19/12/2007 - 8:00
Quem chega de carro próximo ao Parque Burle Marx pela Marginal Pinheiros, em São Paulo, depara-se com um casarão que não combina com o verde do ambiente. Gigantesca, com as paredes manchadas pela umidade e o mato crescendo em volta, a construção tornou-se um esqueleto de concreto abandonado. Ali ficaria o hotel ?mais luxuoso da capital paulista?, conforme anunciava há cerca de dez anos a Birmann Engenharia, uma das maiores construtoras da cidade na ocasião. Paralisado desde 2001, o empreendimento é hoje o motivo de uma enorme confusão jurídica envolvendo Rafael Birmann, dono da construtora, a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), que detém 49% do projeto, e a seguradora UBF. Ali foram enterrados US$ 42 milhões sem que um só hóspede tivesse se registrado no hotel. As obras ficarão paradas até que saia a decisão do processo que a Previ moveu contra a seguradora UBF, empresa que tem como acionistas a seguradora Swiss Re e o grupo americano Radian.
A UBF tinha a responsabilidade de garantir o seguro de performance da construção, ou seja se comprometeu a pagar os prejuízos caso o projeto não fosse concluído. Não pagou e a Previ entrou como uma ação de inadimplência contra a UBF. Esta, por sua vez, não quer garantir o andamento das obras porque sabe que a Birmann Engenharia não tem mais recursos para investir no hotel. ?Se tudo tivesse ocorrido normalmente não teríamos problemas. Reconhecemos que existe um valor a ser pago. Mas a primeira pergunta é: para quem devemos pagar? Para a Previ ou para a Birmann? O que queremos é apenas a garantia de que não teremos que pagar duas vezes?, conta José Eduardo Metrado, diretor da UBF. O resumo é que, o que era para se tornar um sofisticado centro de hospedagem numa das regiões mais valorizadas de São Paulo, hoje virou um grande casarão abandonado. ?Toda essa encrenca começou quando o Rafael Birmann resolveu dar um passo maior que a perna. Ele quis investir em algo totalmente novo na hotelaria, mas não conseguiu concluir o investimento?, conta um analista do mercado imobiliário.
Fontes do mercado afirmam que, após assumir que estava endividado, Birmann passou a procurar outras empresas dispostas a colocar mais US$ 12 milhões na obra. Não obteve sucesso. A Previ, presidida por Sérgio Rosa e que já havia investido US$ 28 milhões, não quis nem ouvir falar no assunto. Hoje o processo está em fase de perícia e não tem previsão para ser concluído. A paralisação do Palácio Tangará tem muito a ver com a época em que começou a ser erguido. ?Em 1997, com as privatizações, muita gente achou que era hora de investir em grandes projetos. Mas muito do que era esperado, como o aumento do poder aquisitivo da classe média, não aconteceu. O erro foi de quem investiu mais do que deveria?, explica José Ernesto Marino, consultor da BSH International, empresa de análise imobiliária.Assinado pelo arquiteto Edson Musa, o projeto tinha a ambição de construir um dos poucos hotéis seis estrelas do País, em uma área de 36 mil metros quadrados, com 120 quartos, mais salas para eventos, coffee shop, restaurante, piscina, spa, fitness center, salas de massagens e outros ambientes. O hotel teria a administração do grupo hoteleiro Rosewood, que acabou desistindo do projeto. Meses depois, Birmann tentou negociar com o Four Seasons, bandeira de hotéis que hoje tem como um de seus donos o fundador da Microsoft, Bill Gates, mas novamente não obteve êxito. Ficou sozinho e, agora, a conclusão do palácio está longe do fim.