16/03/2018 - 12:24
Economista sênior do Banco Mundial, Rafael Muñoz Moreno defendeu que o Brasil trabalhe por uma abertura comercial no médio prazo. Perguntado sobre se isso seria benéfico mesmo em um contexto de risco de mais tarifas à importação dos Estados Unidos, ele argumentou que o País não deve se concentrar em questões de curto prazo. “Creio que esse foco no curto prazo não vai resolver essa questão.”
Muñoz Molina falou em entrevista ao Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado), durante evento em São Paulo da Câmara de Comércio Espanhola. Segundo ele, uma orientação decidida por mais abertura em um período de médio prazo, por exemplo de uma década, ajudaria a orientar as expectativas dos agentes econômicos, inclusive dos empresários. “Se eles sabem hoje que dentro de dez anos haverá uma abertura comercial clara, isso os ajudaria a preparar questões como gestão, mão de obra”, comentou.
O economista do Banco Mundial lembrou que, no contexto do Mercosul, é necessário um consenso entre todos os agentes do grupo, para que essa abertura se concretize. Segundo ele, porém, o quadro regional sugere que essa oportunidade existe. “Há países, como a Argentina, que estão apostando definitivamente por uma abertura comercial”, destacou.
Nesse contexto, Muñoz Molina sugeriu diálogo dentro do Mercosul, a fim de aprofundar o comércio entre os países do bloco, e também que se explore a possibilidade de abertura econômica com as demais nações, no médio prazo.
Produtividade
Economista sênior do Banco Mundial defendeu, em apresentação nesta sexta-feira, que o País enfrente uma agenda para melhorar sua produtividade. “O problema não é o que o Brasil produz, mas como o faz”, afirmou.
Muñoz Moreno disse que há no Brasil uma grande quantidade de empresas que “continuam a existir, mesmo se não forem produtivas”, já que o mercado não consegue “disciplinar” esses casos. O principal problema, segundo ele, é a baixa produtividade e a modesta concorrência. “O Brasil tem um problema grande de concorrência interna”, ressaltou, citando como um dos motivos o mercado “muito fragmentado”.
O economista lembrou que o Brasil ficou apenas em 125º lugar no ranking “Doing Business” da entidade, divulgado em outubro. Nesse contexto, ele argumentou pela necessidade de mais abertura comercial. Segundo estudo do Banco Mundial, em um cenário hipotético de redução de 50% das tarifas do Brasil com os países de fora do Mercosul e também de barreiras não tarifárias dentro do bloco, 6 milhões de pessoas poderiam sair da pobreza. Uma maior integração do mercado interno poderia trazer outras 3 milhões de pessoas para fora da linha de pobreza. “O impacto da abertura seria muito benéfico para os pobres”, ressaltou.
Muñoz Moreno admitiu que as regiões mais ao sul do Brasil seriam as mais beneficiadas. Ainda assim, defendeu a mudança, já que, segundo ele, o País já gasta muito atualmente com incentivos, mas esses não trazem os impactos desejáveis. O dirigente do Banco Mundial defendeu também maior coordenação na política comercial, inclusive com o setor privado, mas sem que o governo permita que os agentes privados capturem essas reformas em benefício próprio. “É preciso se concentrar nos que mais precisam”, disse, citando a necessidade de melhora na formação da mão de obra, nos primeiros anos e também ao longo da vida laboral.
O economista avaliou ainda que o quadro no Brasil, com distorções tributárias internas, dificuldades para pagar impostos, infraestrutura ruim e custos altos de insumos, dificulta que as empresas brasileiras participem de cadeias produtivas globais, o que limita seu crescimento.