O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, 6, que não pode adiantar quais propostas de contenção de gastos estão sendo discutidas pelo governo porque o pacote de medidas ainda não está fechado. Duas fontes que participam das discussões disseram à Reuters que o anúncio só deve ocorrer na próxima semana.

“Estou em um processo de discussão muito, muito sério com o governo, porque conheço bem o discurso do mercado, a gana especulativa do mercado”, disse Lula em entrevista à Rede TV, que teve trecho veiculado no portal UOL antes da divulgação na íntegra.

Antes da entrevista de Lula, Haddad tinha dito na manhã desta quarta que a rodada de reuniões entre ministros para tratar das medidas fiscais estava concluída, acrescentando que o próximo passo seria Lula conversar com os presidentes das duas Casas do Congresso antes do envio das medidas para análise dos parlamentares.

Mais tarde, após sair de encontro com o presidente, o ministro disso que uma reunião para fechar detalhes que ainda precisam ser discutidos será realizada na quinta-feira, 7. Segundo ele, Lula quer incluir todo o governo nas discussões.

Perguntado sobre a data do anúncio e se poderia ser feito após a reunião de quinta-feira, Haddad afirmou que “a questão é como é que o presidente vai decidir dialogar com as duas Casas”.

Lula fala de emendas e subsídios

Na entrevista à Rede TV, Lula afirmou que o corte de gastos não pode ocorrer às custas dos mais necessitados e questionou se demais setores da sociedade aceitariam contribuir para a questão fiscal.

“Se eu fizer um corte de gastos para diminuir a capacidade de investimento do Orçamento, a pergunta que eu faço é a seguinte: ‘o Congresso vai aceitar reduzir as emendas de deputados e senadores para contribuir com o ajuste fiscal que eu vou fazer?'”, disse.

“Os empresários que vivem de subsídio do governo vão aceitar abrir mão um pouco do subsídio para a gente poder equilibrar um pouco a economia brasileira? Vão aceitar? Eu não sei se vão aceitar”, acrescentou.

O governo tem sido pressionado pelos mercados a apresentar medidas convincentes de cortes de gastos para assegurar o arcabouço fiscal, e a vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial norte-americana elevou essa necessidade, caso contrário câmbio e juros seguirão pressionados, afirmaram analistas ouvidos pela Reuters.

Reportagem da Reuters na terça-feira, 5 informou que o governo estuda colocar os limites dos gastos com saúde e educação sob um teto geral que já vigora para outras despesas. Segundo fontes, a ideia é que essas despesas passem a ser disciplinadas pelas regras estabelecidas pelo arcabouço fiscal aprovado no ano passado pelo governo Lula, que combina metas de resultado primário com um teto para o crescimento real das despesas de até 2,5% ao ano.