Um juiz da Itália negou o pedido dos pais de um menino de 2 anos, com necessidade urgente de uma cirurgia cardíaca, para que os médicos só usassem transfusões de sangue de dadores não vacinados. A saga médica começou no norte da Itália quando o pai da criança – que tem doença cardíaca – pediu ao hospital Sant’Orsola de Bolonha que não usasse sangue doado por pessoas que foram vacinadas contra a Covid-19, fazendo com que a cirurgia fosse adiada.

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Segundo relatou o jornal ‘La Gazzetta di Modena’, o pai utilizou os canais antivacina da rede social Telegram à procura de voluntários. “Urgente. Sangue não vacinado é necessário para uma cirurgia delicada”, escreveu, sob o pseudónimo Paolo. Quando os médicos disseram aos pais que o pedido – que teria sido feito por motivos religiosos – não atendia aos critérios do hospital para doações de sangue, o casal recorreu aos advogados e iniciou uma ação legal.

A questão foi levada pelo hospital ao juiz tutelar da vizinha Modena, cuja função é fiscalizar a proteção de indivíduos vulneráveis, incluindo crianças, e cujos processos judiciais são de natureza informal. O juiz rejeitou o recurso dos pais e disse que era totalmente seguro usar sangue de dadores vacinados. O advogado do casal disse que eles podem recorrer, de acordo com a agência nacional de notícias ‘ANSA’.

Os pais teriam apresentado uma lista de 40 pessoas não vacinadas que estavam dispostas a doar sangue para o seu filho doente. Mas quando se trata de transfusões, existem normas que devem ser seguidas, garantiu o chefe do hemocentro da Itália. “As escolhas são baseadas em critérios de compatibilidade e não em caprichos. Usar o sangue de pessoas não vacinadas não tem base científica porque a vacina não é transmitida com a transfusão”, apontou Vincenzo de Angelis ao ‘Corriere di Bologna’.

Não é o primeiro caso na Itália: em 2021, duas irmãs recusaram uma transfusão de sangue para o seu pai doente, com 90 anos, devido a preocupações com dadores vacinados, lembrou Nino Cartabellotta, chefe do GIMBE, organização de apoio aos direitos universais de saúde. “Para muitos – médicos incluídos – os resultados anedóticos são mais valiosos do que os grandes ensaios clínicos randomizados e controlados”, explicou Cartabellotta.

Quase 80% da população italiana está totalmente vacinada, enquanto cerca de 56% já tiveram a dose de reforço. A Itália registou mais de 138 mil mortes por coronavírus desde que o surto surgiu em fevereiro de 2020, o segundo maior número na Europa depois do Reino Unido.