Os movimentos do preço do ouro sempre foram objeto de fascínio e curiosidade dos investidores. Tema que ganha intensidade em momentos como o atual — a alta vem desde outubro de 2023 e atingiu um pico na série histórica. Para entender essa dinâmica, e prever seu futuro (as perspectivas para 2024), é preciso entender seu passado (o padrão ouro, o padrão ouro-dólar) e seu presente (os determinantes do preço do metal). Em termos históricos, diversos países do mundo em diferentes períodos, adotaram o padrão ouro, em que a moeda era igual a ouro. Era um sistema de câmbio fixo, no qual o valor das moedas nacionais era fixo em relação a uma quantidade específica de ouro. Os governos precisavam manter reservas em ouro suficientes para atender à demanda por conversões. Em termos de comércio internacional, um país com déficit comercial teria um escoamento de ouro, resultando na contração da oferta monetária, o que levava à deflação e igualmente ao aumento da competitividade das exportações, corrigindo assim o déficit. Os países que tinham déficits comerciais eram forçados a enviar ouro para os países superavitários.

Nos Estados Unidos, o padrão ouro foi restaurado em 1920 e estava ativo na crise de 29. Naquele ano, o déficit comercial americano exigiu que houvesse envio de ouro, o que significou consequentemente na queda da oferta da moeda e alta de juros. No mecanismo automático de ajuste do padrão ouro, a redução da oferta monetária durante um período de deflação deveria ter ajudado a estabilizar a economia. Mas na prática isso não aconteceu. À medida que os bancos entraram em colapso e as corridas bancárias começaram, o público começou a trocar moeda por ouro, esgotando as reservas de ouro e contraindo com mais força a oferta monetária. Isso levou a uma deflação ainda mais severa, diminuindo os preços e aumentando o peso real das dívidas, exacerbando os problemas econômicos. Os Estados Unidos saíram de tal sistema em 1933 e passaram a adotar o padrão ouro-dólar — formalizado em Bretton Wood, em 1944.

Neste sistema, as moedas dos países participantes (quase meia centena) eram atreladas ao dólar americano, que por sua vez era conversível em ouro a uma taxa fixa, estabelecida em US$ 35 por onça de ouro. As outras moedas eram fixadas ao dólar em taxas de câmbio estáveis, que podiam ser ajustadas apenas com a aprovação do Fundo Monetário Internacional (FMI), criado na ocasião. Com isso, o dólar americano tornou-se a principal moeda de reserva do mundo e a unidade padrão para o comércio internacional. O sistema buscava oferecer estabilidade monetária e impedir desvalorizações competitivas.

O padrão ouro-dólar funcionou como a base do sistema financeiro internacional até o início dos anos 1970. Ao longo das décadas de 1950 e 1960 já começaram a surgir problemas. O déficit do balanço de pagamentos dos Estados Unidos (e a impossibilidade de desvalorizar o dólar) exigiu que o país imprimisse moeda para financiar tal déficit. Isso levantou preocupações entre os detentores de dólares fora dos Estados Unidos quanto à capacidade do governo americano de manter a paridade fixa do ouro. O sistema finalmente entrou em colapso em 1971, quando o presidente Richard Nixon anunciou que os Estados Unidos não mais converteriam dólares em ouro a uma taxa fixa, dando início à era das taxas de câmbio flutuantes que conhecemos hoje.

O ouro enquanto ativo é considerado um ‘safe haven asset’. Em tempos de crises financeiras e inflação alta as pessoas compram ouro e dólar. Ou seja, nesses episódios, o preço do ouro aumenta sobretudo devido à maior demanda pelo ativo. Em geral, o ouro é referenciado em dólar. Assim, sempre que o dólar sobe o preço do ouro (em dólar) cai (e vice-versa).

A alta recorde do ouro desde outubro passado é devida a três fatores.
O primeiro deles deve-se ao fato de os países estarem trocando suas reservas em dólar por ouro devido à piora quanto aos rumos futuros da política fiscal americana.
O segundo está relacionado à guerra no Oriente Médio.
O terceiro aspecto relevante é a queda do dólar devido às expectativas do mercado de que o Federal Reserve deva baixar a taxa de juros ainda este ano.

Em parte, porque esperamos a prevalência destes fatores até o final deste ano, apostamos na continuidade da alta do metal.