MERCADO CONTRA AGÊNCIAS:  a empresa de Jorge e André Gerdau está no meio do tiroteio
O ano está complicado para o setor siderúrgico, mas especialmente a gaúcha Gerdau tem sofrido golpes mais fortes. Dependente da exportação, alto endividamento e enfrentando a retração dolorosa de suas operações fora do Brasil, a empresa viu suas ações despencarem 8,7% no ano, até 26 de março. No entanto, o otimismo do mercado somado à crença de que a empresa tem caixa suficiente para saldar seus contratos de curto prazo e amortizar sua dívida de R$ 2 bilhões fizeram os papéis sustentarem uma forte alta em sete dias. A ação PN subiu 19,6%. Em Nova York, a ADR da Gerdau chegou a US$ 6,10 na quinta-feira 26.

Seu maior valor desde fevereiro. Nem mesmo o anúncio da agência de classificação de risco Standard & Poors reduziu o volume de negociações nos últimos dias. A agência emitiu um comunicado colocando em revisão o rating da empresa, com possibilidade de rebaixá-lo. A notícia, no entanto, foi nula. Que o digam os analistas. ?Estávamos recomendando a venda das ações, mas após os últimos dados, passamos a sugerir a compra da Gerdau?, diz a equipe do Banif Investment Bank, que acredita que o caixa é suficiente para honrar seus compromissos, inclusive aumentando o Ebitda, que pode chegar a R$ 6,6 bilhões no fim do ano.

Ao que parece, a credibilidade das agências de risco foi tão afetada com os desdobramentos da crise que suas avaliações são irrelevantes.


DESTAQUE NO PREGÃO
Lucro protegido

 
A Forjas Taurus deu um salto no seu lucro em quatro anos. Saiu de R$ 13 milhões em 2005 para R$ 55 milhões no ano passado. É recorde histórico para a companhia. Um dos pontos a ser destacados é o controle de custos. A Taurus está trabalhando para ter uma produção enxuta, sem desperdício de materiais com alto aproveitamento da sua capacidade de produção. Seus principais negócios ? armas (60%) e capacetes (20%) ? também expandiram sua participação de mercado. A venda de capacetes foi beneficiada pelo crescimento dos negócios com motocicletas. As receitas cresceram de R$ 79,2 milhões em 2007 para R$ 100,9 milhões em 2008. Já as armas, aumentaram a receita de R$ 216 milhões para R$ 355 milhões. Um dos principais destinos é a exportação, com a venda para os Estados Unidos (ver Palavra de analista). O papel da empresa estava em alta de 1,6% no ano, negociado a R$ 3,8.
 

PALAVRA DE ANALISTA

O resultado da Forjas Taurus vai além das suas vendas para os EUA. No ano passado, a companhia travou suas operações em moeda estrangeira a R$ 1,81. ?A empresa não absorveu totalmente o benefício da apreciação do dólar?, diz Rafael Weber, analista do Banco Geração Futuro. E neste ano, venda com a cotação do dia só no segundo semestre. Até junho, a Taurus continua com o mesmo dólar abaixo de R$ 2. Ou seja, a empresa tem ganhado participação de mercado e aproveitado seus outros negócios, como a fabricação de capacetes, para gerar resultado para o acionista. ?A Taurus será uma das poucas que terá lucratividade no final deste ano?, analista Weber.
 

INFORMÁTICA
Resultado slim da Positivo

 
A valorização do dólar acertou em cheio a Positivo Informática. A fabricante de PCs vendeu recordes 1,6 milhão de unidades e conseguiu um faturamento de R$ 2,3 bilhões. Porém, como seus componentes são importados, a valorização da moeda estrangeira prejudicou o resultado final. O lucro líquido encolheu 39,3% na comparação com o ano anterior. ?Os setores de informática e eletroeletrônicos foram pressionados pelo câmbio, tiveram um aumento dos custos, mas não conseguiram repassar para o varejo?, afirma Alan Cardoso, analista da Ágora Corretora. ?A empresa está saudável. Encerrou suas dívidas no primeiro trimestre e está com o caixa zerado?, diz Cardoso. Na semana passada, a companhia comandada por Hélio Rotenberg cancelou o contrato com o UBS Pactual, seu formador de mercado.

