23/03/2022 - 17:57
Um Kinder Ovo está custando R$ 90 por 150 gramas de chocolate (pouco mais que uma barra) hoje nas prateleiras dos supermercados. Nas redes sociais, multiplicam-se as piadas sobre os preços dos ovos de Páscoa, que ganharam até comparações com os valores cobrados pela peça de picanha – que também já não é dos mais amigáveis para o bolso do brasileiro. Ainda assim, a Páscoa deste ano pode ser um respiro para o varejo, depois de dois anos consecutivos em queda. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta que as vendas devem alcançar R$ 2,16 bilhões, uma recuperação de 33% em relação à Páscoa de 2021, mas ainda abaixo dos R$ 2,5 bilhões que a data movimentava em média nos anos anteriores à pandemia. Mas o salto no faturamento não é necessariamente sinal de luz no fim do túnel para a indústria, que foi abalada pela inflação, acumulada em média em mais de 15% sobre os insumos da produção do chocolate.
Ainda que o setor seja abastecido da matéria-prima nacional, o cacau, o açúcar e o leite não escaparam do aumento dos custos operacionais e com a distribuição no País. No caso dos ovos de Páscoa, o processo de produção, armazenagem e logística é ainda mais complexo e caro. Já as tradicionais barras e bombons – alternativas aos ovos de chocolate – tiveram um aumento médio de 10,7%. Isso porque, entre outros fatores, o açúcar e derivados acumulam alta de 19%. Mas a alta dos preços neste ano ainda não contabiliza os impactos da guerra na Ucrânia, que deve afetar a nova safra da cana-de-açúcar, uma das mais dependentes do fertilizante russo.
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A combinação entre elevação dos custos e queda do poder de compra tem desmotivado a indústria do chocolate, que reduziu a produção de ovos de Páscoa de 10 mil toneladas em 2019 para 8,5 mil toneladas em 2020, e 9 mil toneladas no ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas. A perspectiva em um cenário de crise e alta inflacionária afeta principalmente as compras das classes C e D, principal público nas redes de varejo. O grupo Carrefour aposta em produtos de chocolates das marcas próprias, cujas vendas vêm crescendo em média 20% ao ano. A marca paulistana Village, que produzia chocolates para categorias mais baratas, até decidiu abandonar a linha de Páscoa neste ano, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo. E enquanto as parreiras de ovos encolhem nos supermercados e nas lojas, as marcas apostam nas plataformas digitais e em estratégias de delivery para se aproximar dos consumidores.
Por isso, em redes como Cacau Show e Kopenhagen, o cenário é outro. Focada no público das classes A e B, cujo poder aquisitivo foi menos impactado, a Páscoa de 2021 da Kopenhagen teve crescimento de 20% em relação a 2019, e as vendas on-line representaram 40% do faturamento na data. Já a Cacau Show, que briga com a Brasil Cacau (do mesmo grupo da Kopenhagen) pelo mercado consumidor das classes B e C, apostou na ampliação do portfólio, com produtos a preços mais variados, principalmente na categoria de entrada. A companhia do empresário Alê Costa, segunda maior rede de franquias no País, com quase 3 mil endereços, tem a perspectiva de aumentar em 60% as vendas da Páscoa em relação ao ano passado. Todas as três marcas que operam com o varejo cresceram sua presença nos últimos dois anos em plataformas de delivery e até investiram em apps próprios, motivadas a fortalecer seus canais na crise.