O sobrenome Mansur está intimamente ligado ao mundo dos negócios. O mais notório representante desse clã é Ricardo, ex-rei do varejo que viu seu império Mappin-Mesbla ruir no final da década de 90 e hoje vive às voltas com a Justiça. O outro, Carlos Alberto, caçula e ex-sócio do primogênito, permanece na ativa com o laticínio Vigor. Só que tem um ramo da família tão avesso a badalações que seus protagonistas sequer são conhecidos nas rodinhas empresariais: os irmãos Paulo e Omar Mansur, primos em primeiro grau de Ricardo e Carlos Alberto. Os quatro cresceram juntos, mas nunca compartilharam o mesmo escritório. A dupla Paulo e Omar é dona da Selby Investimentos Ltda., um fundo que se especializou em recuperar empresas combalidas. Ela administra negócios cujo faturamento global atinge cerca de R$ 350 milhões. A maior parte deles no ramo têxtil: Büettner, São Cristovão (em SC) e Goiatêxtil (GO). Pois a nova investida de Paulo e Omar é a fabricante de cosméticos Pierre Alexander. Com receitas de R$ 110 milhões ela foi fundada em 1981 e é a terceira força no setor de venda direta de artigos de maquiagem, colônia, xampu, desodorante e cremes para a pele. Seu foco são os consumidores da classe C das regiões Sul e Nordeste. A aquisição obedeceu o ritual clássico das transações comandadas ao estilo Mansur. ?Eles escolhem companhias com bom potencial de crescimento mas que estejam em dificuldades financeiras ou enfrentem um complicado processo de sucessão?, conta um empresário paulista.

Esse é exatamente o caso da Pierre Alexander. Após a morte do controlador, Luiz Felipe de Paola Osório, ocorrida em 2003, os herdeiros contrataram uma consultoria que recomendou a venda dos ativos. Vergada sob um débito de cerca de R$ 60 milhões em impostos, a Pierre Alexander necessitava de gente com capital suficiente para não morrer. Ao mirar no segmento de cosméticos, Paulo e Omar mostram que mantêm o velho faro familiar para descobrir nichos atraentes. Atualmente, as vendas diretas movimentam R$ 10,4 bilhões. Desse total, R$ 9 bilhões referem-se aos produtos de cuidados pessoais. A expansão desse mercado se dá à taxa anual acima de 15%. Mas será que a dupla conseguirá ser bem sucedida na nova empreitada? Marcelo Alves, sócio da consultoria Directbiz Consultants, acredita que sim. ?A marca tem prestígio mas é preciso evitar que a insegurança da troca de comando afete o moral das revendedoras?, opina. A Pierre Alexander possui um exército de 60 mil representantes. São elas que vão garantir a sinergia entre os ramos têxtil e de beleza. Está prevista a inclusão de linhas de toalha e artigo de cama e mesa, com a grife Pierre Alexander, nos catálogos de venda. Procurados pela DINHEIRO, os donos da Selby não quiseram se manifestar.

Antes de pensar em lançamento ou promoções, os Mansur optaram por arrumar a casa. Contrataram um especialista em tributação, o catarinense José Leopoldo Eberhardt, para dirigir a Pierre Alexander. Caberá a ele inventar uma solução para o calcanhar-de-aquiles da empresa. Pelo lado operacional está tudo certo. A fábrica e o centro de distribuição em Diadema (SP) podem suportar aumento de demanda, inclusive de clientes externos. Hoje, a marca está presente em outros países da América Latina, além dos EUA e Japão. Esses clientes ainda respondem por
um percentual ínfimo da produção. Pessoas próximas a Paulo e Omar garantem
que a Pierre Alexander é só o começo da investida desses Mansur no segmento
de beleza.

R$ 110 milhões é a receita da Pierre Alexander, a aquisição mais recente