O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Mauro Caseri, informou nesta quarta-feira, 19, que vai pedir as imagens das câmeras corporais dos policiais militares que, no último dia 12, entraram armados na Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Antônio Bento, em Caxingui, zona oeste de São Paulo.

A abordagem dos PMs, que teriam sido truculentos e autoritários com a diretora da unidade, segundo relatos ouvidos pela reportagem, aconteceu um dia depois do pai de uma aluna de 4 anos, também militar, ter entrado na escola e brigado com a gestora da unidade por conta da aplicação de uma atividade sobre religião de matriz africana.

A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo informou que o pai da estudante recebeu esclarecimento que o trabalho apresentado pela filha “integra uma produção coletiva do grupo” e que a atividade faz parte de “propostas pedagógicas da escola’; e a Secretaria de Segurança Pública informou que a Corregedoria da PM apura o caso.

“A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo abriu um procedimento solicitando à Corregedoria da PM a apuração da conduta desses profissionais, as imagens das câmeras corporais (COPs), bem como do circuito interno da escola”, disse Caseri, em nota.

O gesto do pai e do grupo de militares foi interpretado pelo ouvidor como uma demonstração de racismo religioso. “As indicações de racismo religioso são visíveis e devem ser apuradas com rigor e celeridade, para que, atestado o crime, seja justa e pedagógica sua sanção”.

Ao Estadão, Raquel Macedo Urias, diretora do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), responsável pela área do Butantã, afirmou que esteve em contato com as responsáveis pela escola e que pelo menos um dos PMs estaria portando uma metralhadora. Ela disse que a diretora e a professora pediram afastamento temporário das funções após a abordagem.

“Esta Ouvidoria repudia com veemência qualquer ato dessa natureza e, neste sentido, comunica que está ultimando proposta que versa sobre as relações étnico-raciais para agentes da segurança pública que trabalham com a ronda escolar”, acrescentou Mauro Caseri.

A Ouvidoria também prevê abrir um procedimento separado para apurar a conduta do pai, policial militar, “para que medidas também sejam tomadas com relação à este servidor”; e informou que a atividade realizada na escola tem respaldo na Lei Federal (nº 10.639/03) que determina o ensino da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena em todas as escolas do Brasil.

A tarefa que gerou a revolta do pai consistia em desenhar o orixá Iansã a partir da leitura do livro Ciranda de Aruanda.

“É preciso apurar com rigor, responsabilizar e corrigir firmemente atos dessa natureza, sob pena de termos um crescimento ainda maior da intolerância, que é oposta ao conhecimento, não podendo coexistir com o princípio básico de qualquer religião ou sociedade civilizada que é o amor e a tolerância”, concluiu Mauro Caseri no comunicado.