Com uma participação societária que começou no ano de 2024, agora uma família passou a ser a nova acionista de referência do Pão de Açúcar. Os Coelho Diniz se tornaram donos de 24,6% das ações da companhia, então ultrapassando os franceses do Casino, que detém 22,5%.

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Os integrantes já são donos de uma rede de supermercados no leste de Minas Gerais, cujo nome leva o mesmo da família, Coelho Diniz Supermercados. Com 22 lojas e um Centro de Distribuição, o empreendimento começou na década de 1990 em Governador Valadares, e hoje ocupa outros municípios como Ipatinga e Teófilo Otoni.

O movimento de avanço na participação societária teve início ainda neste ano, em fevereiro, quando a família Coelho Diniz passou a ter uma participação relevante no capital do GPA – então gerando comunicados formais e chamando atenção do mercado, o que não ocorria antes.

Isso porque os membros da família mantém uma postura considerada low profile – apesar de alguns terem redes sociais, as aparições públicas são poucas, tal como as entrevistas à imprensa e as conexões com bancos e instituições financeiras atuantes no mercado de capitais, que agora voltam os olhos para os empresários em um momento de influência em um dos principais players do varejo brasileiro.

Os negócios da família não têm números abertos, dado que se trata de uma companhia de capital fechado, todavia o faturamento da rede é estimado em até R$ 3 bilhões anuais – ao passo que o GPA faturou mais de R$ 18 bilhões no acumulado de 2024.

Os acionistas principais são os irmãos André Luiz, Alex Sandro, Fábio, Henrique Mulford e Helton Coelho Diniz.

A entrada dos Coelho Diniz no controle do GPA pode sinalizar mudanças significativas na estratégia da empresa, especialmente em relação à gestão e ao foco no mercado brasileiro. Analistas do setor aguardam para entender como essa transição afetará a operação das marcas Pão de Açúcar, Extra e Assaí, além do impacto nas ações do GPA na bolsa.

A IstoÉ Dinheiro tenta contato com a rede de supermercados Coelho Diniz e seus sócios, mas não recebeu retorno até o fechamento desta reportagem.

Influência na administração do Pão de Açúcar

Agora como maior acionista, a família segue tentando ter uma maior influência nos rumos e no futuro do GPA. Em ocasiões anteriores os acionistas já tentaram aumentar o número de cadeiras no Conselho de Administração e, agora com o aumento da fatia societária, fizeram um novo movimento nesse sentido.

Os irmãos Coelho Diniz pediram convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária para decidir sobre a destituição integral do conselho, e então eleger novos membros.

De acordo com Fato Relevante arquivado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o argumento dos acionistas é a representatividade no conselho, pedindo para que ela seja proporcional à atual participação acionária, “o que se dará por meio da oportuna indicação de pessoas com qualificação técnica, com reforço de competências específicas”.

Participação na política

Além dos negócios em solo mineiro, os membros da família também possuem influência na política.

Alex Sandro Diniz, próximo dos negócios, é suplente do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), que tem mandato até 2031.

Hercílio Coelho Diniz Filho, outro membro da família – esse atualmente distante dos negócios – é  deputado federal pelo MDB de Minas Gerais desde 2018, sendo reeleito nas últimas eleições e com mandato até 2027.

Ele é filho do patriarca da família, Hercílio de Paula Diniz, que fundou a rede junto com ele e mais cinco irmãos.

Ele continua sendo sócio acionista da empresa, conforme indicam seu patrimônio declarado e notícias sobre a estrutura societária do grupo, todavia se afastou da gestão executiva da companhia para assumir seu primeiro mandato como deputado federal.

Antes disso, atuou como Diretor-Presidente do Coelho Diniz até 2018.

Abilio Diniz e o conflito com os franceses

Apesar do nome em comum com Abilio Diniz, a família de mineiros não tem nenhuma relação com o falecido empresário, que já foi controlador do Grupo Pão de Açúcar.

Sua atuação à frente da rede envolve parcerias estratégicas, disputas acionárias e ajustes na governança que marcaram o varejo brasileiro nas últimas décadas. Nos anos 1990, Diniz abriu caminho para a entrada do grupo francês Casino no GPA, que adquiriu uma fatia relevante do capital votante, estabelecendo uma aliança com o objetivo de consolidar a presença da varejista no país.

Essa relação, no entanto, trouxe divergências estratégicas. Ao longo dos anos 2000, a gestão conjunta gerou disputas sobre expansão, aquisições e decisões operacionais, refletindo o embate entre interesses locais e internacionais dentro da companhia.

O ponto de ruptura ocorreu quando Diniz assumiu a presidência do conselho da BRF em 2013, mantendo participação significativa no GPA. O Casino entendeu que havia conflito de interesses e acionou instâncias arbitrais internacionais. Diniz contestou, afirmando que não havia conflito formal, mas o episódio evidenciou as fragilidades na relação entre os acionistas.

Em consequência, Diniz acabou saindo da presidência do conselho do GPA. Desde 2014, a família Diniz mais famosa não possui mais participação acionária do GPA.

Nos últimos anos, Casino reduziu sua participação no GPA, especialmente após a diluição causada por oferta pública de ações – follow-on que reduziu a participação dos franceses de mais de 40% para pouco mais de 20%. O movimento abriu espaço para que outros investidores assumissem fatias maiores, mudando o equilíbrio de poder dentro da companhia.

A entrada de novos acionistas, como a família Coelho Diniz, que ultrapassou o Casino em participação, evidencia que o controle do Pão de Açúcar continua sendo disputado. O Casino, em reestruturação com dívidas volumosas, segue mantendo a intenção de redução na participação societária, mas não tem sinalizado para novas vendas em um cenário de preços baixos para os papéis – na esteira de resultados aquém do esperado, alavancagem e cisão do Assaí e do Éxito.