15/07/2022 - 16:59
Novas manifestações e bloqueios pacíficos de estradas aconteceram no Panamá nesta sexta-feira (15), em protesto contra o aumento da inflação e a corrupção, enquanto o governo e sindicatos negociam, diante do clamor cidadão, para que autoridades reduzam o preço dos combustíveis, alimentos e remédios.
Na Cidade do Panamá, trabalhadores da construção do sindicato Suntracs, o maior do país, se manifestaram por várias ruas e avenidas, algumas das quais foram parcialmente interditadas ao trânsito de veículos com barricadas.
“Aqui estamos em outra jornada de luta das muitas que estamos dispostos a seguir travando se o governo inepto do presidente Laurentino Cortizo não escuta o povo”, disse Gregorio Guerrel, do Suntracs, segundo um vídeo publicado nesta sexta pelo sindicato.
Na via Pan-Americana, que liga o Panamá com a América Central e é vital para o transporte, o comércio e a distribuição de mercadorias para a Cidade do Panamá, os bloqueios de caminhões também continuaram, deixando milhares de pessoas presas.
O país centro-americano vive uma de suas maiores crises sociais desde que, em 1989, caiu a ditadura militar do general Manuel Antonio Noriega após a invasão dos Estados Unidos.
O descontentamento se produz em um cenário de 4,2% de inflação interanual registrado em maio, uma taxa de desemprego de em torno de 10% e um aumento no preço do combustível de 47% desde o início do ano.
A situação provocou o desabastecimento de combustível em algumas áreas do país, enquanto a maioria dos postos de venda ao público do principal mercado de alimentos da Cidade do Panamá se viram obrigados a fechar por falta de produtos.
Em uma tentativa de acalmar os ânimos, Cortizo anunciou a redução e o congelamento dos preços dos combustíveis, que passou de 5,17 dólares o galão de gasolina (3,78 litros) para 3,95 a partir desta sexta, e de uma dezena de alimentos. No entanto, os sindicatos rejeitam essas medidas, consideradas insuficientes.
“Esta geração não tinha vivido uma crise da magnitude desta que hoje domina o nosso país”, assinalou nesta sexta-feira o ex-presidente panamenho, Martín Torrijos. “A convulsão social que estamos vivendo não é o produto de um fato isolado ou dos aumentos conjunturais de combustível e alimentos. É o acúmulo no tempo de demandas desatendidas e uma deterioração evidente da qualidade de vida dos panamenhos”, acrescentou.
O governo e os grupos que impulsionam os protestos retomaram o diálogo em Santiago, informou a Defensoria do Povo panamenha, que atua como mediadora. Na véspera, o presidente social-democrata instalou outra mesa de negociação na Cidade do Panamá, com a mediação da Igreja Católica, mas os sindicatos não participaram.
“Não tenho dúvida de que, com um diálogo sincero, sem agendas duplas, poderemos continuar avançando”, disse ontem Cortizo, que classificou os bloqueios de estradas como “ilógicos”.