12/03/2003 - 7:00
No dicionário Aurélio, paxá é uma palavra derivada do turco pãxã; título dado aos governadores das províncias do império otomano. No imaginário popular, no entanto, o paxá é um homem rico e que leva uma vida de luxúria. E é exatamente este significado que melhor sintetiza a vida e a obra do empresário catalão Ricardo Urgell, de 65 anos, fundador da lendária boate Pacha. Há 37 anos ele ouviu da então mulher, Marisa, que o clube que ele estava construindo em Sitges (Espanha) seria tão bem-sucedido que acabaria por transformá-lo em um verdadeiro paxá. Ele gostou tanto do nome que resolveu adotá-lo. Hoje, o clã Urgell é um exemplo de sucesso no segmento de lazer adulto. O carro-chefe de seu império de entretenimento é a boate Pacha, fundada em 1973 em Ibiza, a principal ilha espanhola na costa mediterrânea. Na lista de empresas também constam: uma revista (a Pacha World), um hotel de luxo (o Medianoche), a gravadora Pacha Records, quatro restaurantes, uma empresa de promoções, duas lojas de roupas, além de uma agência de Disc-Jockey. ?Estamos em fase de expansão dos negócios?, disse à DINHEIRO o jovem Ricardo de 29 anos (mais conhecido como Panchi), o caçula da família. ?E o Brasil e o Oriente Médio são as nossas prioridades?, completou o executivo que comanda o braço promocional do grupo, a Pacha Merchandising. No final de fevereiro, Panchi esteve no Brasil para divulgar a marca, fazer contatos com investidores, firmar parcerias e, claro, conhecer a noite paulistana. O sócio local já foi escolhido. Trata-se da Yaga Entertainment, que atua no segmento de eventos e promoções. Caberá a esta empresa abrir a primeira boate ? até o final do ano, possivelmente em São Paulo ? e depois selecionar e supervisionar os futuros franqueados na América Latina.
O lançamento da marca se deu no domingo 2, em uma festa que agitou Maresias, point dos endinheirados paulistanos (situado no litoral Norte de São Paulo). Apesar do ?jeito descolado?, típico dos verdadeiros bon vivants, Panchi mostra-se um executivo meticuloso e calculista na hora de falar dos negócios da empresa. Sobre o patrimônio da família e o valor da marca, nenhuma palavra. Dá, contudo, algumas pistas. Apenas com a taxa anual de franquia da boate Pacha (são 24 em nove países da Europa, além de uma na Argentina, aberta em 1993), a família arrecada em torno de US$ 4 milhões por ano. O sucesso é tamanho que sete novas filiais deverão ser abertas nos próximos meses em cidades da Turquia, Egito e Líbano. Outros 12 pedidos estão em fase de análise. Levando-se em conta que cada clube exige investimento médio de US$ 3 milhões, os novos empreendimentos exigirão gastos de US$ 57 milhões. A lista de franqueados inclui até mesmo o ator espanhol Antonio Banderas, dono da filial de Málaga (Espanha). De acordo com Hernan Toro, sócio-diretor da Yaga Entertainment, o Brasil comporta até 12 boates da marca. ?Nosso alvo são as capitais com mais de um milhão de habitantes?, explica ele.
O sucesso da Pacha é fruto de uma fórmula desenvolvida sob medida para fisgar o coração e a mente dos endinheirados do jet set mundial. ?É um local para ver, ser visto e sobretudo dançar?, conta o jovem Panchi. E não é só, o estilo arrojado da decoração e a música (que rola em cinco ambientes com estilos distintos) também ajudam a compor a atmosfera mística. Por conta disso, é possível encontrar nas noites de Ibiza, Londres ou Amsterdã desde o líder da banda U2, Bono Vox, até integrantes da família real britânica ou saudita, passando por magnatas do petróleo e astros de Hollywood (como a belíssima Halle Berry). Desde, é claro, que seja aceito pelos exigentes e seletivos hostesses. Não foi por outro motivo que a Pacha recebeu o título de a melhor boate do mundo, conferido pelo The New York Times. Em troca, os freqüentadores são brindados com os melhores DJs do mundo, dançarinas exóticas e um ambiente onde predomina o alto astral. ?Em cada temporada gastamos US$ 3,5 milhões apenas com cachês dos DJs?, conta o herdeiro do grupo Pacha. E é exatamente este pacote de sofisticação e alto-astral que a dupla Panchi-Toro pretende implantar no Brasil. Primeiro será feito um meticuloso trabalho de construção da marca, que já foi usada indevidamente por donos de boates em Campinas (SP) e Búzios (RJ). ?Vamos promover festas temáticas nas principais capitais do País?, conta Toro. A festa, pelo visto, não tem hora para acabar!