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“Demitir é jogar dinheiro fora” ALDO BIASETTON, DONO DA EUROBIKE

O SETOR DE LUXO ESTÁ imune às crises. O empresário Aldo Biasetton, dono da Eurobike, não acredita muito nessa história – uma espécie de dogma do mundo corporativo. Maior importadora de veículos de luxo do País, com 24% do mercado, a Eurobike viu suas receitas caírem com a chegada da crise. Em vez de demitir, porém, chamou seus 198 funcionários e propôs um pacto. Eles abririam mão de alguns benefícios e a empresa se comprometeria a não cortar pessoal durante um certo tempo. Biasetton também assumiu uma postura transparente, rara entre empresários. Caso a receita caia mais do que 15% em relação à de 2008, quando fechou em R$ 370 milhões, o acordo poderá ser revisto, inclusive com a demissão de funcionários. A empresa até fixou um número: 20% do quadro de pessoal perderia o emprego. “O bolo diminuiu, mas vamos continuar dividindo com o mesmo número de pessoas”, diz Biasetton. Com o pacto, os representantes de vendas das seis lojas da companhia aceitaram uma redução na comissão. Além disso, as atividades desses executivos foram redesenhadas. Em vez de cada um atender uma região específica, eles passaram a trabalhar exclusivamente para uma das seis marcas que a companhia representa, como BMW, Land Rover e Porsche. Assim, as viagens se tornaram mais frequentes. “Abrimos mão da vida social, pois agora viajamos muito. Mas fizemos isso pelo bem de todos”, afirma Mariana Vieira, gerente da marca BMW na Eurobike.

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O acordo também preserva investimentos, explica Biasetton. “Ao demitir, jogamos no lixo todo o investimento que fizemos em treinamento e capacitação de nossos funcionários. Além do mais, ganhamos muito dinheiro nos últimos anos com essa equipe. Agora é hora de devolvermos um pouco”, acrescenta. Na avaliação de Biasetton, as vendas do setor de carros de luxo deverão cair entre 15% e 20% – o que não significa automaticamente uma queda na receita, já que ela também é alimentada pelo pós-venda.

Por isso, a Eurobike pretende compensar a retração na comercialização reforçando sua atuação na área de serviços. “Em tempos de crise, as pessoas deixam de trocar de carro e investem na manutenção dos que possuem”, afirma. Mais de 60% dos investimentos previstos para este ano serão destinados para treinamento e aquisição de equipamentos de manutenção. O emprego de funcionários como Mariana depende do sucesso dessas medidas. “O ano passado foi muito bom”, diz ele. “Em janeiro deste ano repetimos o resultado de janeiro de 2008”, diz ela. Ou seja, a primeira batalha foi vencida. Que venha o resto da guerra.