 

QUEM VEM LÁ
Novas ações na praça 


O mercado de ações continua fechado para novas emissões. E o crédito permanece caro para as empresas. Qual é a saída para as companhias se financiarem? Gol e AmBev decidiram fazer um aumento do capital com a emissão de novas ações. Ainda não está definido o formato, mas se a subscrição for pública, será preciso realizar registro na CVM. Neste caso, os investidores que possuem ação da empresa têm preferência para a compra. A ideia da companhia área comandada por Constantino Jr. é levantar R$ 203,5 milhões para equilibrar o caixa. Já a da Ambev, que convocou a assembleia para 28 de abril, é conseguir R$ 101,3 milhões. A proposta do valor unitário da emissão é de R$ 80,14 por ação ordinário e R$ 94,91, por preferencial.
 

FIQUE DE OLHO: Há uma tendência de equiparação de preços entre o mercado e a subscrição. A preferencial da Ambev fechou a R$ 112 na quinta 26. Antes de comprar, avalie se vale ser sócio da empresa.
 

TOURO X URSO
 
O primeiro trimestre do ano termina, oficialmente, na terçafeira. E poucos acreditavam que o touro, símbolo de alta na Bolsa, sairia na frente. O Ibovespa acumulava alta de 13,4% até a quinta 26. Se a previsão dos analistas estiver certa, daqui para frente as Bolsas mundiais começarão a trabalhar em outro patamar, com boa perspectiva de céu menos nublado no segundo semestre. A volatilidade, porém, continuará presente. 

Após o anúncio do novo pacote do governo americano para salvar o sistema financeiro, as Bolsas mundiais respiraram mais aliviadas. Será preciso, porém, que a economia volte a movimentar suas engrenagens. Atenção à divulgação dos dados de março sobre a atividade industrial no Brasil e nos EUA, na terça 31. Os números poderão mostrar a confiança do empresário na recuperação econômica mundial e perspectivas de aumento de vendas.

 
EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Analisar o cenário macroeconômico é um dos primeiros passos para se investir com consciência. O economista norte-americano Paul Krugman, que anteviu os efeitos da crise, aponta as medidas que devem ser tomadas para reverter os problemas globais em A crise de 2008 e a economia da depressão (Ed. Campus).

MERCADO EM NÚMEROS


ROSSI RESIDENCIAL
R$ 1,2 bilhão

Foi a receita da Rossi Residencial em 2008, crescimento de 63,1% em relação ao ano anterior. O valor geral de vendas (VGV) de R$ 2 bilhões cumpriu o planejamento feito no início do ano pela companhia

EMBRAER
? 148 milhões

É o investimento confirmado pela Embraer na construção de novas instalações em Portugal. O prazo dado pela empresa é de seis anos.

NATURA
R$ 0,59

É o valor dos dividendos que a Natura pagará para seus acionistas. O juro sobre capital próprio ficou estipulado em R$ 0,11 por ação. O pagamento ocorre a partir de 8 de abril.

EMBRATEL
22,4%

Foi a queda no lucro líquido da Embratel no ano passado, quando a companhia registrou R$ 612,7 milhões. No mesmo período, a receita líquida cresceu 13,3%, de R$ 8,6 bilhões para R$ 9,7 bilhões.

PERDIGÃO
R$ 54 milhões

Foi o lucro líquido da Perdigão no ano passado, queda de 83% em relação a 2007. Já o Ebtida de R$ 1,2 bilhão representa um crescimento de 44%.

SADIA
R$ 300 milhões
Foi o investimento realizado pela Sadia em uma fábrica de embutidos inaugurada na semana passada em Pernambuco. A expectativa é que esta fábrica gere uma receita adicional de R$ 390 milhões para uma produção anual de 147 mil toneladas.

SOUZA CRUZ
R$ 0,08

É o juro sobre o capital próprio que a Souza Cruz distribui para cada uma de suas ações desde 24 de março.
 


