Oriundo do setor têxtil, Thomaz Zanotto, comanda o Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Atento às oportunidades de mercado para as empresas brasileiras, ele é um entusiasta do slogan “ Vá prá Cuba”,  muito em voga nas manifestações anti governo que ecoaram, no ano passado, pela  Paulista, a avenida onde está localizada o edifício sede em forma de pirâmide a entidade presidida pelo empresário Paulo Skaf. Mas por motivos que nada têm a ver com as diatribes da turma que execra os apoiadores da presidente Dilma Rousseff.

Pragmático, Zanotto vislumbra simplesmente na ilha dos irmãos Castro um mercado promissor para as empresas brasileiras, em particular para as do setor industrial, às voltas com a queda de encomendas internamente. “Trata-se de um mercado 100% a ser explorado”, diz. “Em Cuba há tudo por fazer e muito a ser vendido.”

Para ele, o pequeno país do Caribe, com seus 11 milhões de habitantes, tem um potencial que não pode ser ignorado. “De máquinas a alimentos, passando por calçados vestuário e construção civil, há uma grande carência no país”, afirma. “Em contrapartida, os cubanos têm trunfos como uma alta qualificação da mão de obra, um elevado índice de escolaridade e um sistema de saúde avançado.”

Ao seu ver, Cuba pode repetir o que aconteceu mais recentemente com a China e Polônia. “Quando entram no sistema capitalista, conseguem reagir rapidamente.” Ele está convencido, por exemplo, de que com os incentivos adequados e com a atração do capital estrangeiro, o PIB local, que chegou a US$ 65,8 bilhões (renda per capita de US$ 6,1 mil), pode dobrar facilmente em 15 anos.

“Isso representa um mercado equivalente ao do Rio de Janeiro e ao de Minas Gerais de hoje.” Ele destaca, ainda, a localização privilegiada, a apenas 145 quilômetros ao Sul do Estado americano da Flórida. “Cuba, principalmente através do porto de Mariel e de sua Zona Especial de Desenvolvimento será um importante entreposto comercial na região”, afirma.

Por causa disso, a propósito, a exemplo da maior parte de seus pares na Fiesp, Zanotto avaliza a estratégia do governo brasileiro de financiar a construção de Mariel, executada pela Odebrecht, com financiamento de cerca de US$ 1 bilhão, do BNDES, e que se tornou o maior investimento executado em Cuba, desde 1959. “O Brasil tem um goodwill, é bem aceito pelo governo cubano”, diz. “Temos de monetizar isso.”

Segundo ele,  os empresários brasileiros não podem dormir no ponto e devem se antecipar ao inevitável assédio das companhias americanas, tão logo o embargo econômico  seja levantado. “Temos uma janela de uns dois anos até que isso aconteça.” Sua ideia é de que um número expressivo de companhias brasileiras se instalem com operações próprias na ilha, seguindo com um atraso de quase duas décadas, as pegadas da Souza Cruz, que mantém uma fábrica de cigarros, a BrasCuba Cigarrillos, em parceria com a estatal Tabacuba, desde o final dos anos 1990.

Aparentemente, sua pregação tem sido ouvida em casa. Em novembro do ano passado, uma missão composta por representantes de 32 empresas brasileiras, de ramos como máquinas e equipamentos, alimentos e bebidas, moda, cosméticos e  material de construção, participou da 3ª Feira Industrial de Havana.

Antes disso, em maio, um auditório lotado da Fiesp recepcionara Rodrigo Malmierca, ministro do Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro de Cuba. A intervenção de Malmierca, que anunciou o objetivo de atrair investimentos estrangeiros da ordem de US$ 9 bilhões, para o financiamento de 246 projetos empresariais,  soou como música para a plateia.

“Aqui entre nós,  se houver duas empresas em igualdade de condições, nós vamos estar mais inclinados a fazer negócio com uma empresa brasileira ou de outro país com quem tenhamos relações mais sólidas”, afirmou.

A expectativa de Zanotto é de que, a médio prazo, se amplie o comércio bilateral entre os dois países.  Atualmente, o Brasil, com US$ 508 milhões, é o terceiro maior exportador para Cuba, atrás apenas da China ( US$ 1 bilhão) e da Espanha ( US$ 905 milhões) – ao todo, o país de Fidel e Raul Castro importa US$ 6 bilhões, anualmente. 

AVISO: antes que alguém sugira, o colunista informa que já foi para Cuba, onde permaneceu durante duas semanas, no fim de novembro/começo de dezembro de 2015. A exemplo de Zanotto, da Fiesp, ele também acredita que haja um milhão de oportunidades de negócios por lá – da telefonia celular e internet, aos investimentos no setor imobiliário. No entanto, a que mais o entusiasmou foi descoberta numa visita ao balneário de Santa Maria, nas proximidades de Havana: sedento por um sorvete, constatou que os cubanos simplesmente não vendem gelados na praia. Vai que é tua Kibon, idem Rochinha!!!