13/08/2025 - 16:00
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta quarta-feira um plano de ações para apoiar setores afetados pelo tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, incluindo crédito, prorrogações de tributos, estímulo à exportação e compras governamentais.
O plano inclui R$ 30 bilhões em linha de crédito, aportes de R$ 4,5 bilhões em diferentes fundos garantidores e até R$ 5 bilhões em créditos tributários a exportadores, informou o Palácio do Planalto. Das despesas previstas, R$ 9,5 bilhões devem ficar fora da contabilidade da meta fiscal.
De acordo com a Presidência da República, ações do plano, que serão implementadas por meio de medida provisória e dependerão de regulamentação nos próximos dias, estarão condicionadas à manutenção de empregos pelos setores, com fiscalização a ser feita pelo governo.
Um dos eixos do plano prevê o direcionamento de R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para concessão de crédito a taxas mais baixas, especialmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco do Brasil.
A liberação dos financiamentos vai priorizar setores mais afetados e empresas de menor porte, segundo o Planalto. Companhias pequenas e médias também poderão acessar fundos garantidores de crédito.
Em outra frente, haverá uma prorrogação de um ano no prazo do mecanismo de “drawback” — regime aduaneiro que permite a suspensão ou isenção de tributos incidentes na aquisição de insumos usados na fabricação de produtos exportados.
Essa medida amplia o prazo para que as empresas consigam exportar suas mercadorias que tiveram insumos beneficiados pelo regime. O incentivo será dado a companhias que comprovarem que contrataram exportações para os EUA que seriam realizadas até o final deste ano.
O governo também autorizou a Receita Federal a adiar por dois meses a cobrança de impostos para empresas que classificou como “mais afetadas pelo tarifaço”.
União, Estados e Municípios ainda poderão fazer compras para programas de alimentação, como merenda escolar e hospitais, em procedimento simplificado. A regra valerá para produtos afetados pelas sobretaxas dos EUA.
O governo ainda anunciou uma ampliação do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), com concessões de créditos tributários de até R$5 bilhões até dezembro de 2026.
Na prática, segundo o governo, a iniciativa antecipa efeitos da reforma tributária para que a atividade exportadora seja desonerada.
O plano também prevê novas regras de garantia à exportação, com mecanismos de compartilhamento de risco entre governo e setor privado, além de ampliação do número de operações de bancos e seguradoras que poderão usar garantias.
Para a concessão das garantias, serão feitos aportes adicionais de R$1,5 bilhão no Fundo Garantidor do Comércio Exterior (FGCE), R$2 bilhões no Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), e R$1 bilhão no Fundo de Garantia de Operações (FGO).
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse em entrevista à imprensa que o governo trabalhará com o Congresso Nacional a possibilidade de excluir despesas do governo com o plano da meta de resultado primário em 2025. Segundo ele, o valor solicitado será de R$9,5 bilhões, que inclui os aportes aos fundos e o Reintegra.
No evento de lançamento das ações, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o plano anunciado nesta quarta-feira representa a “primeira medida”, podendo não ser a única.
Em vigor desde a semana passada, a tarifa de importação de 50% vale para uma série de produtos exportados aos EUA que representam cerca de 36% das vendas do Brasil ao país norte-americano, incluindo carne, café, frutas e calçados. Há ainda uma fatia de quase 20% que se enquadra em tarifas que os EUA aplicaram globalmente, variando de 25% a 50%.
A taxação foi imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para combater o que ele chamou de “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Uma lista de exceções deixou de fora da cobrança aproximadamente 700 produtos, poupando setores como os de aeronaves, energia e suco de laranja.
No evento, Lula afirmou que o Brasil continuará “teimando” nas negociações, com exigência de que a soberania do país seja respeitada. Ele também defendeu a busca de outros mercados para produtos brasileiros.
“O mundo é grande, o mundo está ávido para fazer negociação com o Brasil”, disse.