 

PERSONAGEM

Lição de casa benfeita

O Sistema Educacional Brasileiro (SEB), dono da marca COC, reforçou a sala de aula. Saiu às compras e adquiriu cinco instituições de ensino. Pela mais importante, o Grupo Dom Bosco, de Curitiba (PR), com ensino básico e superior e uma editora, a empresa comandada por Chaim Zaher pagou R$ 94,5 milhões. Desde a abertura de capital, em outubro de 2007, o SEB comprou ao todo oito diferentes escolas, incluindo a recente aquisição do Instituto Efigênia Vidigal, em Belo Horizonte. E a cartilha continua aberta na seção aquisições. Marco Rossi, diretor financeiro e de relações com investidores, falou com a DINHEIRO:

DINHEIRO ? Será preciso se recapitalizar com o ritmo de aquisições?
MARCO ROSSI ? Apesar do perfil diferenciado que foi a aquisição do Dom Bosco, não teremos que retornar ao mercado de capitais. Estamos com ativos e nossa atividade é geradora de caixa. Temos R$ 135 milhões no balanço e vamos retomar algumas conversas para continuar crescendo.

DINHEIRO ? Quais são os setores em que vocês estão de olho?
ROSSI ? Gostamos do nosso modelo diversificado. Estamos olhando todos os segmentos. Continuamos na educação básica, que é catalisadora de outras linhas de negócio. Temos como critério a segurança e a seriedade, não um setor específico.

“Temos R$ 135 milhões e vamos continuar crescendo”


 
MARCO ROSSI, diretor financeiro e de RI do SEB

DINHEIRO ? Em qual Estado?
ROSSI ? Nas capitais do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, por exemplo, não estamos presentes. Todos estes são mercados populosos e nosso foco de expansão.

DINHEIRO ? A crise econômica pode trazer a inadimplência. Como vocês estão lidando com essa eventual perda de receita?
ROSSI ? Para nós, o reflexo é marginal, desprezível. É um benefício do nosso modelo. E 73% da receita vem da educação básica, que é menos sensível a crises econômicas. Um pai dificilmente tira o filho da escola particular durante um ano no momento do aperto financeiro. O ensino superior, de certa maneira, é mais gerenciável pelo aluno, porque ele pode trancar e esperar um ano para voltar.

DINHEIRO ? O SEB está agressivo na distribuição de dividendos?
ROSSI ? Nosso dividendo é significativamente mais alto. É uma sinalização ao acionista e um sinal do crescimento da companhia. Queremos o melhor uso para o recurso. Estamos confortáveis com nossa posição financeira na crise e não tivemos dificuldades para distribuir para os sócios.

DINHEIRO ? Há possibilidade de alteração na negociação das units?
ROSSI ? Não estamos avaliando essa possibilidade. Existe um projeto de lei que inibe os estrangeiros de participarem das instituições de ensino. E as units contemplam esse aspecto. Estamos listados como Nível 2 e temos todos os direitos de tag along. É igual aos que estão no novo mercado.
 

PELO MUNDO
GOOGLE ENXUTO


O Google anunciou que vai cortar cerca de 200 vagas nas áreas de marketing e vendas dos cerca de 21 mil funcionários. A empresa tem procurado reduzir velozmente os custos. Em 2008, 97% dos US$ 21,8 bilhões em receitas da empresa vieram da publicidade. A ação do Google subiu 2,7% na quarta-feira 26. 

 
CULPA DA MOEDA

A rede varejista sueca H&M apresentou um aumento nas vendas de 18% no primeiro trimestre de 2009, se comparado ao mesmo período do ano passado. No entanto, a desvalorização da moeda local, a krona, provocou queda de 12% no lucro global do grupo. As ações da empresa tiveram queda de 3,5% na bolsa de Estocolmo na quinta-feira 26.
 
 
BEST BUY SURPREENDE

A varejista norte-americana Best Buy superou as estimativas de mercado e divulgou um aumento de receita maior do que o esperado para o primeiro trimestre fiscal. Segundo a rede de eletrônicos, a alta foi de 10%. Na quinta-feira 26, as ações da empresa tiveram alta de 10% na NYSE.

 
 
TOMBO DA GIGANTE
A PetroChina, segunda maior companhia do mundo em valor de mercado, divulgou queda de 22% no lucro líquido em 2008. A razão foi a diminuição do preço do óleo. Os ganhos somaram US$ 16, 7 bilhões. A empresa não tinha queda no lucro desde 2001. Suas ações, no entanto, operavam em alta de 1,14% no dia do anúncio, na quinta-feira 26.
 

Com Márcio Kroehn

AVISO ? Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas por seus leitores. Os autores detêm ações das seguintes empresas: Vale, Petrobras, Usiminas, BM&FBovespa, Bradesco, Itaú, Redecard e Pão de Açúcar