Um em cada oito adultos que tiveram Covid-19 apresenta sintomas de longa duração. A informação foi divulgada em um estudo publicado na revista científica “The Lancet” nesta quinta-feira (4).

Para analisar, o estudo contou com uma abordagem que comparava pacientes com “Covid longa”, aquela em que os sintomas demoram a passar, e população não infectada. Esse é um dos primeiros estudos a usarem esse tipo de comparação. Para os especialistas, a inclusão do público não infectado possibilita uma previsão mais assertiva da prevalência de sintomas de Covid-19 a longo prazo, além de melhor identificação dos principais sintomas relacionados.

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Os sintomas analisados foram as características mais frequentes em pacientes com Covid longa, como problemas respiratórios, dores musculares, dor no peito, fadiga e perda de olfato ou paladar que tenham sido pré-existentes ao diagnóstico e ou até em pessoas que não foram diagnosticadas.

“Esse método nos permite levar em consideração sintomas pré-existentes e manifestações em pessoas não infectadas para oferecer uma definição de trabalho aprimorada para Covid longa e fornecer uma estimativa confiável de quanto tempo a doença provavelmente vai durar na população em geral”, explica Judith Rosmalen da Universidade de Groningen, na Holanda, principal autora do estudo, em nota.

Para realizar a pesquisa, mais de 76.400 adultos na Holanda preencheram um questionário online sobre 23 sintomas típicos de Covid prolongada entre março de 2020 e agosto de 2021, sendo que cada participante respondeu ao questionário 24 vezes.

Conclusões

Com mais de 4.200 pessoas infectadas pela Covid-19, o que representa 5,5% dos respondentes ao questionário, mais de 21% tiveram pelo menos um sintoma aumentado com maior gravidade após três ou mais semanas da infecção. Porém, 8,7% das pessoas que não contraíram a doença também apontaram a mesma situação. Sendo assim, pesquisadores acreditam que 12,7% dos pacientes infectados, ou seja, quase um em cada oito, sofreram com sintomas de longo prazo.

Aranka Ballering, também da Universidade Holandesa de Groningen, diz que “ao observar os sintomas em um grupo controle não infectado e em indivíduos antes e após a infecção por SARS-CoV-2, conseguimos explicar sintomas que podem ter sido resultado de aspectos de saúde de doenças não infecciosas da pandemia, como o estresse causado por restrições e incertezas”.

Apesar dos dados interessantes, os autores reconhecem que ainda há limitações no estudo, como o fato de apenas analisar pacientes infectados com a variante Alfa ou cepas anteriores, excluindo casos da variante Delta ou Ômicron. Além disso, o estudo é baseado na população de uma região específica da Holanda, sem muitas variações étnicas.

Contudo, pesquisadores do Instituto de Saúde Pulmonar, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, que não estavam envolvidos com o estudo, apontam a pesquisa como um grande avanço.

“A pesquisa inclui um grupo não infectado correspondente e leva em conta os sintomas antes da infecção. O padrão de sintomatologia observado por Ballering e colegas foi semelhante a relatos anteriores com fadiga e falta de ar entre os sintomas mais comuns, mas curiosamente outros sintomas, como dor no peito, foram mais característicos daqueles com Covid longa versus controles não infectados”, afirmaram Christopher Brightling e Rachael Evans.