O dentista Cristiano Albuquerque, 37 anos, gosta de ficar ligado no mercado. Até há pouco tempo, ele só podia fazer isso por intermédio do sistema de negociação em tempo real instalado no seu computador. No entanto, a combinação da instabilidade na bolsa com a agitação do dia a dia, fez Albuquerque perder bons negócios. “Tenho compromissos que coincidem com os horários de pico do mercado, como buscar meu filho na escola, e não quero perder nenhuma oportunidade”, diz. O dentista resolveu o problema instalando um aplicativo em seu iPad. Desenvolvido pela corretora BanifInvest, o PelicanBroker funciona como um home broker no tablet. A solução encontrada por Albuquerque é só um exemplo de um movimento recente no sistema financeiro. A queda nas bolsas afastou muitos investidores, e tem forçado bancos e corretoras a inovar, o que  não é simples, ainda mais em um setor fortemente regulamentado como o mercado financeiro. Por isso, as corretoras vêm investindo em tecnologia, na melhoria de serviços e até mesmo na repaginação de velhos produtos para deixá-los mais atrativos para os investidores. 

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Antonio Milano Neto, da SLW: ”A queda da bolsa cria a oportunidade de oferecer produtos diferentes”

A estratégia da BanifInvest é apostar pesado na tecnologia. Melhorias de sistemas existentes e o desenvolvimento de novos produtos recebem 70% dos investimentos totais da empresa. “Os investidores estão cada vez mais exigentes, demandam mais velocidade e novas formas de operar”, diz Bruno Di Giorgio, superintendente do BanifInvest. A ferramenta para o iPad, desenvolvida dentro da empresa e lançada em setembro, já registrou 750 downloads em apenas um mês. Ela permite acompanhar as cotações em tempo real, ter acesso ao livro de ofertas de compra e venda de ações e também enviar ordens de negociação. “Também estudamos permitir que o cliente tenha um extrato de suas operações”, afirma Di Giorgio. O aplicativo é gratuito e quem não é cliente pode testá-lo por sete dias – mais uma isca para fisgar novos investidores. A corretora está desenvolvendo aplicativos para outros tablets e para smartphones. 

A BanifInvest não é a única que aposta na tecnologia. A corretora paulista Spinelli, que já tinha lançado um aplicativo de home broker dentro do Facebook, desenvolveu uma nova forma de apresentar seus relatórios e recomendações, enviando as sugestões em tempo real para os investidores. “Nossos analistas produzem relatórios diariamente, com mais de 100 recomendações de compra e venda, e agora desenvolvemos uma nova maneira de divulgar essas informações”, diz Rodrigo Puga, responsável pelo home broker da Spinelli. A página organiza as análises em uma lista e o investidor pode filtrar o que deseja acompanhar. Ele pode ver, por exemplo, quais são as ações com recomendação de compra e quais só têm recomendação de venda. Pode ser avisado quando as cotações de um papel estiverem próximas dos preços-alvo de compra ou de venda. “Quanto mais informações o investidor tiver, mais seguro ele vai se sentir, mesmo em tempos de crise”, afirma Puga. 

 

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Bruno Di Giorgio, do BanifInvest: ”Os investidores estão cada vez mais exigentes.

Eles demandam mais velocidade e novas formas de operar”

 

O sistema não executa as ordens sozinho. Apenas oferece uma visualização mais rápida e personalizada dos relatórios, que também continuam sendo distribuídos das maneiras tradicionais. “A opção tem feito sucesso”, diz Puga. Segundo ele, essa é a segunda página mais acessada do site da corretora, atrás apenas da página principal do home broker. Às vezes, as inovações passam ao largo dos bits e bytes. A Mirae Asset Securities oferece um pouco mais de comodidade. Os novos clientes podem se cadastrar e enviar os documentos por e-mail ou por fax, sem ter de depender dos correios – sujeitos à greve. Outras corretoras apostam na ampliação dos produtos disponíveis para os clientes. Uma delas é a SLW, que passou a oferecer operações estruturadas em capital protegido. Pouco comum nas corretoras independentes, essa aplicação garante que o investidor não perderá seu capital caso uma valorização pré-estabelecida do ativo não seja alcançada.  

 

“A bolsa em queda acaba oferecendo uma oportunidade a mais para crescer com esses produtos”, afirma Antonio Milano Neto, presidente da corretora. As operações, segundo Milano Neto, têm a vantagem de ser adequadas para investidores de vários perfis. “Em geral, quem aplica possui um pouco mais de proximidade com o mercado financeiro, mas esse investimento serve tanto para investidores agressivos quanto para os mais conservadores”, afirma Milano Neto. Na corretora, podem ser feitas aplicações em capital protegido, a partir de R$ 50 mil. O lançamento faz parte de uma se-quência de mudanças. Este ano, a empresa completa 40 anos e começou a oferecer também novos produtos de renda fixa e previdência privada. A ideia é não deixar faltar negócios, quer a Grécia quebre ou não. 

 

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