O Palácio de Buckingham se recusou a empregar “imigrantes negros ou estrangeiros” em cargos administrativos ou de alto nível pelo menos até o final da década de 1960, e obteve isenções para as leis anti-discriminatórias, revelou o jornal The Guardian nesta quinta-feira (3).

O jornal estava investigando o uso do “consentimento real” – procedimento pelo qual a rainha deve aprovar qualquer legislação que afete suas prerrogativas ou interesses antes de que seja debatida pelos deputados – quando descobriu que Buckingham negociou cláusulas que isentavam a monarca e a casa real da lei anti-discriminação de 1968.

Em um memorando dos arquivos nacionais, um funcionário do ministério do Interior relata como um dos assessores mais importantes de Elizabeth II, Lord Tryon, lhe disse que o Palácio não empregava pessoas de minorias étnicas em cargos administrativos.

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Lord Tryon afirmou que o Palácio apoiaria o projeto de lei contra a discriminação racial se houvesse isenções semelhantes às do corpo diplomático, que pode rejeitar um candidato se ele tiver residido no Reino Unido por menos de cinco anos.

Pelo contrário, estava permitido contratar “pessoas negras para trabalhos domésticos ordinários”, segundo a nota. Inclusive hoje, a rainha e a casa real estão oficialmente isentos dessa lei anti-discriminatória.

No entanto, a respeitam “no princípio e na prática”, disse nesta quinta-feira à AFP um porta-voz do Palácio de Buckingham. “Isso é refletido na diversidade, na inclusão e na dignidade” das práticas da família real, destacou.

“Afirmações baseadas em um relato de segunda mão sobre negociações que remontam a mais de 50 anos não devem ser usadas para tirar conclusões sobre como as coisas são feitas hoje”, acrescentou.

Esta notícia chega apenas alguns meses depois de o príncipe Harry, sexto na linha de sucessão ao trono, e sua esposa negra Meghan Markle acusarem a família real de racismo em uma entrevista bombástica à imprensa dos EUA.

Os duques de Sussex afirmaram que um membro não identificado da família real se preocupou com a cor da pele que teriam seus filhos.

Seu irmão, o príncipe William, chamado para ser rei, defendeu a instituição, garantindo que “absolutamente essa não é uma família racista”.