública, mas ainda é pouco. É preciso controlar o contrabando de armas e drogas nas fronteiras e mudar a legislação penal. Hoje há uma reincidência do crime porque os bandidos são presos e soltos rapidamente.
DINHEIRO – O sr. é a favor ou contra a redução da maioridade penal?
PERILLO – Concordo com a penalização de menores em alguns casos.
DINHEIRO – Em agosto, a operação Decantação, da Polícia Federal, atingiu tucanos em Goiás e a sua campanha. O sr. disse que a prisão do presidente estadual do partido, Afreni Gonçalvez, foi exagerada. Por quê?
PERILLO – Porque não há qualquer indício de participação dos diretores da Saneago (companhia de saneamento de Goiás) em qualquer desvio de recursos. São homens decentes e respeitados aqui no Estado. Num caso como esse, se não há um indício sério de lesão ao patrimônio público, o que se poderia fazer é intimar os diretores a prestar depoimentos. No máximo, a condução coercitiva. Hoje a gente percebe que são operações muito espetaculosas e midiáticas que acabam desmoralizando as pessoas. Falaram também que o dinheiro teria sido desviado para campanhas do PSDB, o que não é verdade. No meu caso, em 2014, uma das empresas emprestou horas de avião e helicóptero para o comitê eleitoral, devidamente contabilizado na Justiça Eleitoral.
DINHEIRO – Há quem diga que o grande fantasma do governo Temer é a operação Lava Jato. O sr. concorda com essa análise?
PERILLO – Acho que o grande risco do governo Temer é a economia. Se pessoas do governo forem pegas pela Operação Lava Jato, caberá a ele excluí-las e tocar o barco. Pelo que conheço do presidente Temer, acho que ele jamais se envolveria com esse tipo de coisa. Se o presidente não está envolvido – e eu creio que não esteja –, ele toca o barco.
DINHEIRO – O compromisso do presidente Temer de não de ser candidato à reeleição em 2018 é o pressuposto do apoio do PSDB?
PERILLO – Não, de forma alguma. Não sei se o presidente Temer terá interesse ou condições de ser candidato, mas o PSDB jamais imporia esse tipo de exigência para apoiar o governo. Nós temos de apoiar o governo para que o País faça uma transição e chegue a um porto seguro na economia.
DINHEIRO – Depois de mandatos como deputado, senador e governador, quais são seus planos?
PERILLO – Ainda não defini. Às vezes penso em parar um tempo, pois já tenho quatro mandatos como governador.
DINHEIRO –Em eleições presidenciais, o seu nome sempre é lembrado no PSDB ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do ministro José Serra e do senador Aécio Neves…
PERILLO – Eu fico feliz, mas não tenho esse tipo de vaidade nem interesse. Sou um operador do partido, uma das lideranças, talvez pela longevidade como governador.
DINHEIRO –O partido estará unido nas eleições de 2018?
PERILLO – Eu sempre trabalhei pela unidade do partido e o PSDB sempre esteve unido. Mesmo com algumas escaramuças em pré-campanhas, mas quando chegamos ao final, chegamos unidos. A campanha do Aécio foi a eleição em que estivemos mais unidos.