O pacote de medidas anunciado pela Argentina ‘não acrescenta muito’ ao cenário conturbado que o país enfrenta. É o que avaliam economistas ouvidos pela IstoÉ Dinheiro sobre a nova fase da política monetária do irmão sul-americano, que prevê aumento da taxa de juros para 97%, ante 91%, além de acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A inflação do país chegou aos 108%.

“Resumiria o pacote todo a uma só medida, que é o aumento das taxas de juros: isso está sendo feito porque a inflação não dá trégua. De resto, nas medidas com relação ao câmbio, não sabemos o que isso significa em termos de efetividade na contenção da escalada do dólar. O banco central argentino não tem reservas, portanto, não tem como intervir no mercado de câmbio”, avalia Mauro Rochlin, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas. 

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O Ministério da Economia informou que haverá aceleração dos acordos com o FMI, os swaps da China e a tratativa de garantias com o bloco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para importações e câmbio com o Brasil; o nível de consumo interno através da promoção do consumo de produtos de origem nacional será incentivado. 

A pasta também confirmou que o Banco Central aumentará “a intervenção no mercado de câmbio e administrará o ritmo do rastreamento” da desvalorização progressiva do peso argentino.

Para Alexandre Pires, professor de Economia do IBMEC SP, o pacote ainda é insuficiente. “O aumento da taxa de juros ainda está abaixo da inflação prevista; logo as taxas estão negativas e não teriam um efeito de contenção dos desequilíbrios inflacionários. Do ponto de vista fiscal, não se faz um alinhamento com o custo do Estado, ou seja, o tamanho do orçamento e as receitas obtidas”, esclarece. 

“Então, a falta de sinalização numa capacidade de cumprimento de metas fiscais, de honrar as dívidas e de conseguir fazer um acordo efetivo com o FMI, impede que o acordo seja visto como um acordo saneador e que equilibra ali a situação da Argentina”, completa Pires. 

Esforço brasileiro

O presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT) dedicou alguns de seus encontros internacionais com o mandatário argentino Alberto Fernández, anunciando esforços para auxiliar o país vizinho na recuperação econômica.

“O FMI sabe como a Argentina se endividou, sabe para quem emprestou o dinheiro. Portanto, não pode ficar pressionando um país que só quer crescer, gerar empregos e melhorar a vida do povo. Do ponto de vista político, eu me comprometi com meu amigo Alberto Fernández que vou fazer todo e qualquer sacrifício para que a gente possa ajudar a Argentina neste momento difícil”, ressaltou Lula.

“O Brasil pode oferecer uma ajuda muito acessória e coadjuvante nesse cenário. O que está se buscando fazer é uma certa câmera de compensações de créditos e débitos de exportadores e importadores de ambos lados. A ideia é que essa câmera de compensação, ajude a reduzir riscos de lado a lado, principalmente do lado dos exportadores brasileiros, para que o comércio não seja prejudicado”, defende Rochlin. 

Pires acredita que, até as eleições argentinas, que acontecem no fim de 2023, as medidas vão ser paliativas. Não vamos ter neste momento nada muito drástico, porque não se sabe se o efeito vai ter o melhor ou se vai ser negativo do ponto de vista eleitoral”, conclui.