29/09/2000 - 7:00
Quatro meses depois de se desfazer da rede de hipermercados Bompreço, vendida ao grupo holandês Royal Ahold, o empresário João Carlos Paes Mendonça poderia estar balançando em uma rede em sua casa no Recife. Coisa nenhuma. Aos 62 anos, ele prepara-se para novos lances no mundo dos negócios. Dessa vez, quer entrar de cabeça na operação do terminal de contêineres no Porto de Suape, no Recife. Sua holding, a JCPM, vai encabeçar o consórcio Sotes (Sociedade Operadora do Terminal de Contêineres de Suape), formado pelo Grupo Dragados, da Espanha, o chileno Agunsa e a Lachman, do Rio. A disputa vai ser difícil. Há pelo menos outros 20 grupos na briga pela operação. O projeto de ampliação, segundo a direção do porto, deverá exigir fôlego financeiro. O vencedor da licitação terá de desembolsar por volta de R$ 45 milhões. Mas Paes Mendonça não parece estar muito preocupado. ?Fui provocado. Perguntaram por que eu não participava da operação se elogiava tanto o porto, então resolvi entrar na briga?, afirma o empresário.
Enquanto sonha com a operação portuária, Paes Mendonça reformula outros negócios. Um deles é o Sistema Jornal do Commércio, do Recife, que inclui rádio, TV e mídia impressa e deverá receber R$ 20 milhões para se modernizar. O empresário também fala da possibilidade de ampliar o Shopping Center Tacaruna, na capital pernambucana, e até participar da construção de um novo centro de compras. Entre os possíveis sócios, estão, por exemplo, alguns fundos de pensão. Nem a Frutivale, empresa de cultivo e comércio de frutas no Vale do São Francisco, deverá escapar das mudanças. ?Não foquei o negócio como deveria, por isso quero voltar a investir, seja com capital próprio ou me associando a algum grupo para apostar nas exportações?, detalha.
Desde que vendeu aos holandeses as 102 lojas do Bompreço ? espalhadas por oito Estados e com um faturamento anual de R$ 2,6 bilhões ?, Paes Mendonça conseguiu ter poucos momentos de folga. Foram duas viagens, uma para os Estados Unidos e outra para alguns países europeus. ?Nada muito demorado, é claro. Afinal, não dá para ficar longe dos negócios?, afirma. É que o empresário não costuma abrir mão das decisões em suas empresas. Hoje seu braço direito é o genro Marcelo Tavares de Melo, que atualmente coordena o processo de transição dentro do Bompreço. A única filha, Jaci, cuida dos três netos e não participa dos negócios. E será que o fundador da maior rede de varejo do Nordeste teria coragem de voltar ao varejo? ?Minha cota de varejo se esgotou; já me sinto desligado dessa tomada?, afirma. Cheio de mistério, Paes Mendonça adianta apenas que pretende disputar outras concessões de serviços públicos, como rodovias. E diz com um tom de voz juvenil: ?Agora eu preciso viver coisas diferentes, novas emoções?.