21/06/2022 - 11:24
A Ucrânia impôs seu relato sobre a guerra que destrói o país, às vezes por exagero ou com dados que não podem ser verificados. Mas os países ocidentais afirmam que a comunicação real com seu aliado ucraniano é satisfatória.
Desde a invasão russa em 24 de fevereiro, os ucranianos divulgam números sobre as perdas humanas e materiais de ambos os lados, que nenhum analista leva realmente a sério.
Mesmo com seus aliados, a transparência não é total, mas ninguém reclama.
“Está claro que os ucranianos controlam as informações (…) perfeitamente”, afirma à AFP Mark Cancian, analista do think tank americano CSIS. “Não é incomum. Aliados sempre manipulam seus protetores”.
“Os ucranianos têm sido muito fortes – e continuam sendo – no campo da informação. Eles venceram a batalha da narrativa nos países ocidentais”, concorda uma fonte militar francesa.
“Fomos imersos em imagens capturadas muito perto do terreno. Os russos, surpreendentemente, permaneceram completamente ausentes neste âmbito, apesar de que esperávamos sua máquina de propaganda”, acrescenta.
Todos os dias, o ministério da Defesa ucraniano publica estimativas das perdas russas. Cerca de 34.100 mortos, 1.496 tanques e 216 caças no último balanço.
“Eles deveriam ter vergonha de publicar esses números” por serem exagerados, estima Cancian.
– “O visível, o real” –
Contra esses dados, as estimativas ocidentais são muito mais baixas: 15.000 a 20.000 soldados russos mortos. Também em relação ao material, que empresas privadas como a Oryx avaliam com base no que podem comprovar visualmente.
O historiador militar e coronel francês aposentado Michel Goya fala da “margem de erro entre o visível e o real”.
“Material militar, especialmente antigos equipamentos soviéticos, podem ser perdidos sem serem atingidos. É bem possível para os canhões de artilharia não tenham sido usados após alguns milhares de tiros”, diz.
Dados precisos são inexistentes e a AFP não conseguiu obtê-los de fontes independentes.
Estas informações são essenciais para que Otan, Estados Unidos e União Europeia avaliem a situação na frente e sua ajuda à Ucrânia.
“A imprensa foi um pouco enganada pelos relatórios ucranianos, pensados para dar impulso às entregas de armas” da Otan, comentou Phillips O’Brien, professor de estudos estratégicos da Universidade Escocesa de Saint Andrews.
“O que acontece no terreno (…) não corresponde às declarações públicas”.
Mas há uma grande diferença entre as declarações públicas e trocas entre os militares e os serviços de inteligência. Neste nível, os países ocidentais estão tranquilos.
Fontes americanas contactadas pela AFP afirmam saber exatamente em que situação os ucranianos estão.
“Eu não ouvi os americanos reclamando de serem enganados, isso é um bom sinal”, diz Cancian.
– “Regras” –
De fato, a relação bilateral entre os Estados Unidos e a Ucrânia parece sólida. Mesmo que Washington às vezes tenha parecido um pouco solitário quando afirmou que Moscou estava preparando uma guerra.
O presidente ucraniano, Volodymyr “Zelenski, não ouviu o que dissemos a ele. Ele só chamou os reservistas quando a guerra começou”, explica Cancian.
O presidente Joe Biden lembrou recentemente disso, dizendo que na época sabia que “Putin iria cruzar a fronteira”, mas que “Zelensky, como muitas outras pessoas, não quis ouvir”.
Mais tarde, o presidente ucraniano cobrou medidas – a exclusão aérea, tanques, caças – que foram rejeitadas.
Agora “pede coisas que estamos dispostos a dar. A relação é muito mais próxima”, diz Cancian.
É evidente que “os ucranianos não dizem tudo, mas isso não significa que mentem”, considera um alto funcionário francês.
Na realidade, as discussões são “muito técnicas, muito precisas”. “Existem regras”, assegura.