15/09/2025 - 19:18
Quase 60 nações árabes e islâmicas pedem que mundo revise relações com Israel após bombardeio no Catar. Ao lado de Rubio, premiê Netanyahu reconhece isolamento crescente de Israel e diz temer sanções.Líderes de quase 60 Estados árabes e islâmicos instaram países ao redor do mundo a rever seus laços diplomáticos e econômicos com Israel até que o país encerre a guerra na Faixa de Gaza.
A declaração veio após uma cúpula de emergência realizada em Doha com lideranças dos países da Liga Árabe e da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), convocada após o ataque israelense contra membros do grupo islamista Hamas na capital do Catar, na semana passada.
Os países presentes na cúpula instaram “todos os Estados a tomarem todas as medidas legais e eficazes possíveis para impedir que Israel continue suas ações contra o povo palestino”, incluindo “rever as relações diplomáticas e econômicas com o país e dar início a processos judiciais”.
A declaração final da cúpula sugere ainda a imposição de sanções e um embargo do comércio de armas para Israel. Os 57 Estados-membros da OCI também devem unir forças dentro das Nações Unidas para suspender a filiação de Israel na entidade.
Os participantes condenaram “a brutal agressão israelense contra o Catar e a continuação de práticas israelenses agressivas, incluindo crimes de genocídio, limpeza étnica e fome”, bem como os assentamentos e as políticas expansionistas, afirmando que elas minam qualquer perspectiva de paz na região.
Na semana passada, Israel lançou um ataque inédito contra membros do Hamas que se encontravam em Doha. Aviões israelenses bombardearam uma área residencial na cidade, deixando seis mortos, incluindo um oficial de segurança do Catar, e feriu outras 18. O grupo palestino afirmou que seus líderes sobreviveram.
Netanyahu acusa “hipocrisia”
O ataque, que ocorreu em meio a negociações em andamento sobre um cessar-fogo e um acordo de libertação de reféns entre Israel e o Hamas, atraiu críticas globais e motivou a realização da cúpula de emergência.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou as críticas internacionais a seu país durante uma coletiva de imprensa ao lado do secretário de Estado americano, Marco Rubio, nesta segunda-feira em Jerusalém.
“É direito de todo país, sob o direito internacional, se defender além de suas fronteiras contra aqueles que matariam seus cidadãos”, disse Netanyahu.
Ele disse que outros países não devem fornecer refúgios para terroristas e que ninguém condenou os Estados Unidos por suas ações contra a Al-Qaeda no Afeganistão e no Paquistão após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
As críticas internacionais a Israel, na visão do premiê, seriam, portanto, de um “imenso cinismo e hipocrisia”.
Israel teme isolamento e sanções
Em um raro reconhecimento do isolamento decorrente das críticas internacionais à guerra em Gaza, Netanyahu disse que Israel enfrenta uma ameaça econômica de sanções e outras medidas.
Ele atribuiu o isolamento às minorias na Europa que promovem “ideologia antissionista e islâmica extremista”, e a países como o Catar, que, segundo afirmou, investem na formação do discurso global por meio das mídias sociais.
“Isso leva a sanções contra Israel e altera a posição internacional de Israel […] e gera uma espécie de isolamento”, disse Netanyahu. “Podemos romper com esse isolamento, mas precisamos investir pesadamente em contramedidas particularmente em operações de influência na mídia e nas redes sociais.”
Rubio minimiza crise com Catar após ataque
O secretário de Estado americano programou uma passagem rápida pelo Catar nesta terça-feira, antes de voar para Londres para se juntar ao presidente dos EUA, Donald Trump, em sua visita de Estado ao Reino Unido.
“Entendemos que eles não estão felizes com o que aconteceu”, disse Rubio em Jerusalém. Mas “ainda temos o Hamas, ainda temos reféns e ainda temos uma guerra. Todas essas coisas ainda precisam ser resolvidas, e estamos esperançosos de que o Catar e todos os nossos parceiros do Golfo continuem a acrescentar algo construtivo.”
Tanto Netanyahu quanto Rubio disseram que a única maneira de encerrar o conflito em Gaza é por meio da eliminação do Hamas e da libertação dos 48 reféns restantes, dos quais Israel acredita que cerca de 20 ainda estejam vivos.
O Hamas afirmou que só libertará os reféns restantes em troca de prisioneiros palestinos, um cessar-fogo duradouro e a retirada israelense de Gaza. As declarações dos dois lados frustram as esperanças de um cessar-fogo que possa levar ao fim do conflito.
A guerra em Gaza foi desencadeada pelos ataques terroristas em Israel por militantes do Hamas, que mataram cerca de 1.200 pessoas e capturaram 251 reféns, segundo dados israelenses. A reação militar israelense em Gaza matou mais de 64.000 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do enclave palestino, administrado pelo Hamas
rc (DPA, Reuters, AP)