Em nenhum outro mercado do mundo a americana Palm tem uma situação tão confortável como no Brasil. Aqui, a companhia que virou sinônimo de computadores de mão concentra 68% das vendas anuais desse produto contra os 36% que consegue no resto do planeta. Nos próximos dias, a empresa anunciará o início da fabricação local da maior parte da sua linha de produtos. A decisão está ancorada em duas preocupações. A primeira é a concorrência. Nos últimos tempos, a Palm assistiu ao surgimento de competidores locais como a Gradiente, a Metron e a Itautec que usam o sistema operacional Pocket PC da Microsoft, concorrente direto do software da Palm. Ao mesmo tempo, grandes companhias internacionais adotaram uma política agressiva de preços para entrar com força no País. ?Esta é uma vitória do mercado brasileiro de tecnologia?, diz o analista Luis Minoru, do instituto de pesquisas Yankee Group. A multinacional Flextronics, que terceiriza a produção de várias empresas de tecnologia como a Xerox e a Ericsson, irá criar uma linha de produção exclusiva na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, para cuidar dos palmtops à brasileira.

Ter produtos made in Brazil é um antigo projeto da companhia, mas a decisão final só foi tomada no final do ano passado. Desde então, a informação foi cercada de sigilo para evitar a reação da concorrência. Nas últimas semanas, o segredo ficou quase impossível de ser guardado. Executivos da matriz estiveram várias vezes no Brasil
para acompanhar os últimos acertos com a Flextronics e com distribuidores. Os ganhos foram contabilizados na ponta do lápis. Com o início da fabricação local, a Palm conseguirá de imediato uma redução no preço de pelo menos 10% graças à eliminação dos impostos de importação. Sem precisar passar por todos os trâmites burocráticos da alfândega, a companhia terá maior controle sobre a disposição de seus produtos nas prateleiras das lojas especializadas. ?Quem importa geralmente tem dificuldade para atender os pedidos dos lojistas?, diz Marcelo Tavano, diretor de marketing da PlugUse, uma das maiores revendedoras de produtos de informática do Brasil. ?Agora esse problema está resolvido.?

O mundo dos handhelds, como também são chamados estes aparelhos, vive uma competição acirrada. Desde que a Microsoft lançou sua versão para o software que funciona dentro deles em 1998, diversos fabricantes nacionais e internacionais lançaram produtos similares aos palmtops. A disputa fez a Palm perder mercado em todo o mundo. ?A história vai se repetir aqui?, aposta Dante Iacovone, vice-presidente da incubadora de negócios da Gradiente. ?Em um setor altamente competitivo como este, ninguém lidera o mercado com mais de 30%.? Há dois meses a Gradiente lançou o Partner, que une as funções de telefone celular com a de um handheld. Por enquanto, o aparelho está sendo importado da Ásia, mas a produção em Manaus deve iniciar em três meses. A Metron e a HP ainda importam seus produtos, mas a Itautec e a Handspring, que acaba de ser adquirida pela Palm, montam seus produtos por aqui.

Perspectivas. Os maiores consumidores de handhelds são as empresas. Atualmente, é comum encontrar vendedores acostumados a consultar números de telefones e anotar pedidos em um palmtop. Em algumas linhas de produtos, o mercado corporativo chega a representar 70% das vendas, enquanto o varejo para pessoa física fica com os 30% restantes. Essa proporção, contudo, pode mudar com a chegada de produtos mais baratos (o modelo mais simples da Palm custa R$ 399). Ao todo, são 400 mil unidades destes produtos na América Latina, sendo que o Brasil representa por 31% deste volume, de acordo com o Gartner Group. Para a Palm, que já vendeu 21 milhões de unidades na sua história, os dados da região ainda significam pouco e ainda há muito o que crescer. A América Latina tem se mostrado um mercado promissor, que no ano passado já chegou a registrar taxas de crescimento de 15% em um único trimestre. Nos últimos meses, o mercado sofre com a redução dos gastos com tecnologia nas empresas. É isso o que explica o esforço de fabricantes de hardware
em lançar aparelhos portáteis. ?O mercado brasileiro de tecnologia
em 2002 foi menor que em 2001?, comenta João Neves Fernandes, diretor da unidade de computadores da Itautec. ?Mas estamos
firmes nos computadores de mão, setor que ainda tem muito espaço pra se desenvolver.? Quando a situação econômica melhorar nos próximos doze meses ? e nisso HP, Gradiente e Itautec fazem coro ? as vendas de diversos produtos irão retomar seu caminho de crescimento. Nos computadores de mão a curva promete ser mais acentuada. ?Todos os fabricantes estão de olho nos portáteis para expandir suas fronteiras de negócios?, diz Júlio Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, Iedi. A Palm, que criou esse mercado, hoje é mais uma delas. E precisa se adaptar para não perder sua confortável posição.