04/07/2024 - 7:30
“Pamonha!Pamonha!Pamonha!” anuncia a gravação que pode ser ouvida pelas ruas de bairros como Pinheiros, Perdizes e Moema. E sim, “é o carro da pamonha passando pela sua rua”, como informa o áudio. O carro da pamonha, no caso, é um Jeep Renegade, veículo com preço sugerido a partir de R$ 120 mil.
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Ele faz parte de uma frota de oito veículos, sendo sete alugados. Um deles foi flagrado no entorno da Av. Brigadeiro Faria Lima – região que concentra as principais empresas de finanças e tecnologia em São Paulo – e virou meme justamente pelo diferencial de ser um carro de alto padrão vendendo pamonha e afins.
A postagem foi a confirmação de que a estratégia de Henrique, o dono do Jeep da Pamonha, estava funcionando. Foi dele a ideia de usar os Jeeps no lugar da tradicional Kombi ou dos carros populares, mais comumente usados nesse tipo de negócio.
“O carro mais popular ou mais antigo passava outra imagem. Às vezes até uma associação com sujeira e baixa qualidade. Quando mudei o carro, mudou a minha imagem e mudou o negócio”
Henrique Morais Pereira comanda um “spin-off” dos negócios do pai, Seu Miguel, que criou a Pamonhas Arujá. A primeiro opção de um modelo diferente do padrão foi uma Spin. Henrique disse que o impacto foi imediato. Passou a vender o dobro da média de R$ 500 ao dia. Ao ver o resultado, Henrique estava certo de que precisava de mais carros circulando – e todos tinham que ser de categoria melhor.
Como não tinha condições de comprar vários veículos de uma só vez, fez a parceria com a Localiza. E foi assim que a parte de Henrique na Pamonhas Arujá ganhou vida própria e passou a ser Jeep da Pamonha.
“Com o Jeep, o negócio ganhou uma identidade”
Até a produção foi separada dos negócios do patriarca. Mas Henrique diz que não foi por briga. Pelo contrário, ambos se apoiam e eventualmente se socorrem na produção quando preciso.
A separação foi por divergência sobre como conduzir os negócios, o que inclui justamente o uso de carros diferenciados, atuar na região central de São Paulo e até a diversificação de produtos. “Meu pai é muito metódico e prefere continuar fazendo as coisas do jeito dele. Eu já tenho uma cabeça mais aberta para inovações.”
A voz é do patriarca Miguel
A voz da gravação que não sai da cabeça é de Miguel das Pamonhas, o patriarca de uma família que há mais de 40 anos atua no ramo de produtos de milho. Além da pamonha doce, a mais popular, também tem pamonha salgada, curau, suco de milho-verde e bolo de milho.
Por conta da doença de Chagas, o motorista Miguel – com experiência em táxi, ônibus e caminhão betoneira – largou o volante e passou a trabalhar vendendo milho-cozido em uma praça em Guarulhos. Isso no final dos aos 1970.
A clientela começou a pedir por pamonha. Miguel decidiu atender à demanda do público, e aproveitou para mudar seu ponto de venda, trocando o carrinho da praça por uma Kombi que circulava por bairros da Zona Leste e Zona Norte da cidade de São Paulo. E realmente sair da praça e rodar atrás dos clientes funcionou. Miguel chegou a ter mais de 20 veículos circulando.
Como morava em Arujá, batizou o negócio de “Pamonhas Arujá”.
“Arujá era mais interessante de usar do que Guarulhos, que era uma cidade mais conhecida por suas fábricas, e Arujá trazia mais o espírito do interior, o que era interessante pensando em um produto artesanal”
A carreira solo de Henrique mantém uma ligação importante com o negócio original. Ele faz questão de usar a gravação que anuncia os produtos feita por Miguel.
‘Não vendemos gato no saco’
A gravação é, literalmente, marca registrada dos negócios da família. Já teve casos em outros vendedores se apropriaram dela para vender seus produtos, o que pode gerar um processo, alerta Henrique. Mas ele está aberto a negociar algum tipo de parceria.
Moradores de Pinheiros, Vila Madalena, Perdizes, Moema, Jardins, Vila Mariana, Moema, Campo Belo e da região do Aeroporto de Congonhas já estão familiarizados com a voz que anuncia “não vendemos gato no saco”. Isso quer dizer que os produtos não são uma enganação. “Venha conferir! Se não o moço vai embora, e a garotada chora“, é outro bordão característico do áudio que, como uma boa propaganda, gruda na cabeça do consumidor.
Segundo Henrique, apesar de rodar desde 2017 por esses bairros, foi durante a pandemia – com as pessoas em casa – que a gravação ganhou “fama”. A época também foi “financeiramente um período farto”, conta.
Puro suco do milho rende R$ 30 mil por mês por Jeep
Henrique diz que cada Jeep vende em torno de R$ 30 mil por mês. A venda diária varia entre R$ 1 mil e R$ 2 mil. “Em dias de chuva vende menos”, diz. Os motoristas – treinados para o perfil pamonheiro – trabalham com uma meta de vender 100 pamonhas por dia – que custam entre R$ 10 e R$ 15, a depender do bairro e do tamanho – e ganham um percentual sobre as vendas.
Os Jeeps rodam de segunda a sábado, geralmente a partir das 13 horas ou das 15 horas, até por volta das 20 horas. Cada um em uma região, ou território, como ele diz, já pré-estabelecida.
No verão, Henrique amplia esse território até o litoral Norte de São Paulo, estendendo até Paraty e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Já chegou até a internacionalmente famosa Copacabana. Também vai para Florianópolis, Curitiba, Minas Gerais e Espírito Santo (Vitória e Vila Velha).
Além dos Jeeps, os produtos também são vendidos em uma loja física em Guarulhos. Teve que fechar, durante a pandemia, ouras duas unidades, uma em Ubatuba e outra no bairro de Pinheiros.
Hoje ele também aceita participar de eventos – é fornecedor de festas juninas, e de festas em condomínios.
No plano estratégico de Henrique – ainda sem cronograma definido – está uma possível ampliação de pontos de venda, incluindo lojas de conveniência, onde em breve deve instalar máquinas de suco de milho. E, diz ele, se encontrar um investidor, a possibilidade de abrir uma franquia não está descartada. A ideia é também incluir na frota dos Jeeps um modelo elétrico.
Henrique também quer tentar vender novamente em mercados. Na experiência anterior, ofereceu o produto em uma embalagem a vácuo, mas que, segundo ele, não conquistou o público. “As pessoas sentem faltam da palha do milho. Ela faz toda a diferença”. Ele faz questão de ressaltar que seus produtos mantêm o perfil artesanal. A técnica de embalar na palha, por exemplo, pode levar três meses para ser aprendida.
Família ‘pamonheira’
Seis dos nove filhos de Miguel atuam no ramo do milho. Ao todo, a família opera cerca de 50 veículos. Seus irmãos têm em torno de 3 ou 4 carros cada. Um deles usa uma BMW. Outro, um Tiggo.