LONDRES (Reuters) – Infecções por alguns patógenos resistentes a antibióticos, conhecidos como superpatógenos, mais do que duplicaram em unidades de Saúde na Europa, anunciou uma agência da União Europeia nesta quinta-feira, oferecendo novas evidências de um impacto mais amplo da pandemia de Covid-19.

O relatório do Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) diz que o número de casos reportados de dois patógenos altamente resistentes a medicamentos aumentou em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, depois saltou bruscamente em 2021.

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A alta deriva de surtos em unidades de tratamento intensivo em hospitais e em países da União Europeia onde infecções resistentes a antimicróbios já eram generalizadas, afirmou o funcionário do ECDC Dominique Monnet em uma entrevista coletiva.

Os dados mostram que na Europa no ano passado, os casos reportados de um grupo de bactérias chamado Acinetobacter mais que dobraram em relação aos números anuais pré-pandêmicos. Casos de outra bactéria, a Klebsiella pneumoniae, que é resistente a antibióticos de último recurso, saltaram em 31% em 2020 e em 20% em 2021.

O relatório não inclui dados sobre quantas pessoas morreram das infecções em 2020 e 2021. Especialistas dizem que pode ser desafiador atribuir definitivamente a causa da morte quando pacientes estão hospitalizados com a Covid-19, por exemplo.

Alguns cientistas atribuem a alta em infecções por superpatógenos adquiridas em hospitais durante a pandemia às prescrições mais amplas de antibióticos para tratar a Covid-19 e outras infecções bacterianas em longas internações hospitalares.

Monnet disse que essa é a “hipótese mais plausível”, mas que a agência ainda precisava conduzir uma análise mais minuciosa.

Ele também disse que os dados mostraram quedas em alguns casos de outros superpatógenos em hospitais da Europa. O ECDC acredita que isso aconteceu por conta dos adiamentos em operações causadas pela crise da Covid.

O relatório europeu é consistente com uma tendência notada no ano passado nos Estados Unidos, onde dados do governo mostraram que mortes por infecções resistentes a medicamentos saltaram 15% em 2020.

A resistência aos medicamentos evolui por meio do mal uso ou uso excessivo de antibióticos.

As preocupações em relação a essas práticas não são novas. Especialistas classificam as infecções por superpatógenos, entre eles patógenos fúngicos, como uma pandemia silenciosa que causa mais de um milhão de mortes anuais, mas que não atrai atenções ou financiamentos para pesquisas.

(Reportagem de Maggie Fick)

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